Padre Neuhaus: três imagens para descrever a viagem do Papa à Terra Santa
Cidade do Vaticano
(RV) - Imagens que dificilmente serão esquecidas, entre as quais, a do Pontífice
de pé, em Belém, diante do muro de separação, seu abraço a Bartolomeu I, a questão
da paz tratada com os líderes da Palestina e Israel. Conselheiro para a 'mídia' do
Patriarcado Latino de Jerusalém para a visita do Papa, o sacerdote jesuíta Pe. David
Neuhaus traçou para a Rádio Vaticano um balanço da viagem de Francisco à Terra Santa:
Pe.
David Neuhaus:- "Três imagens fortíssimas. A primeira é a do Papa no muro de Belém,
onde viu de perto a dor do povo palestino... e não somente ali; depois, o gesto imprevisto...
ele que reza diante deste muro, desta ferida existente em nossa terra... é uma imagem
muito forte, toca a dor do povo palestino. A segunda imagem é a do Papa com o Patriarca.
Este encontro estava previsto, mas quando se deu foi um momento fortíssimo, um momento
de esperança enorme para esta ferida no rosto da Igreja, esta divisão não somente
com os nossos irmãos e irmãs ortodoxos, mas também com todos os outros cristãos estamos
no caminho da superação."
RV: O sonho da unidade pode, então, realizar-se?
Pe.
David Neuhaus:- "Temos que acreditar. Estes dois homens mostraram-nos que eles
creem. O encontro como um todo foi magnífico, especialmente a imagem dos dois homens
que rezam juntos diante do Túmulo vazio, no Santo Sepulcro. A terceira imagem é a
do Papa no Memorial Yad Vashem; também muito forte. Este grito, porque não
se tratou de um discurso, mas um grito poético: "Onde estás, homem? Onde estás, Adão?"
A recordação desta imagem é fortíssima! Naquele momento ele tocou a dor do povo judeu
e uma ferida na face da humanidade. Essas são as três imagens que, a meu ver, são
muito fortes. Agora vamos rever toda a viagem para entender mais profundamente a mensagem
e os gestos na continuidade de Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI: estamos felizes
por estas quatro viagens nos colocarem no caminho da Igreja: vocação e missão."
RV:
Uma das coisas importantes desta viagem foi o convite a um encontro de oração e de
paz no Vaticano, em sua casa – como disse o Papa –, entre os presidentes Abu Mazen
e Shimon Peres. Pode-se dizer que, da Terra Santa, o Papa busca instaurar a diplomacia
da oração?
Pe. David Neuhaus:- "Creio que isso seja muito importante.
Muitos jornalistas disseram: 'O Papa assume agora o papel de mediador que John Kerry
não conseguiu desempenhar! O Papa assume o lugar de Kerry?'. E eu disse: 'Não, o Papa
introduz outra dimensão para a busca da paz"... uma dimensão muitas vezes esquecida,
mas que para nós, talvez, seja a mais importante: a oração. E esse é o papel do Papa!'
"Queridos palestinos e israelenses, coloquemo-nos diante de Deus! Tentamos e não conseguimos
iniciar um período de diálogo. O que pode acontecer se nos colocarmos diante de Deus
na oração, no silêncio, perguntando-nos: quem sou eu diante de Deus?" Creio que não
se trate de diplomacia, de política, mas de pura espiritualidade jesuíta!" (RL)