Fundação João Paulo II para Sahel - sinal do amor de Deus manifestado pelo Papa Wojtyla
àquelas populações africanas
Na iminência
da canonização de Papa Roncali e do Papa Wojtyla, recordamos hoje aqui na rubrica
“África Global” a Fundação João Paulo II para o Sahel…
Numa homilia muito
articulada em que estabelecia uma relação entre a questão da água na Bíblia e a seca
no deserto africano do Sahel, o Papa João Paulo II lançava, a 10 de Maio de 1980,
em Ougadougou, no actual Burkina-Faso, um premente apelo às instituições internacionais,
aos governos, às ONG’s, aos investigadores, aos fieis do mundo inteiro… a ajudarem,
de todas as formas, as populações sahelianas martirizadas pela seca e a desertificação…
A esse apelo responderam com generosidade sobretudo os fieis católicos da
Alemanha, aos quais se juntou mais tarde a Conferência Episcopal Italiana.
Quatro
anos mais tarde, em 1984, o Papa criava a Fundação João Paulo II para o Sahel para
- dizia – “dar forma orgânica, permanente e eficaz às ajudas da Igreja destinadas
aos Países do Sahel, num espírito de caridade e de autêntica promoção humana”.
2014 é, portanto, o trigésimo aniversário da Fundação, e é o ano da canonização
do Beato João Paulo II. Mais do que uma simples coincidência, trata-se de um mistério
– consideraram os bispos africanos administradores da Fundação, na sua assembleia
anual, no Senegal, em Fevereiro passado.
Senegal é, de facto, um dos nove
países membros da Fundação. Os outros oito são Cabo Verde, Guiné-Bissau, Chade, Gâmbia,
Mali, Mauritânia e Níger.
A Fundação tem um secretariado em Ouagadougou, capital
do Burkina-Faso, mas a sua sede é no Vaticano, junto do Conselho Pontifício “Cor Unum”
que a tutela legalmente e controla o capital, informando periodicamente o Pontífice
sobre a situação.
Segunda-feira, numa conferência de imprensa, sobre as duas
Fundações criadas pelo Papa João Paulo I - a para o Sahel e a Fundação Populorum Progressio
para a América Latina - o actual Secretário de Cor Unum, Mons. Dal Toso, fazia notar
que o Papa João Paulo II sempre quis evitar que a Fundação fosse uma imposição dos
países do Norte aos do Sul, como muitas vezes acontece. De facto, numa das ocasiões,
Karol Wojtyla sublinhava que citamos “a solução está nas mão dos africanos: colaborar
com eles, mesmo no plano técnico, não quer dizer substituí-los”. Trata-se, portanto,
duma realização concreta da comunhão eclesial, fruto também da co-responsabilidade
de todos.
Por sua vez, na emissão “Afrofonia” da RV, dedicada sábado passado
à Fundação JPII para o Sahel, Mons. Karel Kasteel, antigo Secretario do “Cor Unum”
e como tal observador da Santa Sé junto da Fundação João Paulo II para o Sahel, falava
com grande alegria da Fundação…
“É uma grande alegria poder falar desta
Fundação pontifícia que acompanhei quase desde o início, de 1993 a 2009 e, por isso,
vi como o ideal do grande Santo Papa João Paulo II se pôde realizar. É verdade que
o objectivo principal era e é combater a seca e colaborar para encontrar a melhor
forma de combater a desertificação, mas por vezes esquece-se que o espírito da Fundação
é também o de levar toda a população, não só católicos, mas também muçulmanos e membros
da Religião Tradicional Africana a colaborar nisso. Aliás, é preciso também recordar
a memória do servo de Deus, Cardeal Zoungrana, arcebispo de Ouagadougou (primeiro
arcebispo africano francófono) que inspirou o Papa para que criasse essa Fundação
com vista também numa grande colaboração entre todos, tanto é que uma importante oferta
para a Fundação foi feita por um muçulmano do Burkina-Faso em jeito de reconhecimento
pela atenção que o Papa João Paulo II tinha tido em relação a esse grande país”.
Como observador do Papa junto da Fundação, teve a oportunidade de visitar
os países beneficiários dela. Que imagem se fez deles e da utilidade da Fundação para
eles?
