Card. Tauran: "Os muçulmanos são nossos irmãos e irmãs. O futuro depende da coesão
entre estas duas religiões"
Cidade do Vaticano
(RV) – “Cristãos e muçulmanos são irmãos e irmãs da única família humana”. É o
que afirma o Cardeal Jean-Louis Tauran, Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo
Inter-religioso, na mensagem por ocasião do ‘Id al-Fitr’, a conclusão do mês do Ramadã.
O purpurado sublinha que cristãos e muçulmanos são chamados a rezar e agir pela reconciliação
e pela paz. Ouçamos o que ele disse aos microfones da Rádio Vaticano:
Card.
Tauran: “Somos todos seres criados e nos reconhecemos como irmãos e irmãs da
grande família humana. Diante das situações dramáticas e das incertezas do futuro,
nós reconhecemos os muçulmanos como irmãos e irmãs, e o futuro depende da coesão desta
família humana, da colaboração entre estas duas religiões. Os cristãos e muçulmanos
vivem situações diferentes, mas vivem e sofrem juntos. Houve aquele bonito discurso
do Papa João Paulo II em Kadouna, na Nigéria, em 1982, quando disse: ‘Vivemos sob
o mesmo sol, adoramos o Deus único’. Acredito que a fraternidade entre muçulmanos
e cristãos seja importante, porque esta é a prova do fato de que não são as religiões
a origem das situações de incompreensão e de fechamento às quais assistimos. As religiões
trabalham pela paz, o diálogo, a fraternidade. O problema são os seus seguidores.
Nós devemos perseverar mais do que nunca no caminho do diálogo e não perder nenhuma
ocasião de construir pontes, lá onde vivemos”.
RV: Quais são os
seus sentimentos diante do que está acontecendo no Iraque?
Card. Tauran:
“De grande preocupação. Não podemos não nos escandalizar quando vemos que os direitos
fundamentais da pessoa humana são pisados, quando vemos que o ódio destrói tudo aquilo
que foi construído a preço de tantos sacrifícios. Tudo isto é muito triste. Nós desejamos
que, reforçados nas suas convicções graças ao Ramadã, os nossos irmãos muçulmanos
sejam capazes de encontrar os caminhos que lhes permitam de unirem-se a quem se compromete
em fazer prevalecer o respeito e a generosidade sobre o ódio e sobre a violência.
Na fraternidade, é nosso dever também rezar pelos responsáveis das sociedades para
que nos seus corações se propague a sabedoria e a inteligência necessárias para resolver
estes problemas”.
RV: De que modo cristãos e muçulmanos podem dar-se
uma esperança e um conforto comum diante desta grande violência?
Card. Tauran:
“Na vida cotidiana, cristãos e muçulmanos vivem juntos, trabalham juntos... O problema
nasce quando as ideologias vem transformar esta atmosfera. Eis porque é necessário
infundir estes valores a partir da família, da escola, da igreja, da mesquita, estes
valores que são o respeito pela pessoa humana, o respeito pela vida, o respeito pela
propriedade dos outros... E depois, no que tange aos responsáveis pela sociedade,
é necessário respeitar as leis internacionais. Nós temos muitíssimas Convenções que
nos permitem resolver cada problema sem recorrer ao uso de armas”.
RV:
Na sua opinião, as ideologias estão ganhando terreno, hoje, em particular no Oriente
Médio?
Card. Tauran: “Sim, sem dúvida. Está em andamento uma radicalização
das posições o que é muito perigoso. Nos encontramos em um impasse: ao invés de seguir
em frente, andamos para trás. Eu acredito sempre na força do direito internacional,
que frequentemente é um valor subestimado. Se foram assumidos compromissos, é necessário
mantê-los. Acredito que nós, enquanto crentes, temos dois instrumentos magníficos
que Deus nos deu: a inteligência para compreender e o coração para amar, para transformar
o mundo. Porém, é necessário fazer isto todos juntos”. (JE)