Papa no Angelus: não há nenhum limite para a misericórdia de Deus
Cidade do Vaticano (RV) - "Cristo não se resigna aos sepulcros que construímos
com as nossas escolhas de mal e de morte." Na alocução que precedeu a oração do Angelus,
ao meio-dia deste domingo, o Papa comentou a página do Evangelho que narra a ressurreição
de Lázaro, na liturgia deste V domingo da Quaresma, para explicar que todos somos
chamados a "sair do túmulo em que nossos pecados nos lançaram".
Já na saudações
após a oração mariana, o pensamento do Santo Padre voltou-se para Ruanda no 20º aniversário
de início do genocídio contra os Tutsis, com um encorajamento a "continuar, com determinação
e esperança, o processo de reconciliação".
E, recordando o terremoto de 5 anos
atrás que abalou a cidade italiana de Áquila fez votos de que "solidariedade e renascimento
espiritual sejam a força da reconstrução material".
Ainda na Praça São Pedro,
a alegria com que milhares de fiéis e peregrinos acolheram o livro de bolso trazendo
os quatro Evangelhos e os Atos dos Apóstolos, que o Papa ofereceu gratuitamente aos
presentes.
Mas passemos, então, às palavras do Pontífice em sua alocução:
"Um
convite a deixar-nos libertar das amarras do orgulho. Porque o orgulho nos faz escravos,
escravos de nós mesmos, escravos de tantos ídolos, de tantas coisas."
Francisco
recordou que Jesus "nos chama insistentemente a sairmos da escuridão da prisão em
que nos fechamos". O Papa descreveu claramente a prisão: falou de "uma vida falsa,
egoísta, medíocre".
"Cristo não se resigna aos sepulcros que construímos
com nossas escolhas de mal e de morte, com nossos erros, com nossos pecados. Ele não
se resigna diante disso!"
Como a Lázaro, Jesus diz a cada um de nós: "Venha
para fora!"
"Venha para fora! É um belo convite à verdadeira liberdade."
"A
nossa ressurreição – explicou o Papa Francisco – começa quando decidimos obedecer
ao mandamento de Jesus saindo para a luz, para a vida:
"Quantas vezes somos
desmascarados pelo pecado, as máscaras devem cair! Quando caem as máscaras de nosso
rosto e reencontramos a coragem de nosso rosto original, criado à imagem e semelhança
de Deus."
O gesto de Jesus que ressuscita Lázaro – explicou-nos o Bispo
de Roma – "mostra até onde pode chegar a força da Graça de Deus e, portanto, até onde
pode chegar a nossa conversão, a nossa mudança":
"Ouçam bem: não há nenhum
limite para a misericórdia divina oferecida a todos! O Senhor está sempre pronto para
tirar a pedra tumular de nossos pecados, que nos separa d'Ele, a luz dos vivos." Não
há nenhum limite para a misericórdia divina oferecida a todos! Recordem-se bem dessa
frase. E podemos dizê-la todos juntos: "Não há nenhum limite para a misericórdia divina
oferecida a todos". Digamos juntos: "Não há nenhum limite para a misericórdia divina
oferecida a todos."
O Papa repetiu mais vezes a certeza da misericórdia
de Deus sem limites, convidando os fiéis a repetirem juntos com ele essa certeza que
salva, voltando à conclusão de sua reflexão. Após a oração mariana, seu pensamento
dirigiu-se ao povo de Ruanda:
"Desejo expressar a minha paterna proximidade
ao povo ruandês, encorajando-o 'a continuar, com determinação e esperança, o processo
de reconciliação que já deu seus frutos, e o compromisso de reconstrução humana e
espiritual do país'."
Em seguida, disse Francisco: "Não tenham medo! Na
rocha do Evangelho construam a sociedade de vocês, no amor e na concórdia, porque
somente assim se gera uma paz duradoura! Recordo com afeto os bispos ruandeses que
estiveram aqui, no Vaticano, semana passada. E agora convido todos vocês a rezarem
pela intercessão de Nossa Senhora de Kibeho".
De fato, Francisco dirigiu um
pensamento também à comunidade de Áquila – recordou – que "tanto sofreu, ainda sofre,
luta e espera" com tanta confiança em Deus e em Nossa Senhora, com a oração "pelas
vítimas do terremoto e pelo caminho de ressurreição do povo aquilano".
Ademais,
o Papa pediu ao mundo atenção pelas vítimas do vírus Ébola que se desenvolveu na Guiné
e nos países africanos confinantes.
"O Senhor sustente os esforços para
combater esse início de epidemia e para garantir cuidados e assistência a todos os
necessitados."
Em seguida teve lugar o que o Papa definiu um "gesto simples".
Recordou ter sugerido alguns domingos atrás que as pessoas tivessem sempre consigo
um pequeno Evangelho, de modo a carregar consigo durante o dia, para poder lê-lo nas
horas vagas. E ter pensado na antiga tradição da Igreja, durante a Quaresma, de entregar
o Evangelho aos catecúmenos, àqueles que se preparam para o Batismo.
Daí, a
iniciativa de distribuir na Praça São Pedro "como sinal para todos" um Evangelho de
bolso. "Leiam todos os dias – disse Francisco –, é Jesus que fala a vocês!" e fez
um convite preciso: talvez alguém não creia que é realmente gratuito. É gratuito,
assegurou acrescentando: "gratuitamente receberam, gratuitamente deem!" Em troca –
recomendou –, "façam um ato de caridade, um gesto de amor gratuito, uma oração por
um inimigo, um gesto de reconciliação, alguma coisa". O Papa recordou também que "hoje
se pode ler o Evangelho inclusive com tantos instrumentos tecnológicos. Pode-se ter
consigo a Bíblia inteira num celular, num tablet":
"O importante é ler a
Palavra de Deus, com todos os meios, e acolhê-la com coração aberto. Então a boa semente
dá fruto!".
Por fim, nas saudações, cumprimentou também o grupo brasileiro
"Fraternidade e tráfico humano", reunido na Praça São Pedro após ter realizado a tradicional
Via-Sacra da Fraternidade pelas ruas do centro de Roma, buscando chamar a atenção
para a Campanha da Fraternidade deste ano "Fraternidade e Tráfico Humano", em sintonia
com o convite de Francisco a "uma Igreja pobre, com os pobres e para os pobres", na
luta pela justiça social a partir do Evangelho. A iniciativa foi organizada pelo grupo
de religiosos brasileiros de Roma.
O Santo Padre concedeu a todos a sua Bênção
apostólica.
Ao término do Angelus, nosso colega Alberto Goroni entrevistou
alguns dos presentes na Praça São Pedro. Entre eles, Frei Vitor Hugo, OAD, do Rio
de Janeiro, que falou sobre o encontro com o Papa na oração dominical e acerca da
referida iniciativa dos religiosos brasileiros de Roma: (RL)