2014-04-25 18:51:19

Card. Etchegaray revela as origens do 'Encontro das religiões pela Paz', em Assis


Cidade do Vaticano (RV) - O grande encontro das religiões mundiais pela paz, convocado pelo Papa João Paulo II para Assis, em 27 de outubro de 1986, permanece como um dos eventos que caracterizaram o Pontificado de Wojtyla.

Ao reunir representantes de diversas religiões na cidade de São Francisco, João Paulo II lançava as bases sobre as quais devia fundar-se a pacífica convivência entre culturas e religiões diversas. Mas poucos sabem que a idéia da Jornada Interreligiosa de Assis foi dada a Wojtyla pelo cientista alemão, Carl Friedrich von Weizsaecker, irmão do Presidente da Alemanha, um físico que nos anos 30 havia participado do programa nuclear militar de Hitler e depois recusou-se a contribuir na fabricação da bomba atômica nazista.

A revelação foi feita pelo Presidente Emérito do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, o Cardeal francês Roger Etchegaray - o maior colaborador de João Paulo na organização da Jornada de Assis -, no livro “Os Papas da paz”, de Nina Fabrizio e Fausto Gasparroni, recém lançado pela Ed. Rizzoli. No testemunho, o Cardeal explica, entre outras coisas, as origens daquele evento histórico.

“Um dos grandes sinais do seu pontificado foi Assis, em 27 de outubro de 1986 – disse Etchegaray a propósito de Wojtyla. O Papa havia convidado, pela primeira vez na história, chefes religiosos do mundo inteiro para o Dia de Oração pela Paz. Pouquíssimos conhecem a origem de uma iniciativa assim insólita”, assegurou.

“Em 10 de junho de 1985, Carl Friedrich von Weizsaecker, irmão do Presidente da Alemanha, escreveu uma carta a João Paulo II. Este físico de 73 anos, Diretor do Instituto Max Planck, havia recusado participar da fabricação da bomba atômica alemã”, contou o Cardeal francês.

“Obcecado pelas ameaças de uma guerra nuclear – continuou Etchegaray – o físico havia recém escrito um livro 'Die Zeit draengt' (O tempo corre). A sua carta estava acompanhada de um apelo para ‘convocar um concilio pela paz’. De confissão luterana, ele perguntava ao Papa quem poderia convidar, e quem poderia ser convidado para este ‘concilio’”.

O Cardeal Emérito francês recordou que “João Paulo II levou a sério este apelo”. “Precedida por uma consulta – explicou -, foi confirmada a importância da questão, mas sendo inter-religiosa, não poderia ter a forma canônica de um concilio. Assim, orientou-a para a idéia de um ‘dia de oração’, por ocasião do Ano Internacional da Paz, que a ONU havia recém proclamado”.

“A partir daí, portanto, partiu a organização do evento, a escolha da sede na cidade do “pobrezinho”, os contatos com os representantes das outras religiões”, aspectos em que Etchegaray foi o primeiro referencial do Papa”.

O físico Carl Friedrich von Weizsaecker (Kiel, 1912 - Soecking, 2007) foi o membro mais longevo do ‘team’ de pesquisa nuclear na Alemanha nazista durante a segunda guerra mundial, sob o comando do Prêmio Nobel Werner Heisenberg. Era filho do diplomata Ernst e irmão de Richard von Weizsaecker, que posteriormente tornou-se Presidente da Alemanha.

Nos anos 30, ele participou do programa nuclear de Hitler, no grupo de pesquisadores, onde os expoentes eram ele e Heisenberg. Os estudos sobre a possibilidade de construir armas nucleares, no entanto, não foram levados a termo. Às vésperas do conflito mundial, o seu nome foi citado por Albert Einstein em uma carta enviada ao Presidente estadunidense Roosevelt. Em 1945, ele foi capturado por forças especiais dos aliados junto a outros cientistas alemães e levado para a Farm Hall, na Inglaterra, próximo a Cambridge.

No pós-guerra, voltou a se dedicar aos estudos de física e à docência, em particular no Instituto Max Planck. O espectro das armas atômicas e de seu poder destrutivo tornaram-se para ele uma obsessão. Por isto quis escrever ao Papa para que convocasse um “concílio da paz”. (JE)









All the contents on this site are copyrighted ©.