Dom Zenari sobre a situação na Síria: é preciso verificar sempre a verdade dos fatos
Damasco (RV) - As violências na Síria não dão sinal de arrefecimento. Os combates
prosseguem no leste do país entre grupos rivais de rebeldes jihadistas: são
ao menos 70 mortos nas últimas horas, apesar do apelo do chefe de Al Qaeda Ayman al-Zawahri
a evitar confrontos internos. Enquanto isso, todos os dias milhares de pessoas abandonam
o país. O Líbano define a situação intolerável, após a chegada de mais de um milhão
de refugiados sírios. "Há três anos a Síria vive um tempo de paixão", comenta o núncio
apostólico em Damasco, Dom Mario Zenari, entrevistado pela Rádio Vaticano:
Dom
Mario Zenari:- "Há três anos vive-se o tempo da paixão e, sobretudo, neste momento,
no leste da Síria, por causa também de confrontos entre facções rebeldes em luta entre
si, milhares de sírios em fuga: portanto, todos os dias milhares de deslocados, todos
os dias milhares de refugiados... Semanas atrás as cinco agências humanitárias das
Nações Unidas lançaram um apelo afirmando que o tinham pedido há cerca de um ano às
partes em conflito, ou seja, que permitissem o acesso às ajudas humanitárias, foi
desatendido, e ressaltam o agravamento da situação humanitária, dia após dia. Dias
atrás a ONU voltou a cobrar à comunidade internacional por não fazer o suficiente,
sobretudo para os milhões de deslocados refugiados nos países vizinhos."
RV:
A propósito ainda das violências, as imagens de dias atrás provenientes de Ar Raqqah
(centro-norte da Síria), de execuções bárbaras, tiveram ampla repercussão...
Dom
Mario Zenari:- "A região está praticamente inacessível. É difícil ter notícias
de lá. Portanto, não posso fazer afirmações sobre o ocorrido em relação às fotos que
circularam. Posso somente dizer, isso sim, com certeza, que meses atrás todos os cristãos
partiram daquela região. Talvez tenha ficado algum... Na realidade, não se sabe quem
eram aquelas pessoas ali, colocadas na cruz... Esta manhã li na Internet – mas não
sei qual credibilidade se possa dar a isso – que ativistas daquela região dirigiram
um gentil apelo ao Santo Padre, uma observação dizendo: "Santidade, aquelas duas pessoas
crucificadas nas fotos não são cristãs, são parte de um grupo islâmico que é inimigo
de outro grupo fundamentalista". Não é possível dizer se é crível essa observação
enviada ao Santo Padre por estes chamados ativistas de Ar Raqqah. Ao invés, posso
confirmar que o que circulou tempos atrás, de cristãos crucificados em Maalula, é
falso. Portanto, diria que é preciso estar atento à chamada "guerra midiática": é
preciso ser cauto, verificar sempre a verdade dos fatos."
RV: Mesmo
porque imprecisões deste tipo podem provocar conseqüências muito negativas...
Dom
Mario Zenari:- "É claro. Podem insultar uns ou outros... Diria que é preciso ater-se
à verdade dos fatos, não caiamos em alarmismos que não têm fundamento." (RL)