Papa diz que perseguições religiosas "atentam contra a paz e humilham a dignidade
das pessoas"
Cidade do Vaticano- (RV) - O Papa Francisco recebeu nesta sexta-feira, 20,
na Sala do Concistório, no Vaticano, cerca de 200 participantes do Congresso Internacional
sobre Liberdade Religiosa, que acontece em Roma até sábado, 21. Com o tema "A liberdade
religiosa segundo o direito internacional e o conflito global dos valores", o evento
é organizado pela Universidade St. Johns’s e pelo Ateneo LUMSA. O encontro conta com
a presença, dentre outros especialistas no tema, do relator especial das Nações Unidas
para a Liberade Religiosa, Heiner Bielefeldt.
O Papa Francisco, em seu discurso,
afirmou que “recentemente, o debate em torno da liberdade religiosa tornou-se muito
intenso, interpelando governos e religiões. A Igreja Católica, neste sentido, possui
uma longa história de apoio à liberdade religiosa, que culminou na Declaração “Diagnitatis
Humanae”, do Concílio Ecumênico Vaticano II.”
O Pontífice disse ainda que “cada
ser humano é um pesquisador da verdade sobre sua própria origem e seu próprio destino.
Na sua mente e no seu coração, surgem interrogações e pensamentos que não podem ser
represados ou sufocados, enquanto emergem do mais profundo e são inerentes à íntima
essência da pessoa. São questões que dependem da liberdade religiosa para se manifestarem
plenamente. Buscam iluminar o autêntico significado da existência, sobre o legado
que nos conecta ao cosmos e à história, e pretendem penetrar na escuridão que circunda
a história humana se tais perguntas não fossem colocadas e permanecessem sem resposta.
Diz o Salmista: “Quando vejo o céu, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que fixaste,
que é um mortal, para dele te lembrares, e um filho de Adão, que venhas visitá-lo?”
(8,4).
Papa Francisco prosseguiu dizendo que “a razão reconhece na liberdade
religiosa um direito fundamental do homem, que reflete a sua mais alta dignidade,
aquela de poder buscar a verdade e reconhecer nela uma condição indispensável para
poder empregar toda sua potencialidade. A liberdade religiosa não é somente aquela
de um pensamento ou de um culto privado. É a liberdade de viver segundo os princípios
éticos, conseqüência da verdade encontrada, privada ou publicamente. Este é um grande
desafio no mundo globalizado que, em nome de um falso conceito de tolerância, termina
por perseguir aqueles que defendem a verdade sobre o homem e suas consequências éticas.”
Ainda
em relação ao tema, o Santo Padre afirmou que “os ordenamentos jurídicos, governamentais
ou internacionais são chamados a reconhecer, garantir e proteger a liberdade religiosa,
que é um direito intrinsecamente inerente à natureza humana, à sua dignidade de ser
livre e também um indicador de uma saudável democracia, e uma das fontes principais
da legitimidade do Estado. A liberdade religiosa, referida nas constituições e nas
leis, e traduzida em comportamentos coerentes, favorece o desenvolvimento de mútuo
respeito entre as diversas confissões e uma sadia colaboração com o Estado e a sociedade
política, sem confusão de papeis e sem antagonismos. Ao invés do conflito global dos
valores, é possível deste modo, a partir de um núcleo de valores universalmente compartilhados,
uma global colaboração em vista do bem comum.”
O Papa também disse serem inaceitáveis
as perseguições por motivos religiosos: “à luz da razão, confirmada e melhorada, e
do progresso civil dos povos, é incompreensível e preocupante que, até hoje, no mundo,
permaneçam discriminações e restrições de direitos pelo simples fato de alguém pertencer
e professar publicamente uma determinada fé. É inaceitável que ainda existam verdadeiras
perseguições por motivos de religião! Isto fere a razão, atenta contra a paz e humilha
a dignidade do homem. É para mim motivo de grande dor constatar que os cristãos no
mundo são os que mais sofrem tais discriminações. As perseguições contra os cristãos
são mesmo mais fortes do que nos primeiros séculos da Igreja e hoje existem mais cristãos
mártires que naquela época,” conclui o Pontífice.(EF)