Arcebispo Tomasi: ONU reconhe compromisso da Santa Sé
Cidade do Vaticano (RV) - Foram publicadas nesta sexta-feira em Genebra, na
Suíça, as conclusões do Comitê da ONU sobre o "Relatório Inicial" da Santa Sé acerca
da Convenção contra a Tortura (Cat) apresentado nos dias 5 e 6 de maio por uma delegação
vaticana.
Trata-se do procedimento ordinário seguido por todos os Estados signatários
da Convenção (155 ao todo), à qual a Santa Sé aderiu em 2002 em nome e por conta do
Estado da Cidade do Vaticano.
As conclusões do Comitê da ONU contra a tortura
reconhecem os "resultados muito positivos" dos esforços feitos pela Santa Sé para
conformar-se à Convenção: é o que ressalta o chefe da delegação vaticana e observador
permanente da Santa Sé no escritório da ONU na cidade helvécia, Dom Silvano Maria
Tomasi.
Há alguns realces críticos em relação à questão dos abusos contra menores
por parte de membros do clero. Entre outras coisas – destaca o arcebispo –, as observações
conclusivas do Comitê, embora reconheçam que a Convenção se aplica ao Estado da Cidade
do Vaticano, dão a impressão de que todos os sacerdotes do mundo são considerados
dependentes da Santa Sé, o que não é aceitável – afirma Dom Tomasi. Eis o comentário
do prelado, entrevistado pela Rádio Vaticano:
Dom Silvano Maria Tomasi:-
"As observações conclusivas evidenciam que nestes últimos anos foi feito um trabalho
capilar não somente para aplicar os princípios da Convenção contra a tortura, mas
também para prevenir a questão dos abusos sexuais contra menores. O Comitê mostrou
apreço pelo diálogo construtivo que a delegação teve com especialistas desta Comissão
e dedica uma palavra de apreço também ao Papa Francisco por aquilo que disse e fez
em defesa dos direitos humanos. Substancialmente, diria que este Relatório, diferentemente
– por exemplo – do de janeiro passado em relação à Convenção sobre os direitos das
crianças, é um Relatório mais profissional e mais jurídico."
RV: Portanto,
há um claro reconhecimento por parte do Comitê da ONU...
Dom Silvano Maria
Tomasi:- "Há um reconhecimento do grande trabalho feito, que não se trata somente
de piedosos auspícios, mas que foram tomadas veementes decisões e isso a Comissão
levou em consideração, observando, por exemplo, que 848 padres foram reduzidos ao
estado laical e outros 2.500 submetidos a sanções menores, mas severas, para mostrar
que se está fazendo um trabalho sistemático de limpeza na casa-Igreja. Portanto, há
esse aspecto de reconhecimento positivo. Há críticas que se referem em parte a estilos
de procedimento que dizem respeito ao passado, e pedidos de ulteriores informações
que a Santa Sé levará em séria consideração e aos quais buscará responder no próximo
encontro, que terá lugar daqui a um ano no que tange às respostas com esses ulteriores
esclarecimentos e informações que a Comissão solicita."
RV: Quais das
observações considera receber de modo particular?
Dom Silvano Maria Tomasi:-
"O fato que a Comissão pede que haja uma total independência por parte daqueles que
são responsáveis em investigar acusações de pedofilia: é uma observação que certamente
será levada em séria consideração."
RV: Portanto, um caminho de compromisso
sempre maior, por parte da Igreja, contra os abusos...
Dom Silvano Maria
Tomasi:- "Este caminho continua sendo reforçado. Há uma nova cultura no seio da
Igreja, também e não somente por parte das autoridades, mas no sentir comum, de fazer
todo o possível para responder ao dano que foi feito, para prevenir de modo que não
se repita e se coloque em nossas costas este triste capítulo, que é o comportamento
de algumas pessoas ligadas à Igreja, e buscar, ao invés, uma renovação do serviço
pastoral e da evangelização, de modo que haja uma mais clara fidelidade à mensagem
do Evangelho." (RL)