“Como observador do Papa pude efectivamente visitar
os nove países. Cada um tem a sua própria identidade e características próprias. É
verdade que o Burkina-Faso, estando de certo modo no centro, exerceu maior influência
sobre o conjunto dos países, tanto é que por um certo tempo nos reuníamos sempre lá,
mas devo dizer que conservo maravilhosas recordações seja do Níger, seja de Cabo Verde…
as ilhas de Cabo Verde juntaram-se depois à Fundação… primeiro eram só 8 países; depois,
graças ao então bispo da Praia, pôde-se acrescentar Cabo Verde à Fundação. E então
passamos a ter também Cabo Verde que, como sabe, é um país de antiga tradição católica,
tem muitos séculos de catolicismo, enquanto que os outros são de mais recente cristandade…
mas cada um deles é tão maravilhoso que quando uma pessoa vai uma vez, fica sempre
com vontade de regressar… Também é marcante a gratidão das pessoas, o apego que têm
em relação ao Santo Padre e a compreensão do desejo que João Paulo II teve de ajudar
mesmo as populações das aldeias mais remotas a fim de que as mulheres não tenham de
ir buscar a água sabe-se lá a quanto quilómetros de distância…. É todo
um conjunto de coisas! … Um dos projectos de que me recordo particularmente era nos
arredores de Bamako, no Mali, um dos maiores países do Sahel, um projecto que permitia
a um grupo de mulheres ter perto da cidade hortas onde pudessem cultivar, com água
suficiente, tudo o que lhes ocorria para a alimentação familiar e também vender um
pouco daquilo que cultivavam. Visitar esse projecto, (assim como tantos outros),
foi uma festa porque via-se que a Fundação tinha atingido a sua velocidade de cruzeiro,
como costumava dizer o Cardeal Etchegaray que, na qualidade de Presidente do Cor Unum
na altura, visitou também esses países para constatar pessoalmente o andamento da
Fundação.”
A Fundação forma animadores, operadores da saúde, hidráulicos,
mecânicos, agricultores, criadores de gado, técnicos florestais, etc. Financia sobretudo
pequenos projectos comunitários, realizados em colaboração com a Igreja e com as comunidades
locais. É também um instrumento de diálogo inter-religioso, na medida em que a grande
maioria dos beneficiários nos nove países membros são de religião muçulmana.
Actualmente
a Fundação está em fase de reestruturação. É que a crise financeira internacional
faz-se sentir também sobre ela. Mas é só isso? Ainda Mons. Karel Kasteel…
“Inicialmente houve essa grande generosidade dos católicos alemães
na sequência do apelo feito – recordo - de joelhos pelo Papa no Estádio de Ouagadougou.
Depois, a generosidade todos os anos da Conferência Episcopal italiana. Mas não é
tanto o facto que os fundos diminuem, é que aumentam os projectos, aumenta a necessidade
de ajudar as pessoas. Por isso, não há dúvida de que o capital deve ser aumentado.
E, como para todas as fundações, é preciso encontrar, de um modo ou doutro, mais fundos
para ir ao encontro das necessidades: bolsas de estudo, procura da água… e de tudo
o que serve para combater a desertificação que é, efectivamente, um problema gravíssimo
em toda essa região.”
No âmbito da reestruturação da Fundação – disse-nos
tanto Mons. Dal Toso como D. Pedro Zilli, bispo de Bafatá na Guiné-Bissau – está-se
a tentar diversificar as fontes de entrada. Neste sentido nasceu recentemente na França,
por ex., uma Associação Amigos da Fundação João Paulo II para o Sahel que vai também
ajudar a modernizar o site. Também se está a tentar sensibilizar os próprio africanos,
especialmente os que têm meios, para que contribuam para o capital da Fundação. Recorde-se
que uma vez por ano, fazem-se colectas em cada um dos países membros destinadas à
Fundação. No plano administrativo – disse-nos D. Pedro Zilli - vão tentar reduzir
as despesas de viagens para reuniões, procurando fazê-las via skipe, por ex.
A
Fundação gere anualmente cerca de dois milhões de dólares. Em 2013 financiou,
nos nove países membros, 131 projectos num total de 1 milhão e 600 mil dólares.
No âmbito desta reestruturação, um perito francês na elaboração de projectos,
contratado pelo Conselho Pontifício Cor Unum está a fazer uma ronda pelos países
membros da Fundação para formar formadores… Em Cabo Verde esteve 6 dias no início
de Março. Marina Almeida, Secretária da Caritas Nacional dava conta disso, em entrevista
à Rádio Nova, sublinhando o empenho a fim de que a Fundação que é dos sahelianos leve
avante o seu objectivo de promoção humana das comunidades.
Com efeito, é
com olhos postos no crescimento integral e humano das comunidades que a Igreja age,
manifestando a misericórdia e a proximidade de Cristo em relação a quem está em dificuldades,
sublinhava o Papa João Paulo II, no encontro com os Conselhos de Administração
das duas Fundações, Populorum Progressio e João Paulo II para o Sahel, em Julho de
2000…
“(…) Através da sua acção, a Igreja quer indicar que Deus
se faz próximo de quem está em dificuldades para que volte a ter esperança e dignidade.
A Igreja não pretende ser uma simples agência de ajuda humanitária; quer, isso sim,
dar testemunho da caridade de Cristo que liberta o ser humano de todos os males. Nesta
luz vão as iniciativas empreendidas por estas duas fundações em nações e continentes
particularmente provados. É nesta luz que se coloca toda a acção caritativa da Igreja,
que o Conselho Pontifício “Cor Unum” é chamado a inspirar e a coordenar.”