A Semana do Papa – uma síntese das principais atividades de 30 de junho a 6 de julho
No dia em
recebeu Filipe VI, Rei de Espanha e a Rainha Letizia o Papa Francisco afirmou na Missa
em Santa Marta que “há mais cristãos perseguidos hoje do que nos primeiros séculos”.
Foi na segunda-feira, dia 30 de junho, dia em que se faz memória dos Mártires da Igreja
Romana, cruelmente assassinados no ano 64 na colina do Vaticano por ordem do Imperador
Nero após o incêndio de Roma. Nesse dia o Papa Francisco chamou a atenção para o testemunho
dos cristãos, especialmente, dos mártires:
“Hoje há tantos mártires na
Igreja, tantos cristãos perseguidos. Pensemos no Médio Oriente, cristãos que têm que
fugir das perseguições, cristãos assassinados pelos seus perseguidores. Também os
cristãos mandados embora em modo elegante, com luvas brancas: também isto é uma perseguição.
Hoje há mais testemunhas, mais mártires na Igreja do que nos primeiros séculos. E
nesta Missa, fazendo memória dos nossos gloriosos antepassados, aqui em Roma, pensemos
também nos nossos irmãos que vivem perseguidos, que sofrem e que com o seu sangue
fazem crescer a semente de tantas Igrejas pequeninas que nascem. Rezemos por eles
e também por nós.”
Nesta semana teve lugar no Vaticano mais uma ronda
de encontros do Conselho de Cardeais, concretamente entre os dias 1 e 4 de julho.
Um Conselho de Cardeais que passou a ser noticiado pela imprensa com a sigla C9, pois
passou a ter nove membros, visto que conta também com a presença do Secretário de
Estado, Cardeal Pietro Parolin.
Nos encontros desta semana foram abordados
temas como o Governatorato, a Secretaria de Estado, o IOR - Instituto para as Obras
de Religião e o futuro de alguns organismos vaticanos. Destaque para a análise sobre
o papel dos 'leigos’ e da ‘família'. Ouçamos o Padre Federico Lombardi, Diretor da
Sala de Imprensa da Santa Sé a este propósito num briefing com os jornalistas na sexta-feira,
dia 4:
"O ponto interessante que foi objeto de reflexão, foi, sobretudo,
a contribuição e o papel dos leigos, das pessoas casadas e das mulheres neste contexto
e nestes organismos, ou neste organismo, dependendo de como o projeto continuará a
desenvolver-se. De momento, não existe nenhuma decisão sobre as formas do organismo,
da estrutura, visto que se continua com aprofundamentos que de seguida se vão inserir
no quadro mais complexo da reforma da Cúria. Portanto, atualmente, não há uma decisão
sobre as formas do dicastério ou dos dicastérios, sobre estes temas."
Outros
temas abordados nestes dias foram as nunciaturas e o seu trabalho, a escolha dos núncios
e ainda os procedimentos para a nomeação dos bispos. Não foi tomada nenhuma decisão
específica, mas foi dado espaço à troca de opiniões. Sobre o ambiente destes encontros
o P. Lombardi afirmou que existe uma “grande satisfação pelo clima que se estabelece"
acrescentando ser importante nestas reuniões “ a liberdade de expressão e a sinceridade”:
"Eles insistiram nesta caracterização, ou seja, sobre a liberdade de
expressão, sobre a sinceridade com a qual os membros manifestam os seus pensamentos,
e também sobre a cordialidade e a sincera apreciação recíproca. O Papa insere-se com
naturalidade nesta dinâmica de diálogo, intervindo e favorecendo a liberdade de expressão
e o desenvolvimento do diálogo. É claro que se trata de um Conselho que faz propostas
e depois o Papa conserva a sua autoridade e liberdade de decidir."
O
P. Lombardi deixou claro neste briefing que de momento não se pode falar da existência
de um esboço da nova Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana, pois existe ainda
caminho para se fazer e contributos e aprofundamentos específicos para serem apresentados.
No
dia 5 de Julho, sábado, o Papa Francisco esteve na região italiana do Molise em visita
pastoral. Desde logo, teve de manhã um encontro com o mundo do trabalho na Aula Magna
da Universidade de Campobasso:
Nas palavras ali pronunciadas, o Papa começou
por realçar o significado que assumia que este encontro tivesse lugar na Universidade:
“exprime a importância da investigação e da formação, também para dar resposta às
complexas questões que a atual crise económica coloca, tanto no plano local, como
a nível nacional e internacional.”
