Card. Tauran: "Chegamos ao 'diálogo da amizade' de Francisco"
Cidade do Vaticano (RV) - «Os tempos em que vivemos, onde frequentemente os
conflitos tomam a cor de diferenças religiosas, tornam as relações e o diálogo entre
pessoas de diferentes religiões mais necessárias do que nunca». Foi o que afirmou
o Cardeal Jean Louis Tauran, ao introduzir nesta segunda-feira, 19 de maio, as celebrações
organizadas por ocasião do 50º aniversário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.
Na
homilia proferida na Missa celebrada na Basílica de São Pedro nesta manhã, e presidida
pelo Cardeal Gianfranco Ravasi, o Presidente do Pontifício Conselho explicou que “hoje
se fala muito de Deus, mas trata-se, frequentemente, de um deus feito à medida do
homem”. Por isto, “com os seguidores das religiões monoteístas temos o dever de recordar
a todos que somos criaturas”. Acreditamos em um Deus criador que continua a nos falar
através dos acontecimentos e experiências que podem pouco a pouco nos aproximar do
único Deus”. Desta forma, as celebrações do aniversário constituem uma ocasião para
“interrogar-se se somos um parceiro crível do diálogo; tomar consciência das riquezas
espirituais acumuladas nestes anos; perguntarmo-nos se temos a preocupação de fazê-las
conhecer; reconhecer que um diálogo sincero com pessoas que não partilham a nossa
fé nos ajuda a crescer na nossa vida espiritual”.
Os participantes da celebração
encontraram-se posteriormente, na parte da tarde, na Sala São Pio X. Na saudação inicial,
o Cardeal Presidente assim sintetizou o magistério dos pontífices sobre o assunto:
após o “diálogo com o mundo” de Paulo VI, o “diálogo da paz” de João Paulo II, o “diálogo
da caridade na verdade” de Bento XVI, chegamos agora ao “diálogo da amizade” de Papa
Francisco. Um diálogo – acrescentou – que deve ser levado em frente com coragem, com
paciente perseverança, confiando no apoio do Espírito Santo”, visto que o dicastério
foi instituído justamente no dia de Pentecostes.
O Cardeal Tauran recordou
ainda “os momentos difíceis, quando parecia prevalecer a incompreensão, a impossibilidade
de comunicar e até mesmo a rejeição”. De resto – acrescentou – nestes cinqüenta anos
“foram inumeráveis as ocasiões de diálogo sincero, de colaboração, de busca de caminhos
comuns”. E hoje o dicastério continua a “ajudar a Igreja no caminhar ao encontro dos
seguidores de outras religiões”.
Por fim, o purpurado deteve-se no “trabalho
de reflexão teológica” do Pontifício Conselho, voltado para uma “abundante produção
de textos”, como por exemplo, os dois documentos Diálogo e missão (1984) e Diálogo
e anúncio (1990), ou as mais recentes linhas mestras para orientações pastorais ao
diálogo inter-religioso, apresentadas durante a última plenária
Sucessivamente
tomou a palavra o Secretário do Pontifício Conselho, Padre Miguel Ángel Ayuso Guixot,
que leu a mensagem do Papa Francisco. No seu pronunciamento, o missionário comboniano
repassou cronologicamente os cinqüenta anos de serviço desenvolvido pelo dicastério
para “favorecer relações amigáveis da Igreja com os seguidores das religiões não-cristãs”.
Isto, recordou, surgiu da experiência do Vaticano II, que “ao colocar-se na escuta
de um mundo em rápida mudança, trabalhou para que o testemunho do Evangelho de Jesus
chegasse onde as fronteiras pareciam intransponíveis: no coração dos homens e das
mulheres que praticam outras religiões, na modalidade própria do encontro amigável
que é a do diálogo”. Nascia assim o Secretariado para os Não-cristãos. A Constituição
Apostólica Regimini ecclesiae universae (15 agosto de 1967) definiu a sua estrutura
e as finalidades.
Por fim, em 1988, no âmbito da reorganização da Cúria operada
pela Constituição Apostólica Pastor bônus, de 28 de junho 1988, foi mudada a denominação
de Secretariado para Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.
Pe.
Guixot recordou também todos os Presidentes e Secretários que se alternaram à frente
do dicastério e as principais etapas cumpridas, como as viagens e as visitas realizadas
em favor do diálogo, os documentos teológicos, as trocas de mensagens e, em particular,
os dias de oração pela paz em Assis, em 1986, 1993 e 2002. O primeiro dos três, realizado
por João Paulo II aos qual aderiram cerca de 30 representantes de diversas religiões.
Quando a iniciativa foi reproposta por Bento XVI, em 27 de outubro de 2011, viu a
participação de 180 expoentes de diferentes denominações. (JE)