Cardeal Sandri: presença do Papa Francisco na Terra Santa reforça presença cristã
Cidade do Vaticano (RV) - A Terra Santa não é um conjunto de monumentos, mas
um lugar em que as "pedras vivas" são os cristãos, aos quais Francisco dará nova coragem.
Essa é a convicção do prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, Cardeal Leonardo
Sandri, o qual, na vigília da chegada do Papa Francisco à terra de Jesus, reflete
sobre o significado da peregrinação a partir do momento central, quando o Bispo de
Roma abraçará o Patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I. Entrevistado
pela Rádio Vaticano, eis o que disse o purpurado argentino:
Cardeal Leonardo
Sandri:- "A peregrinação do Papa é muito, muito significativa para toda a Igreja,
porque chama novamente ao compromisso incessante, duradouro, sempre, na Igreja – obviamente
com mais insistência após o Concílio Vaticano II – em favor da unidade da Igreja e,
em particular, da relação entre a Igreja Católica e as Igrejas ortodoxas. Portanto,
se evocamos o encontro entre Paulo VI e Sua Santidade Atenágoras, veem à tona todos
estes elementos, o caminho que se fez até aquele momento e o caminho que se fez depois
até agora, em que Francisco, o Papa, encontra novamente o sucessor de Atenágoras,
Sua Santidade Bartolomeu I. Portanto, será um momento de grande significado para avaliar
o caminho feito e chamar novamente toda a Igreja ao compromisso e, diria, à obrigação
de ouvir a voz de Jesus, "que todos sejam um", mas, em particular, entre a Igreja
Católica e as Igrejas ortodoxas."
RV: O senhor é responsável pelo dicastério
vaticano que se ocupa das Igrejas orientais: para elas, o que significa este novo
abraço entre o Bispo de Roma e o Patriarca de Constantinopla?
Cardeal Leonardo
Sandri:- "O encontro ecumênico entre o Papa Francisco e Sua Santidade Bartolomeu
I se dá, para nós, para os católicos, no contexto de convivência contínua com os nossos
irmãos ortodoxos na vida cotidiana da Terra Santa e dos países do Oriente Médio. Assim
como os católicos devem viver uma dimensão que eu chamaria real, de vida cotidiana,
em favor do diálogo inter-religioso – porque são eles que vivem lado a lado, por exemplo,
com os muçulmanos em todos estes países e, portanto, devem passar das declarações
teóricas à convivência cotidiana –, do mesmo modo, há essa convivência cotidiana com
nossos irmãos ortodoxos que, devemos dar graças a Deus, é levada adiante com grande
espírito de amor, de compaixão e até mesmo de estudo, por exemplo, em busca de uma
data comum para a Páscoa. Para as nossas comunidades católicas os gestos do Papa Francisco,
os gestos ecumênicos e o encontro com Sua Santidade Bartolomeu I são, ainda mais,
um convite às Igrejas católicas – que são de diferentes ritos e, em particular, a
mais numerosa é a Igreja latina da diocese latina do Patriarcado de Jerusalém – a
viverem concretamente este ecumenismo, mais ainda com as muitas iniciativas que existem
para se ter uma só voz, inclusive diante dos muitos problemas que os cristãos da Terra
Santa devem enfrentar. Podemos fazer isso sozinhos, mas, fazê-lo juntos dá mais força
a nosso compromisso na vida de todos os dias. Obviamente, a comunidade católica espera
o Papa para ter este entusiasmo não somente em recebê-lo, mas para ter, ainda mais,
espírito de alegria para levar adiante a sua missão do ponto de vista do anúncio evangélico,
com a palavra, com o testemunho e com todas as obras sociais que a Igreja Católica
leva adiante."
RV: Nunca é demais falar sobre os cristãos na Terra Santa:
uma peregrinação do Papa àquelas terras é uma ocasião privilegiada para recordar a
situação deles. O senhor obteve testemunhos ou reações às vésperas desta viagem do
Santo Padre:
Cardeal Leonardo Sandri:- "Ouvimos as palavras do Patriarca
Latino de Jerusalém, sua Beatitude Fouad Twal, mas ouvi e vi também, mediante a imprensa,
as reações de fiéis comuns, pertencentes à Igreja Católica, que esperam do Papa este
encorajamento que vem do Bispo de Roma e que dá à vida na Terra Santa uma característica
verdadeiramente singular. Não podemos reduzir a Terra Santa a uma terra de monumentos,
de museus, de pedras, mas de "pedras vivas" que são os nossos fiéis católicos e todos
os cristãos. Também as peregrinações de nossos católicos de todas as partes do mundo
são para eles um grande encorajamento para ajudá-los a manter firme este desejo de
permanecer e de não fugir da terra de Jesus."
RV: Ao apresentar esta
viagem, o Papa Francisco disse: irei também para rezar pela paz na Terra Santa. E
os encontros que terá com as autoridades jordanianas, israelenses e palestinas serão
uma ocasião direta e concreta para fazer isso. Quais suas expectativas a esse respeito?
Cardeal
Leonardo Sandri:- "Penso que a presença do Papa na Terra Santa é muito importante
para a paz e não somente para a paz entre israelenses e palestinos, mas para todo
o Oriente Médio. Em particular, penso que a palavra do Papa se estenderá à Síria e,
obviamente, também ao Iraque e aos outros países que vivem situações muito dolorosas
nestes momentos de guerra, de violência, de desrespeito pela dignidade da pessoa humana,
das mulheres, das vítimas... Portanto, para mim é imperioso que o Papa, que representa
Jesus Cristo, leve uma palavra de paz não somente às autoridades civis dos países
visitantes, mas a toda a região do Oriente Médio. Consequentemente, será também uma
mensagem de paz, uma mensagem de concórdia, de unidade e de respeito pela dignidade
humana." (RL)