Belo Horizonte (RV) - A Copa do Mundo deste ano pode se tornar um dos mais
significativos momentos da história sociopolítica do Brasil. O discurso que se ouviu
nas ruas, em junho do ano passado, foi um sinal, obviamente com a recusa radical dos
lamentáveis episódios de vandalismo, violência e atentados contra o patrimônio público.
Historicamente, a sociedade brasileira sempre viveu o tempo da Copa do Mundo simplesmente
como momento de euforia e divertimento. Essa paixão esportiva nacional, com sua força
educativa e o gosto gostoso que o futebol dá à vida dos torcedores, indica que é preciso
conciliar euforia e divertimento com o viés político e social.
Os fantasmas
e ameaças do vandalismo não podem atropelar a oportunidade cidadã de jogarmos pela
vida. O coração apaixonado do torcedor, seu sentimento de pertença à pátria, tem agora
a oportunidade de agregar entendimentos, discussões, análises e posturas que nos levem
não só a vencer no esporte, mas, sobretudo, contribuam para o crescimento da consciência
cidadã. O cenário político, com a singularidade deste ano eleitoral, precisa ser iluminado
pela atenção especial que uma Copa do Mundo mobiliza. Não permitir qualquer tipo de
violência é de suma importância para que manifestações, debates, discussões e outras
condutas cidadãs promovam mudanças nos abomináveis cenários de corrupção, exclusão
social e desrespeitos à dignidade da pessoa.
Pessimismo, vandalismos e até
mesmo torcida para que a Copa não dê certo enfraquecerão essa oportunidade de crescimento
qualificado da consciência política dos cidadãos brasileiros. É importante tratar
adequadamente esse evento para que as eleições não representem apenas um voto dado,
mas uma postura com força de transformações em vista de novos cenários. É hora de
qualificar a participação política, que não pode se restringir aos atos formais de
votar ou de se reunir em associações comunitárias, sindicatos e partidos políticos,
mas também inclui a participação e presença nos espaços definidos pela democracia
representativa. Esta é a oportunidade para o fortalecimento da competência na defesa
dos valores éticos, da inviolabilidade da vida humana, da promoção e resgate da unidade
e estabilidade da família, do direito dos pais a educar seus filhos, da justiça e
da paz, da democracia e do bem comum.
A Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) se posiciona neste momento político por meio de importante manifesto
intitulado “Pensando o Brasil: desafios diante das eleições 2014”. Nessa mensagem,
aprovada durante sua 52ª Assembleia Geral, afirma que é indispensável combater a corrupção
sistêmica e endêmica, invisível e refinada, presente em práticas políticas e no mundo
daqueles que exercem o poder econômico, causando desigualdades, aumentando custos
e sobrecarregando os destinos da nação. Cada dia se torna mais urgente a reforma política,
lamentavelmente não desejada pelos que podem levá-la adiante. Este ano eleitoral,
portanto, é oportunidade de checar quem tem condições e vontade política de promover
essa indispensável reforma, viabilizando uma série de outras mudanças em vista da
edificação de uma sociedade mais justa.
Na mensagem, a Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil sublinha que “pesquisas têm indicado uma baixa confiança da população
nos poderes instituídos da República. Duvida-se da honestidade de todos os políticos.
Desconfia-se da existência dos programas partidários. Mesmo havendo tais programas,
não se acredita que os políticos sejam fiéis a eles. Com frequência, esse clima tem
levado o cidadão à sensação de que votar não adianta nada e de que a participação
política é inútil. Tal atitude, porém, gera um círculo vicioso: o cidadão não participa
porque as estruturas do País não correspondem aos interesses do povo; no entanto,
tais estruturas não vão mudar sem sua participação. É necessário evitar, a todo custo,
o desalento e encontrar oportunidades de agir em favor de mudanças consideradas como
necessárias”. Assim, é importante usufruir bem desta oportunidade da Copa do Mundo
para que sejam promovidas transformações, alcançadas respostas adequadas e se possa
engrossar as fileiras dos que, em todos os campos, efetivamente jogam pela vida.
Dom
Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte