"Mulheres Semeadoras de Desenvolvimento" - Prémio Cáritas Internacional para a segurança
alimentar
“Mulheres,
Semeadores de Desenvolvimento” é o título dos dois prémios que a Caritas Internacional
vai outorgar em Outubro próximo a projectos que tenham a mulher como protagonista
no favorecimento do acesso à alimentação. Dulce Araújo falou com Martina Liebsch,
Directora das Políticas Internacionais desta organização caritativa da Igreja católica.
Para saber mais oiça ou leia aqui...
Desenraizar a fome do mundo é
possível. Dizem-no muitos peritos na matéria, tem-no afirmado os Papas Bento XVI e
Francisco e disto está convicta a Caritas Internacional, que lançou em Dezembro passado
a Campanha mundial “Uma família humana: pão para todos”. E a 8 de Março passado,
Dia Internacional da Mulher, pela primeira vez celebrado na Cidade do Vaticano, juntou
a essa campanha o prémio “Mulheres, Semeadoras de Desenvolvimento”. É que, como se
sabe, 80% do trabalho da agricultura no mundo é feito por mulheres. Mas elas só têm
acesso a 1% da terra arável a nível planetário. Sabe-se também, através de estudos
e estatísticas, que se as mulheres tiverem acesso ao crédito podem tirar 150 milhões
de pessoas da fome. O que contribuiria para a redução dos cerca de 850 milhões de
pessoas que actualmente passam fome no mundo.
Então, no âmbito da sua campanha
“Uma Família Humana: Pão para Todos”, a Caritas Internacional, que reúne as
caritas nacionais de 164 países, começou a reflectir sobre como incentivar ulteriormente
a criatividade das mulheres e fazer com que o seu trabalho para a segurança alimentar
e o bem estar da família seja reconhecido. Foi assim que, em diálogo com a Fundação
Fidel Gotz, surgiu a ideia:
“Porque não criar um prémio que valorize os projectos
realizados por mulheres, que são benéficos para elas, que asseguram que elas, as suas
famílias e as suas comunidades tenham acesso à alimentação, alimentação equilibrada,
salutar? .
O Prémio foi lançado a 8 de Março também com o objectivo de individuar,
através dos projectos que serão apresentados, novas medidas, novas técnicas, novas
práticas que podem ser repetidas noutros lugares e possam inspirar a própria Cáritas
Internacional e não só, no desenraizamento da fome no mundo…
“Vemos que,
em vários países, as mulheres são responsáveis pela alimentação da família, pela saúde
da família, pelo trabalho agrícola…, mas este trabalho não é reconhecido. E acrescentando
a tudo isso o facto de que as mulheres investem todos os seus recursos na família
para assegurar a educação dos filhos, a saúde, o bem estar geral da família, pareceu-nos
que o contexto da campanha, “pão para todos” era o momento propício para valorizar
esse trabalho da mulher e fazer dele uma fonte de inspiração, isto é receber projectos
que podem servir de modelo para outras situações e realidades. E não é por moda que
o relator especial da ONU, Olivier De Schuter, que analisou a temática, diz que uma
das soluções contra a fome no mundo é precisamente isto: investir nas mulheres. Sabe-se,
por exemplo, que uma criança nascida duma mulher instruída corre menos o risco de
ser malnutrida do que de uma mulher analfabeta.”
A Caritas internacional
espera, portanto, que se apresentem para o prémio não só grandes projectos, mas também
pequenas iniciativas que favorecem as comunidades e levam a reflectir sobre vários
aspectos ligados à agricultura, à água, à terra…. Enfim, temas relacionados também
com “2014, Ano Internacional da Agricultura Familiar” lançado pela FAO, PAM e FIDA
e que a Caritas Internacional apoia, vendo em tudo isto uma parte da solução à questão
da fome no mundo.
*** “Mulheres, Semeadores de Desenvolvimento” – dois
prémio a serem atribuídos em Outubro próximo pela Caritas Internacional, portanto,
em colaboração com a Fundação Fidel Gotz. Será apenas este ano, ou o prémio será atribuídos
todos os anos? A Caritas e a sua parceira nisto não decidiram ainda com qual periodicidade
atribuí-lo, mas para além da Fundação Gotz, esperam encontrar fundos ulteriores para
poder dar continuidade ao prémio.
“A ideia de fundo é que não seja
dado só uma vez, esperando encontrar fundo ulteriores para continuar a atribuí-lo…
Desta vez o dinheiro para o prémio – dez mil euros cada – foi oferecido pela Fundação
Fidel Goetez, estamos-lhes gratos por esta oportunidade, esperando que daqui a dois
ou três anos – não decidimos ainda qual será o ritmo – possamos premiar outros projectos
sobre mulheres e um outro prémio que será mesmo centrada sobre uma outra temática.
É por isso que o prémio se chama “Semeadoras de Desenvolvimento” para deixar a porta
aberta para outras focalizações. Este ano queremos dar dois prémios: um a um projecto
“Caritas no Terreno” e outro a um projecto da sociedade civil de forma mais ampla,
que seja apoiada pela Caritas…poderá ser uma cooperativa de mulheres… não sei… uma
pequena iniciativa numa comunidade… e cada uma das duas premiadas receberá 10 mil
euros que, esperamos, ajude o projecto a ir para a frente.”
Os nomes das
duas vencedoras serão anunciados no dia 16 de Outubro de 2014, Dia Internacional da
Alimentação. A Caritas Internacional tenciona convidar as vencedoras à sua próxima
Assembleia Geral, em Maio de 2015, e à Exposição Universal desse ano em Milão, cuja
tema é “Nutrir o Planeta: Energia para a vida” e onde ela vai desenvolver uma série
de eventos. ***Todas as informações sobre o Prémio “Mulheres, Semeadoras de Desenvolvimento”
estão no site da Caritas Internacional em .
Mas como fazer chegar estas informações
a tantas mulheres dos meios rurais e mesmo urbanas que não têm acesso à internet?
Não há dúvida de que nisto serão de grande ajuda as caritas regionais e nacionais…
“Sim claro. Partimos certamente do site, mas vamos começar a enviar o material,
o link às Caritas regionais, sub-regionais, locais e elas deverão fazer o trabalho
de difusão; e esperamos que as comunidades mais pequenas tenham o apoio das caritas
locais e doutras pessoas para poderem fazer o pedido”.
A data limite para
a apresentação dos projectos candidatos ao prémio é 16 de Junho próximo. E os critérios
para concorrer e para a selecção são estes:
“Antes de mais digamos que
o projecto deve ser centrado numa realidade local, não deve ser um projecto elaborado
ad hoc, repentinamente, mas existente desde há pelo menos dois anos; deve ser feito
por uma comunidade ou por uma organização reconhecida oficialmente; não deve ir contra
os ensinamentos da Igreja e, mais do que isso, deve ser centrado na temática da alimentação,
isto é como assegurar que uma comunidade possa ter de forma mais fácil, mais sustentável
e mais justa acesso à alimentação. Isto não quer dizer que deve ser só iniciativas
sobre a agricultura. Pode ser também actividades de educação, actividades que ajudam
as mulheres a ter acesso ao mercado, enfim a melhorar o acesso à alimentação e, finalmente,
esperamos que dos projectos apresentados venha alguma inspiração, ideias a serem debatidas,
aprofundadas” .
A selecção será feita em duas etapas: a Caritas Internacional
recebe os projectos, encaminha-os para as Caritas Regionais (ou continentais) de modo
a elas fazerem uma pré-selecção; cada região escolhe três projectos que serão, seguidamente,
submetidos a um júri internacional, que escolherá os dois projectos vencedores.
***As
estatísticas internacionais indicam, como vimos, aliás no início, que 80% do trabalho
na agricultura é feito por mulheres, mas elas têm acesso a apenas 1% das terras aráveis.
Isto quer dizer que trabalham em terras pertencentes a homens (maridos, pais, irmãos,
etc.). Que incidência poderá ter, então, este prémio na mudança de mentalidade e de
leis a fim de que as mulheres tenham mais acesso à terra?
“É uma óptima
pergunta. Esperamos que, quem sabe!, alguma iniciativa possa ir neste sentido – recordo-me
que num colóquio há tempos havia uma iniciativa, se não estou em erro, dum país africano
– que ajudava as mulheres precisamente ater acesso à terra mesmo através de projectos,
medidas legais, e espero que este premio e os seus projectos que seguramente nos farão
compreender melhor quais são os problemas com que as mulheres se defrontam, ajudem
a criar um debate que possa desembocar em medidas mais concretas, mais justas e que
talvez ajude as mulheres a ser corajosas, a assumir os seus destinos. Recordo ter
participado num colóquio em que uma senhora do Mali, creio, dizia que há grupos de
mulheres que são excluídos, que as viúvas não têm acesso a nada, a nada, são um grupo
totalmente marginalizado. Então, a mensagem seria essas mulheres se encham de coragem
e, juntamente com outras mulheres, enfrentem essa situação e comecem a fazer um trabalho
político, talvez ainda antes disso, um trabalho de auto-organização para enfrentarem
essas situações.”
***
Era pois a Directora das Politicas Internacionais
da Caritas Internacional, com sede no Vaticano, Martina Liebsch. Falou-nos acerca
do prémio “Mulheres, Semeadoras de Desenvolvimento” que este organismo caritativo
da Igreja, juntamente com a Fundação Fidel Gotz, vai atribuir este ano a dois projectos
sobre a alimentação que tenham mulheres como protagonistas. Cada premiada, ou cada
projecto premiado, receberá um montante de 10 mil euros para dar continuidade ao projecto.
Então, caras e caros ouvintes, se tendes ou conheceis mulheres com projectos
que preencham as condições para este Prémio, não hesitem em contactar a Caritas da
vossa Diocese para mais informações, ou então consultem o site: www.caritas.org.
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