Cidade do Vaticano (RV) - Se o banquete
da vida se tornou privilégio de poucos, deveremos refletir e revisar a disposição
que nos leva à celebração semanal da Vida, ou seja, a celebração onde é realizada
a partilha do Pão. A falha não é do Criador.
Em Isaías - a primeira leitura
deste domingo - Deus subverte o “status quo” convidando os pobres a saírem da penúria
e a vivenciarem a partilha da criação. Esse convite é para uma libertação, libertação
da dependência dos produtores de alimentos, daqueles que se assenhorearam dos bens
da criação e exercem poder sobre o direito das pessoas de se alimentarem como Deus,
nosso Pai, pensou, oferecendo-nos uma natureza dadivosa. Deus não quis irmãos explorando
irmãos e matando-os de fome, mas criou tudo para todos.
No Evangelho, Jesus
faz exatamente a vontade do Pai. Não deixa ninguém passar fome. Ao contrário, não
é apenas pródigo com a comida material, mas no futuro se fará nosso alimento, quando
nos der, através do pão e do vinho, seu corpo e eu sangue como alimento eterno.
Mas
vejamos o contexto em que se realiza o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.
São Mateus nos fala, inicialmente, do banquete de Herodes, banquete onde apesar de
se consumir alimentos, não se celebra a vida, mas a morte. Seus comensais estão ali
com o intuito de exercer poder, de pressionar, de jogar interesses. Não pensam no
outro, mas em si mesmos, em se manterem, mesmo a custo do sofrimento e da morte do
inocente. O grande inocente morto nesse banquete herodiano foi João Batista. Sua culpa
foi não aceitar a vida devassa do potentado.
Já o banquete que Jesus proporciona
ao povo se dá a céu aberto e realizado com bastante compaixão, após falar do carinho
do Pai e curar os doentes que ali estavam. É o banquete da Vida, que sacia plenamente
aqueles que dele participam. As desigualdades foram supressas, todos saciados, curados
e amados.
A solução apresentada por Jesus não foi um milagre econômico e nem
religioso, mas a partilha dos bens da Criação.
Em outra passagen do Evangelho,
Jesus diz que aos pobres é revelado o Reino de Deus e eles entendem a mensagem do
Reino. E é verdade! No tocante à partilha dos bens, ninguém entendeu melhor que eles.
Dentro de sua pobreza e até miséria, o pobre sabe dividir o que possui.
Nossas
celebrações eucarísticas deveriam deixar de ser mero ritual e passar a ser aquilo
a que se propõem e que é querido por Jesus, isto é, partilha da Vida. Partilha do
Pão da Vida, que é Jesus e partilha do pão que dá a vida material, partilha essa que
indica a autenticidade de nossa celebração Eucarística.
Ainda considerando
as palavras de Jesus – quem fizer algo ao menor dos meus irmãos, a mim estará fazendo
– podemos ter a consciência de que ao partilharmos com o pobre, mesmo sendo uma pessoa
desconhecida e que jamais a conheceremos, vale a palavra de Jesus. Não importa se
o gesto de partilhar poderá nos tornar mais pobres, importa agradar Jesus e viver
o espírito da segunda leitura: nada nos poderá separar do amor de Deus, seja, bem-estar,
fome, nudez, conforto.
Que nossas Eucaristias realizem de fato o que pretendem:
a partilha da Vida, o sentar-se à mesa, com o irmão, na Casa do Pai.
Como consequência
não haverá mais carentes, sejam materialmente, afetivamente ou espiritualmente.
E
dirão sobre nós: vejam como se amam! E consequentemente, o Senhor aumetará o número
de nossos companheiros. (CA)