Papa Francisco encoraja líderes religiosos da República Centro-Africana a permanecerem
unidos
Cidade do Vaticano
(RV) - No final da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco encontrou-se
com os representantes da 'Plataforma de Religiosos para a Paz' da República Centro-Africana
formada pelo Arcebispo de Bangui, Dom Dieudonné Nzapalainga, o Presidente das Igrejas
Evangélicas, Pastor Nicolas Grékoyamé-Gbangou, e o Imame de Bangui, Oumar Kobine Layama.
O
Santo Padre os incentivou a permanecerem unidos, próximos ao povo, e a trabalhar contra
toda divisão. O Papa disse aos três líderes religiosos que no encontro desta quinta-feira
com o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falará sobre a situação da República
Centro-Africana. Os líderes religiosos que antes da Audiência Geral foram recebidos
pelo Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, há muito tempo estão lutando pela
paz na República Centro-Africana, encontrando vários líderes da comunidade internacional.
Eis o que disse o Arcebispo de Bangui, Dom Dieudonné Nzapalainga, em entrevista
à Rádio Vaticano.
"São homens e mulheres centro-africanos que vivem no
mato, perdidos e aterrorizados que não são capazes de expressar seus sentimentos ou
que caminhando pelas ruas, falam, mas estão convencidos de que ninguém os escuta.
Em nome dessas pessoas, eu fiz a escolha, junto com os outros, de encontrar as autoridades,
aqueles que tomam decisões, para que eles possam ouvir de nossas bocas a preocupação,
o sofrimento, a dor e a miséria dessas pessoas que choram e aumentam cada vez mais
o número. Este é o sentido de nossa missão para com as autoridades deste mundo."
O
que pede este grito?
"Este grito pede atualmente a segurança, porque
sem ela não será possível voltar à escola, não será possível retomar as atividades
nos hospitais, não será possível retomar as atividades agrícolas e administrativas.
Tudo fica paralisado como está atualmente. Não há segurança e vemos as conseqüências!
Tudo está na estaca zero. Considerando que as facções rivais do Seleka e dos anti-balaka
não conseguem protegem o povo centro-africano, nós fizemos um apelo a fim de que a
comunidade internacional intervenha para proteger o povo centro-africano. A República
Centro-Africana é um Estado-membro das Nações Unidas. É absolutamente impossível ficar
olhando, na indiferença completa, homens e mulheres que morrem como animais. Não podemos
permanecer assim sem mexer um dedo! É hora de agir para que no futuro a história não
nos condene perguntando-nos: O que vocês fizeram com seus irmãos?"
Vocês
obtiveram uma resposta positiva da ONU e dos governantes que vocês encontraram?
"Recebemos
respostas que nos ajudam a crer que o amanhã será melhor. O Secretário-Geral da ONU
disse que está preparando uma resolução que caminha no sentido de uma intervenção
dos Capacetes Azuis. Encontramo-nos também com outros responsáveis que nos fizeram
entender que todos estão dispostos a se aliar a fim de que se dê início a uma operação
em favor da manutenção da paz. Quanto antes isso acontecer, melhor, porque quanto
mais se passam os dias, mais se aumenta o número de centro-africanos que morrem."
Sobre a relação entre as religiões neste momento difícil da República
Centro-Africana, eis o que disse o Imame de Bangui, Oumar Kobine Layama.
"O
fiel deve conservar a fé em qualquer circunstância e diante das dificuldades devemos
nos perguntar: O que aconteceu? O que fizemos? Talvez seja por causa de nosso comportamento
que Deus nos colocou à prova, fazendo-nos passar por este drama? Ou talvez, é para
nos dar uma lição a fim de que aprendamos a aceitar Deus em todas as situações? A
fé não existe somente nos momentos felizes, deve existir também no tempo da desgraça.
A mensagem que eu desejo passar é a da fé que significa suportar, ter paciência e
tolerância, que formam o caráter e as virtudes do verdadeiro fiel. Peço aos meus irmãos
muçulmanos tolerância e paciência a fim de que Deus nos traga de volta a paz e a coesão
social".
Foram feitos vários apelos à Jihad, sobretudo através do Mali.
"Sim,
fiquei sabendo do apelo feito a Jihad no Mali, mas me pergunto: A Jihad, guerra santa
contra quem? É esta a pergunta que me faço: proteger os muçulmanos, de quem? Os muçulmanos
são protegidos pelos cristãos nas igrejas. A maioria dos muçulmanos encontra proteção
junto dos religiosos cristãos, protestantes e católicos, mas na maioria católicos.
Ir jogar bombas onde? Nas igrejas que acolheram os muçulmanos? Este não é o Islã que
Deus nos confiou. Deus nos confiou um Islã de paz, tolerância e paciência em todas
as provações. Acredito que nós muçulmanos nos encontramos hoje diante dessas dificuldades
porque escolhemos o silêncio cúmplice: não denunciamos, em nossa comunidade, os abusos,
os comportamentos de nossos irmãos que estavam no Seleka. Não assumimos as nossas
responsabilidades. Hoje, sofremos as conseqüências que Deus nos mandou. Por isso,
é necessário que examinemos as nossas atitudes para agir consequentemente, pedir perdão
a Deus por aquilo que nos diz respeito, a fim de que Deus nos ajude, junto com os
outros, a restabelecer a coesão social. Se perdermos neste momento a nossa fé, a nossa
situação não poderá melhorar. Corremos o risco de um desastre sobre o outro, não obstante
os esforços da comunidade internacional. Somos nós, primeiramente, diante de nossas
consciências, que devemos nos reunir e nos reconciliar, para ajudar a comunidade internacional
que se preocupa com a nossa situação."
O Presidente das Igrejas Evangélicas,
Pastor Nicolas Grékoyamé-Gbangou, recorda que não existem milícias cristãs na República
Centro-Africana.
"Nunca existiu uma milícia cristã na república Centro-Africana.
Os anti-balaka são grupos de autodefesa no âmbito de povoados, que agora, por força
das circunstâncias, se formaram em milícias, para combater e criar obstáculo ao Seleka.
Não se pode falar de milícia cristã."
O senhor tentou falar diretamente
com estas pessoas?
"Vivem em nosso bairro e nós procuramos fazê-los
raciocinar a fim de que entendam que na realidade quem sai prejudicada é a população
e que é importante deter as hostilidades."
A situação é dramática do
ponto de vista da segurança e também alimentar. Qual é o seu desejo?
"Imaginamos
que a comunidade internacional ouvirá o nosso grito de dor e o das pessoas que se
encontram em dificuldades, e que depois intervirá logo para resolver a situação dos
deslocados internos e também das pessoas que ficaram em casa, mas cuja vida está em
perigo. Pensamos que seja necessário restaurar a segurança rapidamente com a ajuda
das Nações Unidas e todas as pessoas de boa vontade. Aqueles que têm a tarefa de auxiliar
as pessoas em dificuldades que façam isso rapidamente." (MJ)