Cidade do Vaticano (RV) - Quando abrimos os
jornais, as revistas, ou quando nos introduzimos nas redes sociais, nos deparamos
muitas vezes com “receitas” para se chegar à felicidade, para ser feliz. Quem não
quer ser feliz? O homem nasce para ser feliz. Passamos a vida toda em busca da felicidade.
Mas a pergunta que brota dessa afirmação é o que é a felicidade? Que tipo de felicidade
procuramos? Se formos ao dicionário encontramos entre outras coisas: qualidade ou
estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento,
sucesso. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior.
Existem diferentes abordagens ao estudo da felicidade - pela filosofia, pelas religiões
ou pela psicologia. Filósofos e religiosos sempre se dedicaram a definir sua natureza
e que tipo de comportamento ou estilo de vida levaria à felicidade plena. A felicidade
é o que os antigos gregos chamavam de “eudaimonia”, um termo ainda usado em ética.
Para as emoções associadas à felicidade, os filósofos preferem utilizar a palavra
prazer. Cada um procura a sua receita à medida; alguns através do esforço pessoal
tentando interpretar ao seu modo o que seja a felicidade; outros esperando que algo
aconteça na vida e que a sua vida melhore; para alguns melhorar de vida, seja econômica,
seja social, é ter felicidade, é ser feliz. Cada um busca a sua receita, para usá-la
da melhor forma possível. Nos dias passados, numa entrevista ao jornal argentino
“Clarín”, que realizou um caderno especial sobre os primeiros 500 dias do Pontificado
de Francisco, o Pontífice falou sobre a felicidade. Não deu receitas prontas para
se chegar a ela – pois alguém poderia dizer que ser feliz é algo subjetivo – mas indicou
caminhos, deu conselhos, abriu portas que nos podem levar a encontrar o verdadeiro
sentido de felicidade, de ser feliz. Certamente o Papa não falou isso para preencher
lacunas de “receitas da felicidade”, mas falou de algo que todos nós, podemos ter
e viver. E começa precisamente sobre o sentido de viver. "Viver e deixar viver,
é o primeiro passo para a felicidade", disse o Papa. Como parte do decálogo para a
felicidade recomendou ajudar os outros, pois se "um fica estagnado, corre o risco
de ser egoísta" e como todos nós sabemos "a água estagnada é a primeira que se corrompe".
Francisco aconselhou a mover-se "remansado", ou seja com tranquilida, uma expressão
que utilizou de um clássico da literatura argentina. “Em 'Don Segundo Sombra'
- disse Bergoglio - há uma coisa muito linda, de alguém que relê a sua vida. Diz que
quando jovem era uma corrente rochosa que levava tudo à frente; como adulto era um
rio que andava para frente e que na velhice se sentia em movimento, mas remansado.
Francisco utiliza esta imagem do poeta e novelista Ricardo Guiraldes. Outra das
chaves que Francisco nos oferece nesta ideal busca da felicidade, do ser feliz, está
na “sã cultura do ócio”; a doce arte do fazer nada como dizem muitos. Mas o ócio a
que se refere Francisco é a oportunidade para desfrutar de outros momentos, como uma
boa leitura, dar espaço à introspecção; dar espaço à arte e por que não a brincadeiras
com as crianças. Sim porque brincar com as crianças é uma chave para uma cultura sã.
Nos dias de hoje é difícil para um pai e uma mãe de família quando voltam para casa,
depois de um dia interminável de fadiga no trabalho, encontrar energias e forças para
gastar com os filhos e brincar com eles: muitas vezes quando chegam a casa os filhos
já estão dormindo. Quantos momentos felizes se perdem assim. Na mesma linha Francisco
aconselhou que os domingos devem ser partilhados e vividos em família. “O domingo
é para a família”, disse. Sobre esse ponto sabemos que na sociedade que vivemos está
cada vez mais difícil dar espaço para o domingo em família. Certamente as opções do
domingo fora de casa, com os amigos, com a partida de futebol, com a praia, muitas
vezes são mais convidativas do que passar algumas horas com as crianças e familiares.
São escolhas que com o passar dos anos nos arrependemos de termos feito. Sobre
os jovens, o Papa afirmou que é preciso arranjar uma forma criativa para que eles
consigam um trabalho digno. O trabalho para a juventude de hoje está se tornando um
tabu; uma dificuldade que envolve um exército sem rumo, sem muitas escolhas, sem perspectivas.
Se faltam oportunidades, um dos caminhos é a droga. É preciso dar a eles a dignidade
de um trabalho e a possibilidade de levar o pão para casa, de construir um futuro.
Um conselho ainda do Papa no que diz respeito ao cuidado da natureza; ela merece
toda a nossa atenção. Um aspecto que o Papa frequentemente tem destacado e que
também nesta semana chamou a atenção é o que diz respeito à vida em comum das pessoas,
ao cotidiano: a fofoca. “A necessidade de falar mal do outro indica uma baixa auto-estima
– disse o Papa, é dizer: sinto-me tão em baixo que em vez de subir rebaixo o outro.
Esquecer rápido do negativo é são”, afirmou. Gastamos muito tempo falando dos outros
e não olhamos para o nosso nariz, para o nosso comportamento. Outro conselho foi
buscar ativamente a paz. "Estamos vivendo uma época de muita guerra. Na África surgem
guerras tribais, mas são algo mais. A guerra destrói. E o clamor pela paz é preciso
ser gritado. A paz, às vezes, dá a ideia de quietude, mas nunca é quietude, é sempre
uma paz ativa". Sem entrar nas várias análises que temos sobre o que é a felicidade
podemos percebê-la que ela é formada por emoções e sentimentos, que podem ser derivados
de um motivo específico, de um sonho realizado, de um desejo atendido. O psiquiatra
Sigmund Freud defendia que todo ser humano é movido pela busca da felicidade, através
do que ele denominou princípio do prazer. Porém essa busca seria fadada ao fracasso,
devido à impossibilidade de o mundo real satisfazer a todos os nossos desejos. Para
nós cristãos, e essa é a mensagem do Papa Francisco, a verdadeira felicidade está
em seguir Jesus Cristo, viver o seu amor. A verdadeira felicidade é desfrutar da plenitude
do amor de Cristo: caminho, verdade e vida. (Silvonei José)