Papa Francisco: "Além da fome material o homem leva consigo a fome de vida, amor e
eternidade"
Cidade
do Vaticano (RV) - O Papa Francisco celebrou a missa na tarde desta quinta-feira,
19 de junho, Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, na Basílica Papal
de São João de Latrão, em Roma.
"O Senhor, teu Deus, (...) te alimentou com
o maná, que tu não conhecias", disse o Papa Francisco no início de sua homilia citando
uma passagem do Livro do Deuteronômio.
"Estas palavras de Moisés fazem referência
à história de Israel, que Deus fez sair do Egito, da condição de escravidão, e por
quarenta anos o guiou no deserto para a terra prometida. Uma vez estabelecido na terra,
o povo eleito atingiu uma autonomia, um bem-estar, e correu o risco de esquecer as
tristes vicissitudes do passado, superadas graças à intervenção de Deus e à sua infinita
bondade", frisou o Santo Padre.
As Escrituras exortam a fazer memória de todo
o caminho feito no deserto, no tempo da penúria e do desconforto. Moisés convida a
voltar ao essencial, à experiência de total dependência de Deus, quando a sobrevivência
foi colocada em suas mãos, para que o homem compreenda que "não vive somente de pão,
mas de tudo aquilo que procede da boca do Senhor".
"Além da fome material
o homem leva consigo outra fome, uma fome que não pode ser saciada com comida comum.
É a fome de vida, fome de amor, fome de eternidade. O sinal do maná – como toda experiência
do êxodo – continha em si também esta dimensão: era figura de uma comida que sacia
esta fome mais profunda que existe no homem. Jesus nos dá este alimento, assim, é
Ele mesmo o pão vivo que dá vida ao mundo. Seu Corpo é verdadeira comida sob a espécie
de pão; seu Sangue é verdadeira bebida sob a espécie de vinho. Não é um simples alimento
com o qual sacia nossos corpos, como o maná; o Corpo de Cristo é o pão dos últimos
tempos, capaz de dar vida, e vida eterna, porque a substancia deste pão é Amor."
Viver
a experiência da fé significa deixar-se alimentar pelo Senhor e construir a própria
existência não sobre bens materiais, mas sobre a realidade que não perece: os dons
de Deus, sua Palavra e seu Corpo.
"Se olharmos ao nosso redor, daremos
conta de que existem tantas ofertas de alimento que não vem do Senhor e que aparentemente
satisfazem mais. Alguns se nutrem com o dinheiro, outros com o sucesso e com a vaidade,
outros com o poder e com o orgulho. Mas a comida que nos alimenta verdadeiramente
e que nos sacia é somente aquela que nos dá o Senhor! O alimento que nos oferece o
Senhor é diferente dos outros e talvez não nos pareça assim saboroso como certas iguarias
que nos oferecem o mundo. Agora sonhamos com outros alimentos, como os hebreus no
deserto que choravam a carne e as cebolas que comiam no Egito, mas esqueciam que aqueles
alimentos eram comidos na mesa da escravidão. Eles, naqueles momentos de tentação,
tinham memória, mas uma memória doente, uma memória seletiva."
O Papa concluiu
a homilia pedindo a Jesus para nos defender das tentações do alimento mundano que
nos faz escravos, para purificar a nossa memória a fim de que não se torne prisioneira
da seletividade egoísta e mundana, mas seja memória viva da presença de Deus na história.
(MJ/CAS)