Francisco: acreditar com o coração, não só com o intelecto
Cidade do Vaticano (RV) – “Não se pode entender as coisas de Deus só com a
cabeça; é preciso abrir o coração ao Espírito Santo”. Foi o que disse o Papa Francisco
na missa celebrada na manhã desta terça-feira, 13, na Casa Santa Marta. O Pontífice
sublinhou que “a fé é um dom de Deus, mas não pode ser recebida por quem vive ‘separado’
de seu povo e da Igreja.
Observando as leituras do dia, Francisco falou que
existem “dois grupos de pessoas”. A Primeira Leitura mostra aqueles que se dispersaram
por causa da perseguição desencadeada depois da morte de Estevão. “Foram dispersos
com a semente do Evangelho e a levaram a todos os lugares”. No início, falavam somente
aos judeus. Depois, “de modo natural, alguns deles, ao chegarem a Antioquia, começaram
a falar também aos gregos”. “Assim, lentamente” - o Papa continuou - “abriram as portas
aos gregos, aos pagãos. Quando a notícia chegou a Jerusalém, Barnabé foi enviado a
Antioquia para uma visita de inspeção e todos ficaram contentes porque uma multidão
foi acrescentada ao Senhor”.
“Este povo – destacou Francisco – não disse
‘vamos primeiro aos judeus, depois aos gregos, aos pagãos, a todos!’ Não! Deixou-se
levar pelo Espírito Santo, foi dócil ao Espírito Santo”. Depois, uma coisa leva à
outra, e “acabaram abrindo as portas a todos: inclusive aos pagãos, que segundo sua
mentalidade, eram impuros. Abriam as portas a todos”. Este é o primeiro grupo de pessoas,
dóceis ao Espírito Santo. “Algumas vezes – acrescentou Francisco –, o Espírito Santo
nos leva a fazer coisas fortes, como levou Filipe a batizar o ministro etíope; como
levou Pedro a batizar Cornélio”.
“Outras vezes, o Espírito Santo nos conduz,
suavemente, e a virtude é justamente deixar-se levar por ele, não fazer resistência,
ser dócil ao Espírito Santo. E o Espírito Santo age hoje na Igreja, age hoje em nossa
vida. Vocês podem me dizer: “Eu nunca o vi!”; “Preste atenção, têm na cabeça coisas
boas?”. É o espírito que convida a percorrer aquele caminho! É preciso docilidade
ao Espírito Santo!”.
O segundo grupo que as Leituras nos apresentam “são
os intelectuais” que se aproximam de Jesus no templo: são os doutores da Igreja. Jesus,
observou o Papa, sempre teve problemas com eles, “porque queriam sempre entender:
refletiam sobre as mesmas coisas, pois acreditavam que a religião era somente algo
de cabeça, de leis”. Para eles, era necessário “cumprir os mandamentos e nada mais.
Não imaginavam que o Espírito Santo existisse”. Interrogavam Jesus, “queriam discutir.
Estava tudo na cabeça, tudo é intelecto”. “Nessas pessoas, acrescentou Francisco,
não há coração, não há amor e beleza, não há harmonia”, querem somente “explicações”:
“E você explica e eles, não convencidos, voltam com outra pergunta. E assim:
rodam, rodam… Rodaram em volta de Jesus toda a vida, até o momento que conseguiram
pegá-lo e mata-lo! Eles não abriram o coração ao Espírito Santo! Acreditavam que inclusive
as coisas de Deus podiam ser compreendidas somente com a cabeça, com as ideias, com
as próprias ideais. Eram orgulhosos. Acreditavam que sabiam tudo. E aquilo que não
entrava em sua inteligência, não era verdade. Um morto podia até ressuscitar diante
deles, mas não acreditariam!”.
Francisco destacou que Jesus foi além e
disse algo forte: “Vocês não acreditam porque não são parte das minhas ovelhas! Não
acreditam porque não são o povo de Israel. Abandonaram o povo. Estão na aristocracia
do intelecto”. Esta atitude, advertiu o Pontífice, “fecha o coração. Eles renegaram
o seu povo”:
“Essas pessoas se distanciaram do povo de Deus e, por isso,
não podiam acreditar. A fé é um dom de Deus! Mas a fé chega se estiver no povo, se
acreditar que esta Igreja é Povo de Deus. Ao afastar-se da Igreja, comete-se o pecado
de resistir ao Espírito Santo”.
Há “dois grupos de pessoas”, retomou o
Papa, os da doçura, das pessoas doces, humildes e abertas aos Espírito Santo”, e outro
grupo, “orgulhoso, suficiente, soberbo, distante do povo, aristocrático do intelecto,
que fechou as portas e resistiu ao Espírito Santo”.
“E não se trata de teimosia,
disse Francisco, é muito mais: “É ter o coração duro! E isso é ainda mais perigoso”.
Olhando esses dois grupos de pessoas, “peçamos ao Senhor a graça da docilidade ao
Espírito Santo para prosseguir na vida, para sermos criativos e alegres”. E quando
“há muita seriedade, o Espírito Santo não está presente”. Peçamos, portanto, “a graça
da docilidade e que o Espírito Santo nos ajude a nos defender deste espírito da suficiência,
do orgulho, da soberba e do fechamento do coração ao Espírito Santo”.