2014-07-10 12:42:10

Sudão do Sul: tragédia humanitária a três anos da independência


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No dia 9 de Julho de há três anos o Sudão do Sul se tornava oficialmente independente. O país mais jovem do mundo está à beira de uma catástrofe humanitária, dividido pelo conflito que, a partir do passado mês de Dezembro, opõe o Presidente Salva Kiir, da etnia Dinka, ao seu ex-vice Riek Machar, da etnia Nuer. Seis meses de guerra já causaram pelo menos 10 mil mortos e um milhão de refugiados, numa população de 8 milhões de habitantes. Rico em petróleo, o Sudão do Sul vê-se confrontado com o drama da carestia que ameaça 900 mil crianças. Para um testemunho, David Maggiore contactou telefonicamente em Juba Enrica Valentini, directora da Catholic Radio Network, uma rede rede de estações católicas promovida pela Conferência Episcopal local:

A situação, obviamente, não é cor-de-rosa e muitas pessoas estão desanimadas: todas as esperanças que tinham com a independência, de que o país pudesse melhorar e desenvolver-se, se dissiparam. O que as pessoas temem, portanto, é que não haja nenhuma solução rápida para o conflito e as diferenças existentes entre os diferentes actores no jogo. Mas há também - por outro lado - gente que ainda tem esperança: muitos disseram que ainda há o desejo de uma mudança. Sem dúvida, este aniversário da independência é um momento de reflexão para todos. O tema que foi escolhido para este dia este ano é "One people, one nation - Um povo, uma nação" é um convite a todos a recordar a ideia que a independência veio para unir as pessoas.

Acenámos a crise em curso: qual parece ser, sob o vosso ponto de vista, a situação política do país?

A impressão é que não há realmente vontade de sentar e discutir. Quanto aos resultados que por agora chegaram das negociações em Adis Abeba, são muito mais no papel e bem pouco na prática: cada uma das partes permanece fixa nas suas próprias ideias, nas suas próprias decisões ... Outro elemento é que, nas últimas semanas, surgiu uma grande discussão sobre o federalismo, visto como uma das possíveis soluções para a situação política: mas há realmente pouca clareza entre a população - mas também a nível político - sobre o que significa efectivamente o federalismo. E isto acentuou a tensão recentemente.
Neste contexto, o que pode fazer a Igreja?

Continuar a enfatizar o significado da palavra "unidade" e isto ela pode fazer com palavras, mas também com o exemplo. Creio que também a cooperação entre as diversas igrejas, que tem sido realizada ao longo dos anos, mas também nas conversações de paz, é um exemplo prático que as pessoas podem ter em mente e depois replicar na vida quotidiana.
Recentemente chegaram alarmes do Sudão do Sul sob o ponto de vista humanitário. Segundo uma série de organizações não governamentais britânicas, ha risco de carestia ....
Sim! Toda uma série de diferentes elementos levaram ao agravamento da situação. A estação das chuvas é o momento em que as pessoas começam a cultivar, mas esta estação chuvosa não foi aproveitada ao máximo, porque a gente não recebeu as sementes e ferramentas que normalmente são distribuídas. O outro elemento é o que se refere aos deslocados internos, que deixaram os seus campos e agora não há ninguém que os possa cultivar. Muitos estão em acampamentos, mas têm medo de sair para cultivar a terra, porque temem represálias. Em outras áreas, a chuva não veio abundantemente como de costume e, portanto, também as culturas, que poderiam ter iniciado, sofrem com a falta de chuva.

Fica contudo o problema das relações com o Sudão do Norte, com Cartum: como afectam a situação do Sudão do Sul?

É difícil de entender ... Oficialmente, o Sudão se pronunciou a favor de uma solução pacífica, de modo que a zona possa permanecer estável, porque isto favorece também os seus interesses económicos; mas, por outro lado, tem havido rumores de apoio a várias milícias e mesmo lá não é assim tão fácil perceber se são milícias ligadas ao governo de Cartum ou aos vários movimentos anti Cartum e que, no entanto, estão no Sudão.

Entretanto, a ex-chefe da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) Hilde F. John acusou a liderança SPLM (Movimento de Libertação do Povo do Sudão) em todas as suas facções (os que estão dentro ou fora do governo, os que foram libertados da prisão ou no mato) de serem os responsáveis ​​da crise em curso no país. Durante o seu briefing de despedida aos media no Aeroporto Internacional de Juba nesta terça-feira advertiu que os resultados de décadas de luta poderiam ser perdidos, porque o país está agora em grave risco, não só de luta, mas também de fracassar.


A chefe da UNMISS lamentou ainda a terrível destruição de cidades e propriedades, dizendo que as divisões e as feridas são mais profundas do que nunca e o abismo entre as comunidades é profundo e a animosidade pior do que nunca na história do Sudão do Sul. Ela apontou que o tecido social está sendo dilacerado e o projecto da construção da nação que foi extremamente difícil desde o começo agora seria mais difícil do que nunca descrevendo-o como um "retrocesso de décadas”. RealAudioMP3








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