Em alusão a quanto dissera um representante
do mundo rural, o Papa reafirmou uma vez mais a necessidade de “proteger” (defender,
cuidar da) terra. “Este é um dos maiores desafios da nossa época: convertermo-nos
a um desenvolvimento que saiba respeitar a natureza criada”. Comentando a intervenção
de uma operária, mãe de família, o Papa agradeceu o seu testemunho e o apelo por esta
lançado a favor do trabalho e da família.
“Trata-se de procurar conciliar
os tempos do trabalho com os tempos da família. É um ponto crítico, um ponto que nos
permite discernir, avaliar a qualidade humana do sistema económico em que nos encontramos”.
Foi neste contexto que o Papa colocou a questão do “trabalho dominical, que
(observou) não diz respeito apenas aos crentes, mas todos, como escolha ética”:
“A
pergunta é: a que é que queremos dar prioridade? O domingo livre do trabalho – excetuados
os serviços necessários – está a afirmar que a prioridade não é o elemento económico,
mas o humano, o gratuito, as relações não comerciais mas sim familiares, amigáveis,
para os crentes também a relação com Deus e com a comunidade. Chegou porventura o
momento de nos perguntarmos se trabalhar ao domingo é uma verdadeira liberdade”.
Seguidamente, o Papa Francisco celebrou a Eucaristia num antigo estádio da
cidade de Campobasso. Na homilia, o Papa sublinhou “dois aspetos essenciais da vida
da Igreja: um povo que serve a Deus e um povo que vive na liberdade que Ele lhe dá.
“Antes de mais, nós somos um povo que serve a Deus. O serviço a Deus realiza-se em
diversos modos, em particular na oração, no anúncio do Evangelho e no testemunho da
caridade. E o ícone da Igreja é sempre a Virgem Maria, a serva do Senhor”.
“O
testemunho da caridade é a via mestra da evangelização. Nisto, a Igreja sempre esteve
na primeira linha, presença materna e fraterna que partilha as dificuldades e as fragilidades
das pessoas”.
“Há que colocar a dignidade da pessoa
humana no centro de todas as perspetivas e de todas as ações. Outros interesses, mesmo
legítimos, são secundários”.
Finalmente, uma referência ao segundo
aspeto inicialmente acenado: a liberdade do povo de Deus. “A Igreja é livre na liberdade
de Deus, que se concretiza no amor”.
“É esta a liberdade que, com a graça
de Deus, experimentamos na comunidade cristã, quando nos colocamos ao serviço uns
dos outros. Então o Senhor liberta-nos de ambições e rivalidades, que ameaçam a unidade
e a comunhão. Liberta-nos do desânimo, da tristeza, do medo, do vazio interior, do
isolamento, das nostalgias, das lamentações”.
“Os discípulos
do Senhor, embora permanecendo sempre débeis e pecadores, estão chamados a viver com
alegria e coragem a própria fé, a comunhão com Deus e com os irmãos e a enfrentar
com fortaleza as fadigas e as provações da vida”.
No final da Missa
o Papa Francisco encontrou-se com pessoas doentes. Como habitualmente nas suas viagens,
o Santo Padre almoçou com pobres, assistidos pela Cáritas, ainda na cidade de Campobasso.
Da parte da tarde esteve com os jovens das dioceses de Abruzzo e do Molise
e com os presos de Isérnia. Aí deu início ao Ano Jubilar Celestiniano, no 8º centenário
do nascimento de São Celestino V.
No Angelus deste domingo o Papa Francisco
afirmou que é preciso dar alívio e conforto aos nossos ‘irmãos’:
“Uma
vez recebido o alívio e o conforto de Cristo, somos chamados a tornarmo-nos alívio
e conforto para os irmãos, com atitude humilde e mansa, imitando o Mestre. A mansidão
e a humildade do coração ajudam-nos suportar a carga dos outros, mas também a não
fazer pesar sobre eles as nossas visões pessoais, os nossos juízos ou as nossas críticas
ou a nossa indiferença.”
E com o Angelus deste domingo terminamos esta
síntese das principais atividades do Santo Padre que foram notícia de 30 de junho
a 6 de julho. Esta rubrica regressa na próxima semana sempre aqui na RV em língua
portuguesa. (RS)