2014-07-02 12:52:46

Mensagem à III Conferência de Revisão da Convenção sobre minas antipessoais em Maputo


Mensagem enviada pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, em nome do Papa Francisco, ao Presidente da 3ª Conferência de Revisão da Convenção sobre a Proibição do Uso, Armazenamento, Produção e Transferência das Minas Antipessoais e sobre a sua Destruição, realizada em Maputo de 23 a 27 Junho.


O recurso às armas è uma derrota para todos

Senhor Presidente,

É com grande alegria e consideração que o Papa Francisco aproveita a oportunidade da realização da 3ª Conferência da Revisão da Convenção sobre minas antipessoais para se dirigir, através de Vossa Excelência, a todos os Estados signatários, às Organizações internacionais e à sociedade civil. Seja-me permitido exprimir de modo particular a minha solidariedade e o meu afecto a todas as vítimas das minas antipessoais. Eles trazem no seu corpo e na sua vida, os sinais de uma arma desumana, uma arma irresponsável, uma arma de cobardes. As feridas nos recordam que o recurso às armas em geral, e às minas em particular, representa uma derrota para todos.

Esta conferência de revisão é uma oportunidade para voltar ao trabalho considerável já feito e para olhar para o futuro, porque ainda há grandes desafios a enfrentar. Mas é sobretudo uma ocasião para renovarmos os nossos empenhos e tomar as decisões necessárias, para mudarmos o presente: o presente de tantas famílias, comunidades, regiões e países que continuam a viver cada dia com medo das minas, na insegurança e na pobreza. O ambiente que os rodeia implica uma ameaça constante, enquanto que deveria uma fonte de fertilidade, desenvolvimento e alegria de viver.

Senhor Presidente,
Cada pessoa está em busca da paz, o oposto do medo. As minas antipessoais são subtis, porque prolongam a guerra e alimentam o medo, mesmo depois do fim dos conflitos. Acrescentam à falha humana causada pela guerra um sentimento de medo que prevalece no estilo de vida e altera a construção da paz. Este sentimento destrói não apenas a pessoa que o sofre, mas também aquela que o impõe. A paz é a alegria de viver, a confiança no dia-a-dia, no relacionamento de fraternidade, de gratuidade, onde o interesse de todos só se pode encontrar na partilha, na cooperação e na rejeição do ódio e da indiferença. Todas as pessoas, vítimas directas ou indirectas das minas, estão lá para nos lembrar a todo momento esta falha humana e o vazio do qual é a consequência.

Convenções como a das minas antipessoais ou das bombas de fragmentação não são apenas frios marcos jurídicos, mas representam um desafio para todos aqueles que procuram preservar e construir a paz e, em particular, de tutelar os mais fracos. A dignidade humana é o que todos nós, forte ou fracos, ricos ou pobres, temos em comum, para além das nossas diferentes limitações. A verdadeira riqueza não é o dinheiro, a verdadeira força não são as armas. A verdadeira felicidade está no amor, na partilha e na generosidade do coração .... Queremos realmente a segurança, a estabilidade e a paz? Então reduzamos os nossos arsenais de armas! Vamos banir as armas que não têm razão de ser numa sociedade humana e investir na educação, na saúde, na preservação do nosso planeta, na construção de sociedades mais solidais e fraternas com as suas diferenças, que são um enriquecimento.

O Papa Francisco exorta a todos os actores deste maravilhoso empreendimento humanitário a preservar a integridade da Convenção, a desenvolvê-la e a implementá-la o mais fiel e rapidamente possível. O Papa Francisco exorta a todos os países a empenhar-se no âmbito da Convenção, para que nunca mais haja vítimas de minas! Para que nunca mais haja áreas afectadas pelas minas e, no mundo, nenhuma criança viva com medo das minas!

Que esta Convenção, naquilo que ela tem de exemplar e profético na sua intuição original, possa ser um modelo para outros processos, em particular para as armas nucleares e outras armas que não deveriam existir. Coloquemos a pessoa humana, as mulheres e os homens, as meninas e meninos, no centro dos nossos esforços para o desarmamento. Que significado têm a paz, a segurança e a estabilidade, se as nossas sociedades, as nossas comunidades e as nossas famílias vivem constantemente no medo e no ódio destrutivo? Demos espaço à reconciliação, à esperança e ao amor que se exprime no empenho para o bem comum, na cooperação internacional para ajudar os mais vulneráveis d​​entre os nossos irmãos e irmãs, para pôr em acto políticas fundadas na nossa dignidade comum, ao serviço de um futuro necessariamente.

Senhor Presidente,
Em nome do Papa Francisco, gostaria de felicitá-lo e também Moçambique pelo empenho em favor da Convenção e desejar a vós participantes nesta Conferência todo o sucesso nos vossos trabalhos.








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