Papa recebe Ban Ki-Moon e propõe "mobilização ética mundial"
Cidade do Vaticano
(RV) – O Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, cerca de 70 participantes
do Encontro do Conselho dos Chefes Executivos para a coordenação das Nações Unidas.
Esta delegação da ONU foi liderada pelo Secretário-Geral, Ban Ki-Moon.
Para
Francisco, é significativo que este encontro se realize poucos dias depois da canonização
de João Paulo II e João XXIII – Pontífices que nos inspiraram com sua paixão pelo
desenvolvimento integral da pessoa humana e pela compreensão entre os povos. Paixão
que o Conselho de Chefes Executivos deve levar avante através de “grandes esforços”
em favor da paz mundial, do respeito pela dignidade humana, especialmente dos mais
pobres.
Um exemplo deste esforço são os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
Todavia, ressaltou o Papa, jamais se deve perder de vista que os povos merecem e aguardam
frutos ainda melhores.
Quem tem um alto grau de responsabilidade jamais deve
se conformar com os resultados alcançados, mas se empenhar cada vez mais para obter
o que falta:
No caso da organização política e econômica mundial, o que
falta é muito, já que uma parte importante da humanidade continua excluída dos benefícios
do progresso e, de fato, relegada a seres humanos de segunda categoria.
Francisco
pede que os Objetivos de desenvolvimento sustentável futuros sejam realmente formulados
com generosidade e coragem, para que cheguem efetivamente a incidir sobre as causas
estruturais da pobreza e da fome. E não só: que incidam também na proteção do meio
ambiente e na garantia de um trabalho decente para todos, salvaguardando a família,
que é o elemento essencial de qualquer desenvolvimento econômico e social sustentável.
Trata-se, em especial, de desafiar todas as formas de injustiça, opondo-se
à ‘economia da exclusão’, à ‘cultura do descartável’ e à ‘cultura da morte’, que,
infelizmente, poderiam se tornar uma mentalidade aceita passivamente.
Aos
representantes das mais altas instâncias da cooperação mundial, Francisco recordou
um episódio ocorrido cerca de dois mil anos atrás, narrado no Evangelho de S. Lucas:
o encontro de Jesus Cristo com o rico publicano Zaqueu.
Zaqueu tomou a decisão
radical de partilhar o que tinha quando a sua consciência foi despertada pelo olhar
de Jesus: “Este é o espírito que deveria estar na origem e no fim de toda ação política
e econômica. O olhar, muitas vezes sem voz, daquela parte de humanidade rejeitada
deve estimular a consciência dos agentes políticos e econômicos, e levar a escolhas
generosas e corajosas que tenham resultados imediatos, como aquela decisão de Zaqueu.”
A
consciência da dignidade humana deve nos levar a compartilhar, com total gratuidade,
os bens que a providência colocou em nossas mãos, sejam essas riquezas materiais ou
espirituais. Esta abertura generosa deve estar acima dos sistemas e das teorias econômicas
e sociais. Jesus não pede a Zaqueu de mudar o próprio trabalho, mas o induz simplesmente
a colocar tudo, livremente, mas imediatamente, a serviço dos homens.
Enquanto
os encorajo a prosseguirem neste trabalho, que é um serviço a todos os homens, os
convido a promoverem juntos uma verdadeira mobilização ética mundial que, para além
de qualquer diferença de credo ou de opinião política, difunda e aplique um ideal
comum de fraternidade e de solidariedade, especialmente pelos mais pobres e excluídos.