Núncio apostólico na Síria: avançada de extremistas constitui perigo para todos
Damasco
(RV) - A Síria continua sendo devastada pela guerra: a situação complica-se ulteriormente
com a avançada dos jihadistas, que querem criar o Califado islâmico em todo o território.
Ao menos 27 militares foram assassinados nesta quinta-feira num ataque jihadista contra
uma base do exército na província síria de Ar Raqqah, ao norte do país.
O quadro
agrava-se com o sequestro de duas voluntárias italianas: desde o início deste mês
de agosto que não se tem notícias do paradeiro de Vanessa Marzullo e Greta Ramelli,
respectivamente, 21 e 20 anos, fundadoras do Projeto Horryaty, que se ocupa de atividades
no setor da saúde.
Entrevistado pela Rádio Vaticano, o núncio apostólico em
Damasco, Dom Mario Zenari, delineou a difícil situação no país do Oriente Médio, evidenciando
que há perigos não somente para os cristãos, mas também para todas as outras minorias
religiosas:
Dom Mario Zenari:- "A situação concernente à segurança e
ao plano humanitário permanece sempre muito crítica em certas zonas mais que em outras:
esta última semana houve bombardeios aos arredores de Damasco, na noite desta quarta-feira
mais três morteiros caíram muito próximos à nunciatura apostólica. Ademais, há zonas
particularmente muito críticas, como no norte, em Aleppo... a zona é ainda muito insegura,
sem falar no nordeste do país, onde se instalou este Estado islâmico."
RV:
As minorias religiosas podem correr perigo com a avançada do Califado islâmico?
Dom
Mario Zenari:- "Como recordei outras vezes, durante o primeiro ano desta revolta
não se viam problemas particulares. Os problemas chegaram no ano seguinte e no terceiro
ano, com a vinda de elementos extremistas ultra-radicais provenientes de fora. Esperamos
que não, mas se este movimento do Estado islâmico se estendesse, então a situação
certamente ficaria muito séria, muito crítica tanto para os cristãos quanto para os
outros, porque estão explodindo também algumas mesquitas. Este conflito tem se desdobrado
num modo impensável; ainda não se sabe como se desdobrará: está ateando fogo no Líbano,
no Iraque..."
RV: Os conflitos provocam a fuga de muitas famílias. Para
onde estão indo refugiar-se? As ajudas humanitárias conseguem intervir com eficácia?
Dom
Mario Zenari:- "No que tange ao êxodo diário do povo, cada minuto uma família
é obrigada a deixar a própria casa, indo para a costa mediterrânea ou até mesmo para
o Líbano. Os cristãos vivem nesta barca de todos. Em alguns casos sofreram de modo
particular com a avançada de extremistas em alguns vilarejos como Maalula, Sadat,
Kassab..."
RV: Como a Síria pode sair de uma situação em que um terceiro
elemento se inseriu no conflito?
Dom Mario Zenari:- "A comunidade internacional
deve considerar seriamente esses problemas que – como se vê – se expandem facilmente
aos vários países da área."
RV: A Síria ganhou atenção da imprensa após
o sequestro de duas voluntárias italianas. A atenção da imprensa ao país pode incentivar
também uma resolução internacional?
Dom Mario Zenari:- "Acrescentou-se
uma desgraça a mais à Síria, que deve enfrentar este cruento e terrível conflito que
está para ser esquecido por várias causas, não por último, porque é também difícil
para os jornalistas virem aqui. É muito arriscado, é preciso manter a atenção para
o problema dessa situação que o povo está vivendo."
RV: Há notícias,
no país, sobre o paradeiro das duas voluntárias sequestradas?
Dom Mario
Zenari:- "É difícil ter notícias porque é uma zona remota: é muito difícil entrar
nessas zonas. Há vários grupos e, por vezes, em luta uns contra os outros. É uma situação
muito complicada." (RL)