Terra Santa: auxiliar de Jerusalém relata drama da população após ataques
Herusalém - (RV) - Massacre e tragédia. É difícil definir de outra forma a
situação na Terra Santa. Na Faixa de Gaza a morte está presente todos os dias e, entre
lançamentos de foguetes e bombardeamentos, a população vive acuada e com medo constante.
A diplomacia internacional invoca uma trégua entre Palestina e Israel e as Nações
Unidas condenaram o laçamento de foguetes contra o território israelense. No entanto,
homens, mulheres, crianças e famílias inteiras de Beit Lahya, ao norte de Gaza, foram
obrigadas a fugir de suas próprias casas, sem bagagem e sem comida, para não sucumbirem
no enésimo ataque do exército israelense.
Uma situação insustentável referida
pelo Papa Francisco neste domingo, 13, logo após o Ângelus. “As partes interessadas
e todos quantos têm responsabilidades políticas em nível local e internacional, não
economizem orações e algum esforço para fazer cessar cada hostilidade e conseguir
a paz desejada para o bem de todos," disse o Pontífice.
O Bispo-auxiliar de
Jerusalém, Dom William Shomali, concedeu entrevista à agência de notícias Zenit para
relatar a situação vivida pela população da Terra Santa. Ele disse que tudo o que
está acontecendo é uma reação ao sequestro e à morte de 3 jovens judeus, em Hebron.
"O governo de Benjamin Netanyahu atribuiu este homicídio ao partido Hamas e reagiu
com uma exagerada busca aos criminosos, com numerosas prisões, inclusive de ex-detentos.
Neste meio tempo, um jovem palestino de Jerusalém foi raptado e queimado vivo por
alguns colonos israelenses," disse Dom William.
Estes fatos criaram um círculo
vicioso de violência. O exército israelense atacou as bases do Hamas e da Jihad Islâmica
em Gaza. A Jihad Islâmica respondeu com o lançamento de mísseis, chegando a acampamentos
vizinhos às cidades de Haifa, Tel Aviv e Jerusalém. Estes mísseis, conhecidos pelas
suas imprecisões, causam mais barulho e medo do que destruição. Para os palestinos
o balanço é pesado: 170 mortes, mil feridos e muitas casas destruídas em Gaza e nos
territórios palestinos.
Para Dom William, a razão principal do conflito é o
"falimento do processo de paz do último mês de abril. O Secretário de Estado Americano,
John Kerry, depois de nove meses de trabalho intenso, não foi bem-sucedido ao redigir
um quadro político para as futuras negociações. Tal desconfiança gerou, no coração
dos palestinos, um desespero, agravada depois da contínua construção de novos assentamentos
israelenses. Estas construções são vistas como uma causa bélica contínua. A isto junta-se
a tensão religiosa entre os dois povos."
O Bispo-auxiliar de Jerusalém também
disse que "a visita do Papa Francisco à Terra Santa suscitou muitas esperanças, seguidas,
porém, de muitas desilusões. Uma coisa semelhante aconteceu depois da peregrinação
de João Paulo II em 2000. Apenas 6 meses depois da sua visita começou a segunda Intifada.
Em ambos os casos, a violência iniciou devido ao fracasso nas negociações. Em relação
ao encontro de oração nos Jardis Vaticanos, repito o que disse neste domingo o Santo
Padre no seu apelo: a oração sempre traz frutos, mesmo que a longo prazo. Como o caso
da oliveira plantada ao final do encontro, cuja floração demora muitos anos. As palavras
do Papa Francisco durante a Invocação pela Paz permanecem válidas como única via adequada
em direção à paz."
Dom William Shomali enfatiza que "os jovens são as vítimas
deste conflito, sem esquecer as crianças, frágeis e traumatizadas pelos bombardeamentos
e o medo. As conseqüências se farão ver no futuro, pois agora cultivam o ódio e o
desejo de vingança. O ódio foi nutrido ao longo de muitos anos e um coloca a culpa
no outro.Esta falsa retórica não ajuda. O ódio pode ser eliminado somente através
da educação para os valores de justiça, paz e reconciliação. Mas a educação deve coincidir
com passos concretos, dando a cada parte os seus direitos: aos palestinos, dignidade
com um estado viável e, aos israelenses, a segurança e o reconhecimento pelo mundo
árabe e islâmico."
Em relação aos Cristãos da Terra Santa, Dom William Shomali
diz que sofrem como todos os outros, temendo o agravamento da situação e as conseqüências
sociais e econômicas. Rezam pela paz e em sua grande maioria refutam a violência.
"É raríssimo vê-los nas praças a recorrerem à violência. São também os mais frágeis
e débeis à tentação de emigrar. Durante a última intifada, tantos jovens e tantas
famílias Cristãs deixaram a TerraSanta para buscar uma outra via mais segura e digna.
É difícil para eles resistirem a esta tentação. É difícil para nós convencê-los a
não abandonarem estes lugares e a fazê-los entender que viver aqui é um privilégio
e uma vocação. Estamos próximos a eles com a oração e a ajuda humanitária, conclui
o prelado. (EF)