Cidade do Vaticano (RV) – Foram necessários 400
anos para que o Apóstolo do Brasil fosse declarado Santo pela Igreja. Todavia, a sua
fama de santidade desde a sua morte em 1597 já estava presente nos primeiros habitantes
daquela nova terra chamada Brasil. Anchieta, natural de Tenerife, Canárias, é para
todos os efeitos, brasileiro. Chegou jovem à nossa terra, e na nossa terra se tornou
parte de um povo, de um ideal, de uma fé. Graças à sua criatividade, seu jeito de
ser especial, foi o fundador da Igreja Católica no Brasil. Ajudou a fundar cidades
hoje mundialmente conhecidas como São Paulo e Rio de Janeiro. Foi o iniciador da literatura
brasileira, compondo poemas e organizando a primeira gramática do Tupi. Desbravou
o sertão, caminhando pelas sendas de uma terra nova, que se abria para receber uma
fé e um povo. Cuidou e preocupou-se dos “donos da terra”, de seus direitos e de sua
dignidade. Foi inspiração para gerações e gerações de brasileiros que lutaram e lutam
pela igualdade. Não nasceu no Brasil, mas é tão brasileiro como os 200 milhões que
hoje se definem com essa nacionalidade. A diferença de muitos está no fato de que
ele se gastou como suas roupas surradas, em prol de um país que dava os seus primeiros
vagidos, em prol de um povo que descobria a arte de viver no conhecimento de uma fé,
que transformaria suas vidas. O Apóstolo do Brasil é hoje Santo, mas por que é
Santo, e por que demorou tanto para que a Igreja o reconhecesse como tal? Anchieta
é Santo, porque viveu na sua simplicidade a grandeza do mistério do Senhor. Porque
fez coisas simples com a grandeza da humildade. Porque ajudou a tornar a vida de pessoas
marginalizadas, sem sentido, em uma vida com sentido, com dignidade. Porque fez com
que a sua fé fosse inspiração para a transformação de corações. Nada fez de excepcional,
mas foi um homem excepcional. Fez tudo de modo simples, mas com o coração. Mas se
era tão bom, por que tantos anos para reconhecer esse modelo de santidade? Os caminhos
do Senhor são infinitos, e quase sempre asfaltados por homens que não têm o interesse
de demonstrar a grandeza da simplicidade, dos humildes. Os anos passaram, quem sabe
– olhando para os desígnios de Deus – porque esse é o momento em que Anchieta deve
ser apresentado para o povo brasileiro como modelo de Santidade. Sim, vivemos neste
momento uma explosão de euforia de crescimento econômico, de novas fronteiras conquistadas.
Talvez seja o momento de olharmos para a pequenez deste homem que viveu mais de 400
anos atrás e que quem sabe sonhava com um Brasil evoluído, justo, cristão; temos essa
nova oportunidade de percorrermos a nossa história de fé, de nação, de gente. A vida
simples de Anchieta nos propõe neste momento uma reflexão profunda para o momento
que vivemos e para o futuro que queremos construir. Talvez o momento de sua canonização
seja a porta que se abre para novos horizontes de brasileiros marginalizados, esquecidos,
descartados, como eram muitos de seus contemporâneos, nas matas e praias esquecidas
de um Brasil que acordava. O estímulo que a vida de Anchieta pode dar a cada um
de nós é certamente um estímulo de sentido de vida, de uma vida plena, que se completa
em uma fé enraizada numa história construída por pessoas com ideais, com o olhar centralizado
na pessoa e na sua dignidade. A canonização de Anchieta, desse homem que conquistou
corações e que se deixou conquistar por Deus, por sua Mãe Maria e por um povo que
se tornou seu, é a certeza de que a Terra de Santa Cruz, é terra de pessoas de fé,
abençoada por um Deus amor, que transforma e recriar a vida e o desejo de viver de
seus habitantes. Anchieta, precursor dos novos discípulos e missionários de Cristo,
certamente não olha para o título que recebe, mas certamente está feliz em poder ser
ponte que une o coração de cada um com o coração de Jesus, do seu Senhor. Anchieta,
na sua imensa humildade, no seu viver escondido e para os outros é modelo e inspiração
para que também nós possamos ser, como ele, verdadeiros brasileiros, verdadeiros apóstolos
da boa nova. A sua canonização é a boa notícia que hoje nos alegra e que nos dá a
certeza, de que o nosso povo tem um irmão que, com olhos privilegiados intercede por
cada um de nós. Anchieta, bem-vindo ao coração de “todos” os brasileiros. (Silvonei
José)