2014-05-15 17:52:00

Diálogo entre católicos e anglicanos. Arcebispo Moxon: missão, novo motor do ecumenismo


Durban (RV) - Está em andamento em Durban, África do Sul, a 4ª reunião dos membros da Comissão Internacional Anglicano-católica, da terceira fase do diálogo entre a Igreja Católica e a Comunhão Anglicana (ARCIC III). A Arcic nasceu do encontro realizado em Roma em 2006, entre Bento XVI e o então Primaz Anglicano Rowan William, ocasião em que, em uma declaração comum, ambas as partes manifestaram o desejo de continuar o diálogo ecumênico iniciado em 1970, com a instituição do Arcic I e que prosseguiu em 1983 com o Arcic II, com o objetivo de superar o cisma ocorrido no século XVI. O último encontro do Arcic III foi realizado de 29 de abril a 7 de maio de 2013 no Rio de Janeiro.

O relatório resultante desta terceira fase do diálogo tratará do tema da 'Igreja como Comunhão, local e universal'. A este propósito, a Rádio Vaticano conversou com o Diretor do Centro Anglicano em Roma e Co-presidente da Comissão, Arcebispo David Moxon:

Dom David Moxon:O relatório será baseado em três perguntas: o que temos em comum e porque fazemos juntos aquilo que fazemos juntos? Naquilo que estamos trabalhando, atualmente, e sobre o qual não temos um entendimento pleno mas, poderemos ver um potencial entendimento? E por último, em que estamos em desacordo e não vemos possibilidade de entendimento? Em todos estes três âmbitos – em que nos entendemos, em que poderemos nos entender, e sobre o que não poderemos nos entender – acredito que realizaremos grandes progressos. Mas junto a isto, olhemos também ao “receptive ecumenism”, um ecumenismo aberto, que é um método segundo o qual nos aproximamos entre nós, Igrejas e comunidades diferentes no mundo, em espírito de colaboração, de apoio e de aprendizado mútuo. Aqui se trata mais de método que de conteúdo. Mas imagino que a relação prevê uma segunda parte, centrada no acolhimento do ecumenismo. Aqui em Roma existem tantos exemplos: a luta contra as formas de escravidão moderna e o tráfico de pessoas humanas, é um exemplo preciso de metodologia ecumênica”.

RV: O senhor disse que a redação deste documento está na metade do caminho. Quando pensa que será concluído?

Dom David Moxon: “Penso que ainda serão necessários dois, três anos, e acredito que no final teremos um documento que será de interesse não somente para as pessoas interessadas no ecumenismo. Espero que possa ser um documento onde as pessoas possam encontrar uma teologia de trabalho partilhada, uma teologia partilhada no modo como tomamos as decisões, uma teologia partilhada sobre missões em comum, e que possamos ver nisto uma espécie de manual, de prontuário para uma mútua colaboração a campo, cada um na própria casa”.

RV: Não sei se o senhor tem conhecimento, mas alguns precedentes Arcebispos Eméritos de Cantuária afirmaram que muitas pessoas defendem que estes colóquios da ARCIC, que se desenvolvem há mais de 40 anos, sejam irrelevantes, pois não produzem grandes frutos e que, se as pessoas não verem progressos concretos, perderão todo o interesse na iniciativa ecumênica. O que o senhor tem a dizer a este respeito?

Dom David Moxon: “Acredito que seja um desafio a ser levado a sério e responderei falando como membro da Arcic: muitos frutos nasceram destes colóquios, entre os quais uma nova rede que se chama Iarccum (International Anglican-Roman Catholic Comission on Unity and Mission – Comissão Internacional Anglicano-católica romana sobre unidade e missão), que foi instituída precisamente para publicizar, promover e educar as pessoas em mérito aos resultados obtidos. Posso olhar DVD, estudar páginas web...qualquer um, no mundo, agora pode ver aquilo que foi concordado e conseguido. E falamos de 80% de entendimento sobre Doutrina comum, coisa sobre a qual nenhum homem comum poderia nunca pensar que fosse conseguido. Temos um entendimento sobre Eucaristia, temos entendimento sobre Batismo, Sacerdócio – em termos essenciais – temos entendimento sobre comunhão da Igreja... Tudo isto, há 40 anos não existia. Podemos presidir em comum nossos matrimônios, podemos partilhar a Liturgia da Palavra ecumênica, a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas: impossível pensar nisto há 40 anos. Deus caminha na história há decênios: os passos não podem ser medidos ano a ano... Porém, devo dizer ainda que estamos diante de algo verdadeiramente novo, que trará verdadeiramente frutos: a colaboração nas missões. Acredito que a missão deva ser o novo motor do ecumenismo; o compromisso comum para a justiça, o desenvolvimento, a evangelização será sempre mais evidente e sempre mais encorajado. E, como disse, um exemplo claro disto é o acordo global sobre escravidão moderna e o tráfico de pessoas humanas como crime contra a humanidade, que as Igrejas Católica e Anglicana recentemente contribuíram para implementar, em uma rede de liberdade global”.

RV: Seguramente, o Papa Francisco e o Arcebispo Welby parecem os primeiros apoiadores deste interesse centrado em iniciativas práticas no campo da missão. Isto tem influência na maneira de conduzir os colóquios teológicos?

Dom David Moxon: “Penso que sim e ponto fundamental foi a homilia que o Papa proferiu em janeiro, na Basílica São Paulo Fora-dos-muros, na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Disse naquela ocasião: “Devemos trabalhar juntos agora, como se a unidade fosse uma realidade, não caminhar rumo à unidade como uma meta além do horizonte”. Caminhamos agora em espírito de unidade; temos – como disse – um Batismo comum e isto representa um alto grau de comunhão! Caminhar juntos na nossa identidade batismal, na nossa comunhão batismal, significa que podemos chegar a um grande resultado agora. E ele nos disse ainda: “Vivam, falem e ajam como se isto fosse possível agora”. E acredito que esta seja uma nova abordagem de uma compreensão totalmente nova...”.

RV: Nós esperamos ver em breve, aqui em Roma, o Arcebispo de Cantuária, após os encontros do Arcic. Que esperanças traz este encontro?

Dom David Moxon: “Me emociona muito isto... O primeiro encontro de julho do ano passado foi extremamente útil: a sintonia foi imediata....foi como uma centelha...eu estava presente e vi. Eram duas pessoas verdadeiramente contentes por estarem em companhia.... estavam na mesma ‘frequencia de onda’. Quando se fala de pastoral, de evangelização, os necessitados do mundo, a prioridade para os pobres, ser sinceros, viver com simplicidade, ser transparentes, ser vulneráveis, falar com amor e verdade...a sinergia foi imediata. Penso que tudo isto possa ser levado a níveis ainda mais altos, esta vez, em junho...”. (JE)








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