2014-04-28 18:38:42

Diálogo judaico-cristão, um patrimônio ainda a frutificar. Simpósio à luz dos Santos João XXIII e JP II


Roma (RV) – O diálogo entre cristãos e muçulmanos, “um grande patrimônio ainda em espera de ser feito frutificar”. É este, em síntese, o sentido do encontro sobre o diálogo judaico-cristão, à luz dos Papas João XXIII e João Paulo II, nas palavras do Presidente da Comunidade de Santo Egídio, Marco Impagliazzo. O Simpósio intitulado “De João XXIII a Francisco: judeus e cristãos em diálogo”, realizaou-se nesta segunda-feira, 28, em Roma. Entre os conferencistas, Andrea Riccardi e Marco Roncalli, os Cardeais Walter Kasper e Kurt Koch, os Rabinos Riccardo Di Segni, David Rosen e Abraham Skorka e o Diretor Geral do Grande Rabinato de Israel, Oder Wiener. O encontro realizou-se um dia após as canonizações de João XXIII e João Paulo II, “dois homens corajosos” – sublinhou Papa Francisco – que “conheceram as tragédias do século XX, mas não se deixaram abalar”.

“Os dois novos Santos – salientou Impagliazzo -, tiveram um papel decisivo na reaproximação entre as duas religiões”. Foi graças a eles, aos seus gestos e aos seus ensinamentos, que os católicos “redescobriram suas raízes judaicas”.

O fundador da Comunidade de Santo Egídio, Andrea Riccardi, destacou a centralidade da figura de João Paulo II neste diálogo. “No ambiente polonês entre as duas guerras – observou – o anti-semitismo perpassa o mundo católico”, mas o jovem Wojtyla torna-se, precocemente, uma “testemunha da convivência entre poloneses e judeus”, antes em Wadowice - onde conhece conterrâneos judeus com os quais tem “serenos encontros” - e depois em Cracóvia, onde vê de perto os judeus condenados à morte”, vendo na Shoah “uma tragédia única da qual foi testemunha”.

“Os campos de concentração permanecerão para ele como o símbolo do inferno sobre a terra. Nestes manifesta-se o máximo do mal que o homem é capaz de fazer a outro homem”, dirá em 1976, ao pregar os exercícios espirituais para Paulo VI e a Cúria Romana. Mas será como Papa que dará o máximo impulso às relações entre católicos e judeus, com a visita ao Templo Maior de Roma durante a qual “expressa as ligações incanceláveis entre cristianismo e judaísmo” e “reconhece o sofrimento do povo judaico devido ao anti-semitismo, mesmo católico e da Shoah”. Após, vem a declaração dos judeus como “irmãos maiores” e o reconhecimento diplomático do Estado de Israel em 1993, seguido pela viagem à Terra Santa, sete anos depois, quando João Paulo II definiu o anti-semitismo como “um grande pecado contra a humanidade”.

O Presidente do “American Jewish Committee”, Rabino David Rosen, destacou a importância de dois gestos – o reconhecimento do Estado de Israel e a sucessiva visita à Jerusalém -, “pois hoje, para os judeus, é impossível definir-se sem uma relação com o seu Estado. E, portanto, uma vez superada a preocupação de Israel em relação à atitude da Igreja sobre este tema, o diálogo pode desenvolver-se facilmente. Diálogo, de fato, é compreender-se um ou outro no mundo em que o outro compreende a si mesmo”.

Por sua vez, o Rabino Chefe de Roma, Riccardo Di Segni, sublinhou em particular “o desejo do Papa João Paulo II em reconstruir uma relação com os judeus sobre novas bases, e a sua sensibilidade midiática que o levava a traduzir os conceitos teológicos em ações que todos podiam compreender”, como quando definiu Auschwitz como “o Gólgota de nossa época”, mesmo sendo uma “expressão problemática para os judeus”. “Nos encontramos diante de processos históricos que mudaram a história das nossas relações” - afirmou; as coisas passam a ser vistas numa justa perspectiva histórica sem diminuir a importância destes gestos e o percurso que nos resta fazer. Existe ainda uma montanha de rigidezes teológicas, também de nossa parte. Estas grandes personalidades são filhas de seu tempo: é necessário saber navegar nas dificuldades da história e da teologia para entender que estes problemas são resolvidos antes com as relações entre as pessoas, com a amizade e a fraternidade”, concluiu Di Segni.

Já o Rabino argentino, Abraham Skorka, amigo de Bergoglio, afirmou no seu pronunciamento que a viagem de Francisco à Terra Santa, em maio, será “um forte sinal para a paz”. “Sonhamos que deixe uma marca, um sinal forte, para a paz na região e para o diálogo entre judeus e cristãos”, afirmou, sublinhando que “a função das três religiões monoteístas, que não são pagãs, é preparar o caminho para um mundo melhor. Este é o desafio que deve transcender as religiões”.

No pronunciamento, Skorka falou ainda de sua amizade com o Papa Bergoglio, nascida em Buenos Aires. Falou das brincadeiras sobre futebol, mas também de quando o futuro Papa escolheu o amigo judeu para partilhar um momento doloroso da vida pessoal. “Lhe perguntei porque havia escolhido justamente a mim e ele me respondeu que foi algo que lhe veio do coração”.

Para o Cardeal Walter Kasper, “as relações de boa cooperação e de estável amizade” que se estabeleceram entre cristãos e judeus são mais importantes do que muitos volumes de documentos publicados sobre diálogo e o mútuo reconhecimento. Mas do ponto de vista teológico, o Presidente Emérito da Comissão para as relações religiosas com o Judaísmo defendeu que “Judaísmo e Cristianismo tem necessidade um do outro, e portanto, dependem um do outro. Um verdadeiro ecumenismo sem Israel não é possível”, afirmou. E recorrendo à metáfora das raízes e dos ramos de uma mesma árvore, o Cardeal afirmou que “se os ramos são cortados pela raiz se enfraquecem e morrem; mas as próprias raízes, sem os ramos, permanecem privadas de frutos”.

Para o Presidente da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, Cardeal Kurt Koch, o anti-semitismo “é um flagelo difícil de ser arrancado pela raiz, mesmo nos nossos dias”, e por isto, “a Igreja Católica tem sempre o dever de sair a campo contra este temível fenômeno como fiel aliada do judaísmo”. Para o Cardeal Koch, houve uma “reviravolta epocal” na relação entre judeus e cristãos foi impressa em particular por Paulo VI, mas, todos os Pontífices que o sucederam, a partir do Concílio Vaticano II, trabalharam nesta direção”. (JE)








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