Primeira Guerra Mundial: a atualidade do pontificado de Bento XV
Cidade do Vaticano (RV) – Um profeta esquecido, mas que os historiadores estão
redescobrindo como um grande Papa do século passado. É Bento XV, de quem recorre neste
ano o centenário da eleição à Pontífice ocorrida em 3 de setembro de 1914. De fato,
a eleição de Giacomo Paolo Battista della Chiesa, Arcebispo de Bolonha, ocorreu em
meio a uma guerra que incendiava a Europa.
Justamente a guerra, por ele definida
como “tragédia inútil”, marcou profundamente o seu pontificado. Em pouco mais de sete
anos de reinado, procurou deter o conflito, relançou as relações com o mundo meridional
e do extremo oriente, promulgou o novo Código de Direito Canônico, atenuou o tom do
acontecimento modernista, reorganizou as missões e apoiou os católicos na vida política.
Mas o seu maior empenho foi em favor da paz.
Nesta semana, em que é recordado
o início da Primeira Guerra Mundial, o seu ensinamento e a sua obra assumem grande
atualidade. A Rádio Vaticano entrevistou o dominicano Padre Massimo Mancini, docente
de História da Igreja na Faculdade Teológica do Triveneto, de Veneza:
Pe.
Mancini: “É um Papa em situações muito difíceis, quando a Santa Sé não é ainda
reconhecida no plano internacional, consegue ser um interlocutor válido e eficaz junto
às potências, para chegar à paz. Mesmo que a paz tenha se estabelecido somente após
quatro anos de guerra. Bento XV convida todos os povos, todos os países em guerra
à paz. Não toma posição por nenhum e isto é um aspecto pelo qual será reprovado por
não poucos. O Papa sabe que a sua missão como pai de todos os cristãos é o de levar
todos à paz, sem tomar parte por uma potência ao invés de outra”.
RV:
Não foram somente teóricos apelos à paz, mas, graças à sua grande experiência como
diplomata, o ‘Papa da Igreja’ empenhou-se concretamente para resolver os conflitos...
Pe.
Mancini: “Por um lado se ocupa em oferecer assistência, o quanto possível,
a todos aqueles que são atingidos pela guerra. De outro, após três anos de guerra
sangrenta e trágica, o Papa faz uma proposta e envia uma nota diplomática a todas
as potências em guerra, indicando soluções sobre problemas concretos. Mas esta sua
proposta concreta é rejeitada, com a única exceção de Carlos I de Augsburgo. Não foi
um sucesso, certamente, mas foi um momento de profecia grande por parte do Pontífice”.
RV:
Capítulo missões. Também aqui Bento XV deixou sua marca...
Pe Mancini:
“Com a “Maximum illud” de 1919, Bento XV dá um novo impulso às missões nos diversos
continentes, procurando realizar o projeto de um “clero autóctone”. Portanto, sacerdotes
e bispos pertencentes aos povos. Uma missão que não fosse mais ligada ao colonialismo
das potências européias, mas que, ao invés disto, deixasse emergir os melhores recursos
dos povos a serem evangelizados, para uma mensagem autenticamente mais evangélica”.
RV:
Foi um visionário também em relação ao empenho dos católicos na política?
Pe.
Mancini: “Bento XV é também um homem que dedica uma grande atenção pela presença
dos católicos na política dos diferentes países. Antes de tudo na Itália, apoiando
a fundação do Partido Popular Italiano, do Padre Luigi Sturzo. O primeiro partido
político de inspiração católica na Itália. Sob o pontificado de Bento XV tem-se o
início também de tratativas, mesmo se em maneira muito escondida, para se chegar à
solução do grave problema da “Questão Romana” que se arrastava por decênios e que
era origem de conflito entre a Itália e a Santa Sé”. (JE)