A saudação de Francisco aos marítimos em dificuldade e longe de casa
Cidade do Vaticano (RV) – No final da oração do Angelus, na Praça S. Pedro,
o Papa Francisco recordou a celebração, neste dia 13 de julho, do “Domingo do Mar”
com as seguintes palavras:
“Dirijo o meu pensamento aos marítimos, aos pescadores
e a suas famílias. Exorto as comunidades cristãs, em especial as litorâneas, para
que estejam atentas e sensíveis em relação a eles. Convido os capelães e os voluntários
do Apostolado do Mar a continuarem seu empenho no cuidado pastoral desses irmãos e
irmãs. Confio a todos, especialmente os que se encontram em dificuldade e longe de
casa, à materna proteção de Maria, Estrela do Mar.”
O Pontifício Conselho da
Pastoral para os Migrantes e os itinerantes se ocupa de diversas realidades dos marítimos,
que incluem os problemas envolvidos com as migrações, o tráfico de pessoas, a pirataria,
a rejeição aos ciganos, o turismo, entre tantos outros. Através de encontros internacionais,
congressos e mensagens temáticas, o dicastérico vaticano chama a atenção da opinião
mundial para estes fenômenos que dizem respeito a toda a humanidade. O Presidente
do dicastério dos Migrantes e Itinerantes, Cardeal Antonio Maria Vegliò, foi entrevistado
pelo jornal L’Osservatore Romano.
OR: Neste domingo, celebra-se o Dia
Mundial do Mar. Por que foi necessário dedicar aos marítimos um dia mundial?
Dom
Vegliò: “O mundo dos marítimos ainda é desconhecido por muitos. É uma “humanidade”
de 1.200.000 pessoas embarcadas em centenas de milhares de naves que cruzam os oceanos
do mundo e vivem afastados dos nossos olhos, ignorados pela sociedade em geral, mesmo
quando transitam pelas nossas portas. O objetivo principal do Dia Mundial do Mar,
que é celebrado não somente no âmbito católico, mas também por outras denominações
cristãs, é o de sensibilizar sobre a importância do trabalho desenvolvido pelos marítimos
pela nossa sociedade e sobre o débito que esta tem em relação a eles, pois ‘dependemos
deles’ para transportar quase tudo aquilo de que temos necessidade para a indústria
e o fornecimento alimentar ou para tornar mais fácil a nossa vida”.
OR:
É verdade que a profissão deles é considerada entre as mais perigosas do mundo?
Dom
Vegliò: “Sim, é verdade. São tantos os contratempos e perigos que eles devem
enfrentar cotidianamente e, mesmo se não parece, o perigo maior atualmente é o da
pirataria. Nos anos recentes a opinião pública tomou conhecimento dos numerosos casos
de seqüestro com o objetivo de resgate de muitos navios no Golfo de Aden. Agora, naquela
zona, o fenômeno reduziu-se drasticamente, também pela presença de guardas armados
a bordo, não obstante o problema não estar totalmente debelado. Nos últimos meses,
porém, observou-se um recrudescimento do fenômeno, com um caráter mais violento no
Golfo da Guiné. Não devemos esquecer que a pirataria continua a agir em modos diversos
também no Estreito de Malacca e em muitos portos da América do Sul”.
OR:
Foi pensada alguma estratégia para auxiliar as vítimas da pirataria marítima?
Dom
Vegliò: “Nós não podemos enfrentar os ataques dos piratas, porém, certamente
quem vive esta experiência, representa para nós uma pessoa a ser socorrida. Além da
real possibilidade, e sempre maior, de serem feridos ou mortos, as equipes frequentemente
sofrem efeitos psicológicos prolongados que comprometem a sua capacidade de trabalho.
O Apostolado do Mar tem um forte compromisso de solidariedade oferecendo assistência
material e espiritual não somente aos marítimos vítimas da pirataria, mas também às
suas famílias que, num certo sentido, tornam-se reféns da situação e frequentemente
devem enfrentar esta experiência sozinhas, pagando um preço enorme em termos de trauma
trauma psicológico e suas conseqüências”.
OS: O senhor acenou ao
problema do tráfico de pessoas, um fenômeno que preocupa muito o Papa Francisco, assim
como o problema das novas formas de escravidão. O Pontífice recentemente referiu-se
também ao povo cigano...
Dom Vegliò: “Foi durante a audiência de
5 de junho passado, quando observou o quanto é necessário elaborar novas formas de
abordagens no âmbito civil, cultural e social, como também nas estratégias pastorais
da Igreja, para fazer frente aos desafios que emergem das formas modernas de perseguições,
de opressão e, às vezes, também de escravidão, às quais estão sujeitos os ciganos.
Acentuou, desta forma, um fenômeno de caráter global. Respondemos convocando um congresso
mundial para discutir sobre isto”.
OR: E a que conclusões chegaram?
Dom
Vegliò: “Seria óbvio falar da necessidade de superar desconfianças e preconceitos
que todos conhecemos. Menos conhecida, talvez porque menos evidente, é a discriminação
espiritual que sofre este povo, que também é dolorosa e certamente deve ser superada.
Muitas vezes os ciganos não são bem vistos nas nossas próprias paróquias e nas nossas
igrejas, como em todos os lugares são dificilmente aceitos pela sociedade. É necessário,
portanto, comunidades paroquiais abertas e capazes de assegurar um encontro fraterno
e sincero, com o objetivo de oferecer uma acolhida que vem da fé”.
OR:
O início do verão europeu leva, inevitavelmente, a falar do fenômeno turístico. Entre
outras coisas, o seu discastério deu a conhecer, justamente na manhã de sexta-feira,
11, a mensagem para o Dia Mundial do Turismo...
Dom Vegliò: “O Dia
Mundial do Turismo será no dia 27 de setembro. Como tema de reflexão foi escolhido:
“Turismo e desenvolvimento comunitário”. O argumento foi sugerido pela Organização
Mundial do Turismo (OMT), que no seu Código Mundial de ética explica como as comunidades
de destino podem colher do turismo benefícios econômicos, sociais e culturais, com
a criação de postos de trabalho. Foi estimado que o seu aporte a nível mundial representa
de 3 a 5 % do PIL, que oferece entre 7 e 8% dos postos de trabalho e representa 30%
das exportações de serviços. E são números destinados a crescer. De fato, as estatísticas
da OMT registraram em 2013 um número de turistas internacionais de cerca de 1 bilhão
de pessoas. É essencial,porém, que os benefícios econômicos gerados pela indústria
turística atinjam todos os setores da sociedade, as comunidades e as famílias, levando
benefícios culturais, respeito recíproco, colaboração e tolerância. Tudo isto entra
no pensamento do Papa Francisco, pelo qual a dignidade do homem está ligada ao trabalho.
A Doutrina Social da Igreja se aproxima à noção de “desenvolvimento comunitário” falando
de um “desenvolvimento humano integral”, por um progresso equilibrado, sustentável
e respeitoso do ambiente”.