Baabda (RV) – Expulsos do Iraque pelos jihaidistas do Estado Islâmico, muitos
cristãos passaram as fronteiras e agora tentam esquecer seu calvário vivendo ao lado
de seus irmãos libaneses. O arcebispado caldeu no Líbano se encontra na localidade
de Baabda, fora da capital, e se transformou num centro de acolhida para os cristãos
iraquianos que fugiram do país, especialmente da cidade de Mossul.
Nesta
e em outras cidades do norte do Iraque, extremistas sunitas tomaram o controle e ameaçaram
de morte os cristãos que não se converteram ao Islã. Assim, não houve outro remédio
senão a fuga.
A imigração dos cristãos iraquianos, uma constante desde o início
da invasão estadunidense em 2003, teve um incremento depois que no último dia 10 de
junho, os radicais ocuparam Mossul.
“Não sabemos o número exato de iraquianos
cristãos que fugiram do Líbano, pois muitos não se registram, mas calculamos que são
2 mil famílias, desde 2003”, afirma o bispo caldeu de Beirute, Dom Miguel Kassargi.
Descendente de uma família que teve vários membros massacrados pelos turcos no século
passado, o bispo acrescenta que estão fazendo tudo o que podem para ajudar os fugitivos
iraquianos.
Dom Miguel se mostra crítico com a comunidade internacional por
sua inação diante do que está acontecendo no Iraque e em outros países do Oriente
Médio, onde poucos cristãos estão sobrevivendo. No início do século XX representavam
20% da população da região; hoje se estima que são apenas 5%.
Roy Merhab,
encarregado de coordenar a ajuda enviada à sede episcopal para os iraquianos, se declara
‘impressionado’ com o estado em que chegam, desprovidos de tudo, “já que lhes roubaram
tudo o que tinham”.
“Todos têm medo e asseguram que não querem voltar ao Iraque
até que a situação continuar assim”, explica Merhab, explicando que alguns voluntários
distribuem ajudas alimentares e outros hospitalizam os que precisam, inscrevem as
crianças em colégios e oferecem apoio psicológico.
O Governo libanês não
considera os iraquianos refugiados e os trata de modo diferente dos sírios, que fogem
da guerra civil. Aos iraquianos é dado um visto renovável de 15 dias, e alguns são
presos por permanecer ou trabalhar de modo ilegal. “Eles só querem viver de modo digno
e sem medo, e não mendigar”, aponta.
Entretanto, o arcebispado recebe ajudas
de famílias libanesas que levam alimentos e gêneros de necessidade aos refugiados.
Uma doadora, identificada como Claire, relembra o conflito civil que sofreram na pele
entre 1975 e 1990, e declara: “Temos que cooperar porque sabemos o que é uma guerra
e não se pode esquecer que pode acontecer de novo conosco”. (EFE - CM)