Crise na Faixa de Gaza – o comentário do biblista português José Carlos Carvalho que
estudou e viveu na Terra Santa
Na Faixa de
Gaza continua a ofensiva terrestre israelita. Esta ofensiva, lançada na quinta-feira
à noite, surgiu ao fim de dez dias de ataques aéreos israelitas na região, em resposta
ao lançamento de rockets pelo Hamas, segundo afirma o Governo de Israel. De
acordo com fontes médicas palestinianas, em menos de duas semanas foram mortos 260
palestinianos e 1770 ficaram feridos, a esmagadora maioria civis – a ONU estima que
80% dos mortos eram civis, entre os quais dezenas de mulheres e crianças. Do lado
israelita há a lamentar apenas a morte de um civil e de um militar. O Secretário
Geral da Nações Unidas Ban-Ki-moon já pediu o fim das hostilidades dizendo-se alarmado
com os acontecimentos. Segundo a ONU já são quase 100 mil os habitantes da Faixa de
Gaza que têm necessidade de ajuda porque perderam as suas casas devido aos bombardeamentos
. Para compreendermos melhor o que se está a passar na Faixa de Gaza pedimos um
comentário ao biblista português José Carlos Carvalho, professor na Universidade Católica
Portuguesa, que estudou e viveu na Terra Santa:
“Quem lá esteve percebe
que são forças desiguais, que o argumento da segurança é um pretexto, que por um lado
tem alguma razão de ser, mas que também abriu a porta para se ter construído o muro,
se ter recriado um apartheid para os palestinianos. Também é verdade que com esse
muro acabaram os atentados suicidas em Israel. “ “Isto é, quem lá
esteve, e eu tive esse privilégio, percebe que as armas não vão resolver o assunto.
Vão, eventualmente cilindrar e obrigar a uma resignação, mas que não vão resolver
o assunto. Porque a questão está por resolver desde 67 e quem lá estava viu terras
serem-lhes tiradas e a continuarem a ser tiradas, a criarem colunatos em terras que
não são dos próprios. Isso causa uma revolta enorme que depois explode ... e depois
é sempre o velho discurso de que nós atacamos porque a culpa foi sempre do outro.
“ “Não é com a lei das armas com a força da violência que se resolve
e vemos que a população está completamente desamparada. Portanto, num lado e no outro
não há o sentido da democracia. E quando isso não há, todos os argumentos são passíveis
de ser usados e apresentados como pretexto para justificar aquilo que é injustificável
mas que obviamente convém sempre justificar.” (RS)