Que Coreia o Papa encontra? Os esforços da Igreja Católica na terra dividida
Cidade
do Vaticano (RV) - Depois de 25 anos, um Papa visita a Coreia. Qual a atuação
da Igreja Católica no país e como é o seu engajamento social, pastoral e espiritual
junto aos fiéis? Que país o Papa vai encontrar? Ouça, clicando acima.
Apesar
do fim da Guerra Fria, o muro que corre entre as duas Coreias ao longo do paralelo
38 e que separa cerca de 70 milhões de coreanos resiste. Nenhuma fronteira no mundo
é militarmente tão bem equipada. Toda a história da península coreana é uma história
de confronto político e militar. Em 15 de agosto de 1948 nasceu a República da Coreia
do Sul, e logo depois, em 9 de setembro, foi proclamada a República Popular Democrática
da Coreia do Norte, sob a liderança de Kim Il-Sung.
A divisão forçada do país,
que refletia os dois blocos existentes no mundo na época, tornou-se o terreno de conflitos
armados para novo equilíbrio internacional. Em maio de 1950, a Coreia do Sul foi invadida
pelo exército do Norte. O conflito logo se tornou uma guerra geral: os Estados Unidos
desceram imediatamente em campo, respondendo a uma resolução da ONU que pedia ajuda
para o Sul. Em julho de 1953, um armistício sancionou a divisão do país ao longo do
38º paralelo. No fim da guerra, os mortos eram cerca de 400 mil sul-coreanos, 55.000
estadunidenses e talvez um milhão de mortos e feridos da Coreia do Norte e China.
Ver o Norte e Sul unidos é uma esperança que as autoridades eclesiásticas
compartilham com todos os coreanos. “Sem uma pátria eu não existo”, diz a frase inscrita
na pedra de mármore tocada por milhares de turistas estrangeiros, diariamente, no
“Muro de Berlim asiático”. Entretanto, a zona desmilitarizada que divide as duas Coréias
nos arredores do 38º paralelo é para os coreanos uma ferida aberta que fala de morte
e desespero, da separação de um povo pertencente a uma só nação. “Um muro que para
a Igreja nunca existiu, e que uma vez derrubado, estaremos lá para fazer a nossa parte,
como sempre fizemos”, diz Padre Eun Lee Hyung da Diocese de Ui jeong bu, na fronteira.
Mas o desejo de reunificação na península coreana aumenta, e a visita do Papa
Francisco, para os dois povos divididos, é uma oportunidade extraordinária, apesar
da presença de duas ideologias opostas e diferentes influências internacionais.
A
reunificação é uma das missões mais importantes da Igreja local, que trabalha na linha
de frente de um programa de ajuda graças a uma comissão especial para a reconciliação.
Padre Timothy Lee-Eun-Hyung, membro da Comissão, na diocese mais perto da
Zona Desmilitarizada, diz que “a Comissão tem vários objetivos, e o mais importante
é a evangelização da Coréia do Norte, uma vez que não existe liberdade de religião.
Antes de tudo, porém, tentamos trocar notícias do que está acontecendo na Coreia do
Sul e na Coreia do Norte e expressar o amor que sentimos. Outra coisa que fazemos
é ajudar as pessoas que fogem da Coreia do Norte e chegam aqui em péssimas condições.
Nós as ajudamos a se estabelecer aqui, na Coreia do Sul”.
E os planos para
o futuro? De acordo com o padre, um projeto muito importante - e que continuará para
sempre - é prosseguir com a oração comum: “Nós rezamos juntos. Temos, por exemplo,
algumas igrejas perto da Zona Desmilitarizada, onde toda quarta-feira nos reunimos
para orar pelas pessoas e para a Coreia do Norte.
Primeiros sinais de desgelo:
em maio, o arcebispo de Seul atravessou o confim. O Card. Andrew Yeom Soo-jung pisou
na Coréia do Norte para uma breve visita à região industrial de Kaesong, uma área
em que, segundo um acordo entre os dois países, existem empresas e indústrias em que
trabalham com cidadãos de Norte e Coréia do Sul. Na viagem, o Cardeal Yeom, que também
é o Administrador Apostólico de Piongueangue, visitou o complexo, um símbolo da cooperação
entre o Norte e o Sul e deixou aos trabalhadores uma mensagem de encorajamento e esperança.
A zona industrial de Kaesong é o mais recente projeto de aproximação transfronteiriça
entre as duas Coreias, que tecnicamente, após o armistício assinado em 1953, ainda
estão em um estado de guerra.
Uma curiosidade: de acordo com um estudo realizado
pelo Instituto de Pesquisa Hyundai, se a fronteira das duas Coréias fosse cancelada
até o final de 2015 e a península se tornasse um único Estado, surgiria uma superpotência;
a oitava maior economia do mundo até 2050, ultrapassando gigantes como a Alemanha
e a Grã-Bretanha, e com uma renda per capita maior que a do Japão.
Atualmente,
a Coreia do Sul tem a 11ª maior economia do mundo. (CM)