Peregrinação de Francisco pode representar um "novo capítulo" nas relações entre cristãos
e muçulmanos
Amã (RV) – A primeira viagem do Papa Francisco ao Oriente Médio poderá representar
“um novo capítulo” nas relações entre muçulmanos e cristãos, após anos de tensões
entre os fiéis das duas religiões mais difundidas no mundo. É o auspício manifestado
por alguns líderes religiosos da região, às vésperas da visita do Pontífice à Terra
Santa, que desde o início de seu pontificado, em março de 2013, lançou apelos em favor
do diálogo entre o Islã e o cristianismo.
“Na sua primeira declaração como
Papa, Francisco reconheceu e saudou os nossos irmãos de fé muçulmana, sublinhando
o quanto é necessário um diálogo imediato entre os fiéis e os líderes das duas grandes
religiões”, afirmou o Padre Raffat Baader, porta-voz vaticano na Jordânia. “A comunidade
muçulmana no mundo respondeu positivamente e estamos assistindo àquele que poderia
ser definido como, um renascimento nas relações”, observou.
“Ao invés de permanecermos
na defensiva, nas nossas posições, finalmente nós cristãos e muçulmanos nos encontramos
face a face, reconhecendo nossas diferenças e buscando um caminho comum para enfrentarmos
juntos os desafios que se apresentam diante de nós”, disse por sua vez, o líder da
Igreja Greco-ortodoxa na Jordânia, Kamal Abu Jaber.
Um sinal desta retomada
do diálogo veio da Irmandade Muçulmana, que havia boicotado as precedentes visitas
de Bento XVI e João Paulo II devido a suas posições em relação ao conflito palestino-israelense.
“O Papa Francisco se manifestou muitas vezes em favor da justiça e pelo fim da opressão
contra os povos do Oriente Médio, independente da religião”, sublinhou Zaki Bani Rsheid,
o número 2 das Irmandade Muçulmana na Jordânia. Ele definiu como “um fato positivo”
a viagem de Bergoglio.
Não obstante a melhoria das relações entre o Vaticano
e o mundo islâmico, os líderes religiosos ainda vêem muitos obstáculos para uma “nova
primavera” nas relações entre muçulmanos e cristãos. Os líderes das comunidades cristãs
denunciam os contínuos ataques de militantes islâmicos na região, que provocaram um
êxodo de massa. Mais de 90 mil iraquianos sírios viram-se obrigados a fugir.
“Não
obstante o empenho em abrir um novo capítulo, existem grupos extremistas e facções
que continuam a oprimir, ameaçar e matar cristãos em nome do Islã – denunciou Padre
Bader. Não podemos inaugurar uma nova época de diálogo inter-religioso se existem
ainda ramos extremistas que alimentam os conflitos”.
No entanto, os líderes
muçulmanos pediram ao Vaticano para condenar também os atentados dos cristãos contra
as comunidades muçulmanas na Nigéria ou em outros locais. “O Papa Francisco pediu
diálogo e coexistência pacífica em nome de um Deus único – disse Rheil Gharaibeh,
articulista e estudioso jordaniano. Agora cabe a nós tornar esta visão uma realidade”.
(JE)