Não confundir justiça com vingança: Papa fala da "verdadeira justiça" numa Carta a
Congressos de Direito Penal
“A verdadeira justiça” é a que “não se contenta com castigar simplesmente o culpado”,
mas procura “fazer o possível para corrigir, melhorar e educar”. O Papa Francisco
enfrentou este tema de grande actualidade numa carta enviada aos participantes no
XIX Congresso Internacional do Direito Penal e ao III Congresso da Associação Latino-americana
de Direito Penal e Criminologia. O Papa faz votos de que se exerça “uma justiça
que respeite a dignidade e os direitos da pessoa humana, sem discriminações, e que
tutele devidamente as minorias”. Denuncia também a sobrelotação das cadeias e a existência
de pessoas detidas sem terem sido condenadas. Recordando que por vezes “a delinquência
tem as suas raízes nas desigualdades económicas e sociais”, o Pontífice observa que
“a experiência mostra que o aumento e endurecimento das penas não resolve, muitas
vezes, os problemas sociais nem consegue diminuir os índices de delinquência”. O
Papa pede uma abordagem “multidisciplinar” ao Direito, que procure “fazer justiça
à vítima” sem “justiciar o agressor”. “Nas nossas sociedades, tendemos a pensar que
os delitos se resolvem quando se apanha e condena o delinquente, passando ao lado
dos danos cometidos ou sem prestar atenção suficiente à situação em que ficam as vítimas”,
adverte. Seria um “erro” confundir “justiça com vingança”, dado que isso levaria a
“aumentar a violência, mesmo que esteja institucionalizada”. “Quantas vezes se viu
um réu expiar objetivamente a sua pena, cumprimento a condenação, mas sem mudar objetivamente
nem restabelecer-se das feridas do seu coração”, acrescenta. Papa Francisco convida
os meios de comunicação social a evitar a criação de “alarme ou pânico social” quando
dão notícias de atos criminosos e recorda que a delinquência tem muitas vezes a sua
raiz em “desigualdades económicas e sociais, em redes de corrupção e crime organizado”. “A
Igreja propõe uma justiça que seja humanizadora, genuinamente reconciliadora, uma
justiça que leve o delinquente, através de um caminho educativo e de penitência esforçada,
à sua reabilitação e inserção total na comunidade”, conclui a Carta do pontífice.