Prossegue avançada de extremistas no Iraque: mundo faça alguma coisa, diz bispo auxiliar
de Bagdá dos caldeus
Bagdá (RV) - A avançada dos Jihadistas no norte do Iraque não dá sinal de arrefecimento.
Apesar dos bombardeios aéreos estadunidenses, as milícias do Estado islâmico (Isis)
conquistaram a cidade de Jalawla. Também a Liga Árabe condenou os recentes massacres
contra a minoria Yazidi acusando o Isis de crimes contra a humanidade. Enquanto isso,
prossegue o caos político em Bagdá com o impasse para a formação de um governo e a
queda de braço entre o Premier al Maliki e o Presidente Fuad Massum.
Após "intensos
combates" o Estado islâmico tomou a cidade de Jalawla, situada a 130Km ao nordeste
de Bagdá, ameaçando assim a fronteira sul da região autônoma do Curdistão. As incursões
estadunidenses contra os jihadistas parecem não evitar a avançada das milícias islâmicas.
Também as forças curdas que estão recebendo armamentos não são capazes de bloquear
as forças do Isis. Por outro lado, permanece grave a situação humanitária de centenas
de milhares de deslocados internos, em fuga das áreas ocupadas pelo "Califado".
Eis
o que nos disse sobre essa situação o bispo auxiliar de Bagdá dos caldeus, Dom Shlemon
Warduni, entrevistado pela Rádio Vaticano:
Dom Shlemon Warduni:- "A
cooperação do mundo é muito inconsistente e veio muito tarde! Também por parte da
Europa, dos EUA, bem como por parte dos cristãos do mundo inteiro. Vocês dizem: "Antes
tarde do que nunca", mas nossa tragédia não foi levada a sério desde o início. Por
isso o Patriarca e nós todos vimos, no início, a falta de atenção do mundo, por ao
menos quase um mês. Por causa disso chegamos a esse ponto. No início, ao menos, falavam
de modo ponderado com os cristãos, mas durou somente alguns dias... Depois, porém,
chegaram a expulsá-los se não se tornavam muçulmanos. E isso se deu não somente em
Mosul, porque quatro adias atrás "esvaziaram" a explanada de Nínive: as crianças,
os anciãos dormem na rua... É uma coisa horrenda! Inclusive, também os EUA chegaram
atrasados... Vemos que estas pessoas semeiam o medo, um grande medo no coração do
povo, que deixa tudo e vai embora. Precisamos de uma ação imediata, agora! Quantas
crianças morreram, quantas mulheres foram espezinhadas, quantos homens foram assassinados!
Por isso, Sua Beatitude diz, e também nós, que o mundo deve intervir logo, imediatamente!
E não Deve vender armas a estes!
RV: Portanto, a situação piorou nas
zonas ocupadas pelo Isis em relação a um mês atrás. O que mudou nestas últimas semanas?
Dom
Shlemon Warduni:- "Primeiro diziam aos cristãos que não fossem embora, porque
alguém no início havia falado com eles nesse sentido... Depois, expulsaram os cristãos
de suas funções públicas no governo, marcaram suas casas com escritas, e mais tarde
gritaram "fora" aos cristãos!... Depois de tudo que aconteceu na explanada de Nínive,
e do medo que conseguiram semear nos corações de todos, assim que percebem que estão
se aproximando, fogem imediatamente, vão embora, um após outro... São milhares: 150-200
mil pessoas encontram-se a céu aberto... A Igreja procurou fazer alguma coisa, encontrar
um lugar: agradecemos a Deus pelo fato de a maioria ter conseguido um teto. Gritamos
ao mundo inteiro: "Por favor, façam alguma coisa! Por favor, não vendam armas!" É
preciso chamar as nações que ajudam esses milicianos e perguntar-lhes: "Vocês estão
com o mundo ou fora do mundo?" Se estão fora do mundo, então devem responder por isso!"
RV:
A falta de uma unidade política em Bagdá tem repercussão? É um problema? Se as etnias
do Iraque se unissem se poderia derrotar o Isis – o Estado islâmico?
Dom
Shlemon Warduni:- "Este é um dos maiores problemas. O governo e todos os outros
partidos que deveriam levar as coisas a sério, discutem somente sobre as poltronas
a serem divididas, ao invés de dizerem "procuremos os curdos e façamos um único bloco
unido que mostre a força do Iraque". Não queremos a guerra! Não queremos assassinar
os outros, mas queremos nossos direitos, queremos a paz! Queremos segurança para nossas
crianças e nossas mulheres, para nossas adolescentes que sofrem maus-tratos. Estas
divisões são uma lacuna na história do Iraque. Se o governo se unisse com os curdos,
com um só coração, certamente as coisas seriam diferentes. Porém, também os EUA, a
Europa devem intervir! Embora os curdos não estejam com o governo..." (RL)