Jales (RV) - Em sua recente visita a Jerusalém, o Papa Francisco fez questão
de ressaltar o caráter religioso de sua peregrinação à Terra Santa. Isto não o impediu
de abordar as difíceis questões de ordem política que marcam aquela região.
Em
especial, fez um apelo às religiões, para que se coloquem a serviço da paz. O apelo
é providencial. Em primeiro lugar, porque a causa da paz é tão importante, que merece
o empenho de todos. Independente de outras questões, que devem constar da agenda de
negociações, a paz é a mais evidente e a primeira a ser conseguida. Fazendo as pazes,
dá para abordar, em seguida, também as outras questões que precisam ser regulamentadas
nas relações entre os diversos países do Oriente Médio.
Mas o apelo do Papa
vem carregado de reminiscências históricas. Infelizmente, com demasiada frequência,
ao longo da história, as religiões foram invocadas para justificar a guerra. Tanto
que se cunhou a expressão de “guerra santa”, como se a guerra pudesse contar com a
bênção de Deus.
A própria região, identificada hoje como “terra santa” por
judeus, cristãos e muçulmanos, foi palco das “Cruzadas”, que ainda hoje povoam o imaginário
de muita gente. Há cicatrizes histórias que demoram para ser curadas e neutralizadas.
Tudo isto precisa ser levado em conta, quando se pensa em negociações para a paz naquela
região.
Pareceria anacrônico falar hoje de “guerra santa”. Mas acontece que
ainda existem grupos que apelam para a violência, justificando suas atitudes como
se fossem expressão de uma pretensa vontade de Deus, em nome de quem se sentem autorizados
a optar pela guerra.
Se nos perguntamos pela razão da persistência desse clima
belicoso, podemos identificar uma de suas raízes de onde ele brota e se sustenta.
Trata-se do “fundamentalismo religioso”, que pode ter diversas expressões, desde as
manifestações fanáticas de religiosidade doentia e desequilibrada, até as atitudes
de violência franca e aberta, que prolonga o clima de “guerra santa”.
Estas
atitudes padecem de um grave equívoco. Como a fé, seja ela qual for, apela para a
realidade divina, que é absoluta e transcendente, tira-se a conclusão errada de achar
que as manifestações humanas da religiosidade também se revestem do absoluto, que
só pertence a Deus.
Na verdade, todo fanatismo religioso é, de certa maneira,
uma idolatria. Atribui ao que é relativo, a dimensão de absoluto. Faz do que é limitado
uma expressão que não admite alternativas.
Este componente religioso precisa
ser bem abordado no contexto da complexa realidade que envolve o relacionamento entre
os países envolvidos na “questão palestina”.
Quanto mais nos damos conta desta
complexidade, mais percebemos como foi oportuno o apelo do Papa, convocando as religiões
a se colocarem a serviço da paz.
Isto vale para a “Terra Santa”, mas vale também
como advertência a todos, para não acontecer que as religiões continuem incentivando
a guerra.
Dada a radicalidade do fundamentalismo religioso, muitos historiadores
chegam a prognosticar que as futuras guerras da humanidade serão guerras religiosas.
O exemplo dado pelo Papa Francisco, convidando israelenses e palestinos a
rezarem pela paz, esconjure o fantasma da “guerra santa”, e fortaleça o compromisso
de todos pela paz!