Documento de trabalho para o Sínodo de Outubro sobre "Os desafios pastorais da família,
no contexto da evangelização"
“A família é um
elemento essencial para todo e qualquer progresso humano e social sustentável.” –
esta a mensagem tweet do Papa Francisco, neste dia em que foi divulgado o texto preparatório
– o chamado “Instrumento de trabalho” - do Sínodo extraordinário de outubro próximo
que terá como tema “Os desafios pastorais da família, no contexto da evangelização”.
Numa conferência de imprensa, hoje ao meio-dia, foi apresentado este texto, divulgado
nas seis línguas oficiais do Sínodo: alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e
português. O Evangelho da família; as situações familiares difíceis; a educação
para a vida e na fé no núcleo familiar: são as três áreas em que se desenvolve o Instrumentum
Laboris. O documento contém e sintetiza as respostas ao questionário sobre os temas
do matrimónio e da família, contido no Documento preparatório ao Sínodo, publicado
em Novembro de 2013.
A primeira parte - "Comunicar o Evangelho da família
hoje" – reitera antes de tudo o "dado bíblico" da família, baseada no matrimónio entre
homem e mulher, criados à imagem e semelhança de Deus e colaboradores do Senhor no
acolhimento e transmissão da vida.
Uma reflexão específica é dedicada à dificuldade
de compreender o significado e o valor da "lei natural", colocada na base da dimensão
esponsal entre o homem e a mulher. Para muitos, "natural" é sinónimo de "espontâneo",
o que comporta que os direitos humanos são entendidos como a autodeterminação do sujeito
individual que tende à realização dos próprios desejos.
Um outro grande desafio
indicado pelo texto agora divulgado é a privatização da família, que já não é entendida
como um elemento activo da sociedade e a sua célula fundamental. Por esta razão, é
necessário que os núcleos familiares sejam tutelados pelo Estado e recuperem o seu
papel de sujeitos sociais nos diferentes contextos: trabalho, educação, saúde, defesa
da vida.
A segunda parte do Instrumento de Trabalho - "A pastoral da família
diante dos novos desafios" - depois de ter recordado a importância da preparação para
o matrimónio, da promoção da piedade popular em apoio à família e de uma espiritualidade
familiar autenticamente missionária e não demasiado auto-referencial, chega ao coração
dos desafios pastorais de hoje. São muitas as situações críticas que a família
deve enfrentar hoje: fraqueza da figura paterna, fragmentação devida a divórcios e
separações, violências e abusos contra as mulheres e crianças ("um dado realmente
muito preocupante que interroga toda a sociedade e a pastoral familiar da Igreja"),
tráfico de menores, drogas, alcoolismo, dependência do jogo a dinheiro e também a
dependência das redes sociais que impede o diálogo em família e rouba o tempo livre
para as relações interpessoais.
O documento sinodal destaca também o impacto
do trabalho sobre a vida familiar: horários extenuantes, insegurança no emprego, flexibilidade
que envolve longos trajectos, ausência do repouso dominical dificultam a possibilidade
de estar juntos, em família.
O documento enfrenta, depois, as situações pastorais
difíceis e sublinha que a coabitação e as uniões de facto são muitas vezes devidas
a uma deficiência de formação sobre o matrimónio, a percepção do amor apenas como
"um facto privado", o medo do empenho conjugal entendido como perda da liberdade
individual.
O documento dedica também uma grande parte às "situações de irregularidade
canónica", porque as respostas recebidas estão sobretudo focalizadas nos divorciados
e casados novamente. Em geral, põe-se em destaque o número consistente daqueles que
vivem com "negligência" de tal condição e não pedem, portanto, para se aproximarem
da Eucaristia e da reconciliação. Em certos casos, algumas Conferências episcopais
pedem novos instrumentos para abrir a possibilidade de exercer "misericórdia, clemência
e indulgência" para com as novas uniões.
O Instrumentum mostra que, para as
situações difíceis que a Igreja não deve assumir uma atitude de juiz que condena,
mas a de uma mãe que sempre acolhe os seus filhos, sublinhando que "não aceder aos
sacramentos não significa ser excluído da vida cristã e da relação com Deus"
A
propósito das uniões entre pessoas do mesmo sexo, se põe em evidência que todas as
Conferências Episcopais dizem não à introdução de uma legislação que permite tal união
"redefinindo" o matrimónio entre homem e mulher. Pede-se, contudo, uma atitude respeitosa
e de não-julgamento em relação a estas pessoas, enquanto se destaca a falta de programas
pastorais a este respeito, uma vez que se trata de fenómeno recentes.
O Instrumentum
mostra que, para as situações difíceis que a Igreja não deve assumir uma atitude de
juiz que condena, mas a de uma mãe que sempre acolhe os seus filhos, sublinhando que
"não aceder aos sacramentos não significa ser excluído da vida cristã e da relação
com Deus"
A propósito das uniões entre pessoas do mesmo sexo, se põe em evidência
que todas as Conferências Episcopais dizem não à introdução de uma legislação que
permite tal união "redefinindo" o matrimónio entre homem e mulher. Pede-se, contudo,
uma atitude respeitosa e de não-julgamento em relação a estas pessoas, enquanto se
destaca a falta de programas pastorais a este respeito, uma vez que se trata de fenómeno
recentes.
A terceira parte do documento – “A abertura à vida e à responsabilidade
educativa” – faz notar antes de mais que é pouco conhecida na sua dimensão positiva
a doutrina da Igreja sobre a abertura à vida da parte dos esposos, pelo que é considerada
como uma ingerência na vida do casal e uma limitação à autonomia da consciência. Daqui
a confusão que se cria entre os contraceptivos e os métodos naturais de regulação
da fertilidade. Relativamente à profilaxia contra a sida, é necessário que a Igreja
explique melhor a sua posição, também para contrastar algumas “reduções caricaturais”
dos meios de comunicação e para evitar reduzir o problema a uma mera questão “técnica”,
quando na realidade se trata de “dramas que marcam profundamente a vida de inumeráveis
pessoas. O “Instrumento de trabalho” para a preparação próxima e o debate da assembleia
sinodal de outubro próximo conclui com a Oração à Sagrada Família, escrita pelo Papa
e por ele mesmo recitada por ocasião do Angelus de 29 de dezembro passado, festa da
Santa Família de Nazaré.