Cidade do Vaticano (RV) – Todos os dias somos
bombardeados com notícias e imagens, através dos meios de comunicação, de guerras
fratricidas, de morte e desespero de homens, mulheres e crianças. Vivemos o cotidiano
de conflitos com a “ilusão” de que tudo faz parte da imaginação, e não da realidade,
e que ao desligarmos a televisão ou rádio, tudo desaparece. O Papa Francisco não se
cansa de chamar a atenção para essa dor causada pelo próprio homem, para a dor do
irmão que cai sob a violência de outro irmão; e tudo pela busca efêmera de poder,
de dinheiro, de querer ser mais do que o outro, de querer ter mais direitos.
Apelos
para que se coloquem fim a essas violências são uma constante nas palavras de Francisco,
que olha para além das fronteiras erguidas pelos países, para além das raças e religiões
a que pertencem as pessoas, e de sua condição social. Um dos últimos apelos foi dirigido
no último domingo ao Sudão do Sul: o Papa pediu que se assegure ajuda humanitária
e se promova a paz neste pedaço de terra martirizada. A mensagem foi enviada à Diocese
de Juba e lida pelo Presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Cardeal
Peter Turkson, durante a Missa por ele presidida na Catedral de Santa Teresa, na conclusão
de sua visita de cinco dias ao país.
Recordamos que o Sudão do Sul, um país
jovem presente no cenário das nações independentes há apenas três anos, viu explodir
a violência em dezembro de 2013, num conflito étnico envolvendo as forças governamentais
do Presidente Kiir, de etnia dinka, e os seguidores do Vice-presidente Machar, de
etnia nuer.
O que o Papa diz a esta nação, que está ainda em dores de parto,
serve para todas aquelas realidades onde a paz ainda é uma quimera, onde a violência
é o tom dos discursos e conversas. “Sem paz não existe desenvolvimento”, escreveu
Francisco. A guerra ceifa a vida de pessoas inocentes, provoca divisões e causa pobreza,
fome, doenças e morte. “Não podemos permanecer indiferentes diante dessas realidades”,
sublinhou o Santo Padre, que não se esquece da dramática situação dos refugiados e
deslocados obrigados a se exilarem, em condições contrárias à sua dignidade; a grande
parcela deles não é considerada gente, mas sim estatística sem nome.
Os apelos
do Papa em prol do fim dos conflitos em todo o mundo, como o da Síria, que dura já
mais de 3 anos, visam tocar as partes envolvidas, mas também a comunidade internacional,
para que essas espirais de violência tenham um fim e que as ajudas humanitárias, que
permitem a sobrevivência de povos inteiros, cheguem sem obstáculos aos verdadeiros
necessitados. A morte e o sofrimento de tantos inocentes devem impulsionar a busca,
sem medidas, de soluções pacíficas, onde o respeito pela dignidade de cada homem e
de cada mulher esteja no centro de todos os interesses.
Hoje vivemos um momento
particular da história da humanidade, com o desenvolvimento de tantas opções tecnológicas,
de tantas oportunidades de vencer doenças antes incuráveis, de correr o mundo em segundos
com as redes telemáticas, de poder acabar com o sofrimento imane de multidões de deserdados,
e não conseguimos – apesar das possibilidades – sentarmos ao redor da mesma mesa para
resolver questões que alimentam violências, e desenvolver uma “cultura do encontro”.
Sim para desenvolver essa cultura do encontro – tão pedida pelo Papa Francisco - devemos,
antes de tudo, rejeitar o egoísmo, a centralidade de pensamento, - só eu sei, só eu
posso -, rejeitar o pensamento de ver no outro somente um inimigo, e não um irmão
com quem trabalhar junto.
Hoje é difícil encontrar o outro e respeitá-lo na
sua totalidade, deixando de lado o desejo pessoal. A arte do encontro que tanto o
Papa pede, somente será uma realidade quando todos nós, cada um de nós, nos descobrirmos
limitados, necessitados do outro. Descobrirmos que não podemos viver sozinhos e que
não somos o centro de tudo, existe o outro.
É o momento da conversão para
o outro, da conversão do coração, da consciência para um mundo mais justo, mais fraterno,
de partilha. Mente e coração em um novo momento de crescimento, de reconciliação,
de diálogo. Somente assim a paz poderá ser uma realidade para todos os homens e mulheres.
(Silvonei José)