2014-03-26 13:22:13

Delegação inter-religiosa da República Centroafricana na audiência geral do Papa


Permanece difícil a situação na República Centro-africana, onde se reacenderam nestes dias os recontros entre grupos armados, nomeadamente na capital Bangui. Uma delegação da “Plataforma inter-religiosa para paz” no país tomou parte na audiência geral desta quarta-feira. Era composta por D. Dieudonné Nzapalainga, arcebispo de Bangui, pelo Pastor Nicolas Grékoyamé-Gbangou, Presidente das Igrejas Evangélicas, e o Imã de Bangui, Oumar Kobine Layama. Todos têm vindo a empenhar-se a fim de pacificar o país.

Em entrevista à colega Marie du Hamel da secção francesa da Rádio Vaticano, o arcebispo de Bangui disse trazer ao Santo Padre a voz do povo centro-africano…

São homens e mulheres centro-africanos que vivem escondidos nos bosques, dispersos, aterrorizados, e que já não são capazes, sequer, de exprimir as suas sensações… ou então que, caminhando pelas ruas falam, mas estão convictos de que ninguém os ouve… em nome deles, decidi, juntamente com outros, ir ter com as autoridades, com aqueles que têm poder de decisão, a fim de que pudessem ouvi, de forma directa, a nossa preocupação, o nosso sofrimento, as penas e a miséria dessas pessoas que choram e cujo número aumenta de dia para dia. É este o sentido da nossa missão perante as autoridades do mundo”.

O que pedis através deste vosso grito, a segurança, antes de mais?

“Este grito pede antes de mais a segurança, pois sem segurança as crianças não podem voltar à escola, não podem ser retomadas as actividades hospitalares, agrícolas e nem sequer administrativas: tudo permanecerá paralisado como está a acontecer actualmente. Não há segurança, e nós estamos a ver as consequências disso! Tudo está no ponto zero. A fim de que volte a segurança – dado que nem o Seleka, nem os anti-balaka conseguem proteger o povo centro-africano – dirigimos um apelo à comunidade internacional para que intervenha a fim de proteger o povo centro-africano. A República Centro-africana é parte do concerto das Nações e é absolutamente impossível ficar a olhar, completamente indiferentes perante homens e mulheres que morrem como animais; não se pode ficar sem mexer um dedo! Já é tempo de agir, a fim de que amanhã a História não nos condene, perguntando-nos “O que fizestes do vosso irmão?”.

Obtivestes resposta positiva da ONU e dos dirigentes que vos receberam?

“Obtivemos respostas que nos levam a pensar que o amanhã será melhor… o próprio Secretário Geral da ONU disse, numa sua declaração, que está a preparar uma Resolução no sentido duma intervenção de capacetes azuis. Encontramos também outros responsáveis que nos fizeram compreender que estão todos dispostos a aliar-se a fim de que se dê início a uma operação para a manutenção da paz. Quanto mais depressa isto acontecer, melhor será porque cada dia que passa aumenta o número de centro-africanos que morrem.

Sobre as relações entre as religiões neste difícil momento na República centro-africana, falou sempre aos microfones da colega Marie Duhamel, o Imã de Bangui, Oumar Kobine Layama, …

“O crente deve manter a própria fé em qualquer circunstância. Perante as dificuldades, nós devemos conservar a nossa fé e perguntar-nos: “o que aconteceu, o que fizemos, é porventura devido ao nosso comportamento que Deus nos submete à provação, fazendo-nos viver este drama? Ou é talvez para nos dar uma lição a fim de que aprendamos a aceitar Deus em toda e qualquer situação”. A fé não é só para os momentos felizes, deve persistir também nos tempos de desgraça. A mensagem que quero, transmitir a esses nossos irmãos é a da fé, que significa suportação, paciência, tolerância que formam o carácter e as virtudes de um verdadeiro crente. Peço aos meus irmãos muçulmanos tolerância e paciência, a fim de que Deus nos dê de novo a paz e a coesão social!

O senhor tem recordado que já foram lançados diversos apelos para a Jihad, sobretudo através do Mali…

“Bem, estou ao corrente dos apelos para a jihad através do Mali, mas pergunto-me: a jihad contra quem!?, porque os muçulmanos são de forma geral protegidos pelos cristãos nas suas igrejas: a maioria dos muçulmanos encontram protecção junto de religiosos cristãos, protestantes e católicos… Portanto, aonde ir deitar as bombas?, naquelas mesmas igrejas que dão protecção aos muçulmanos?, ou então para perturbar aquelas mesmos líderes religiosos cristãos que protegem os muçulmanos? Na verdade este não é o islão que Deus nos confiou. Deus confiou-nos um islão de paz, de tolerância, de paciência, de suportação de todas as provações. Acho que nós muçulmanos nos vemos hoje perante estas dificuldades porque optamos pela cumplicidade do silêncio: nunca denunciamos na nossa comunidade, os abusos, os comportamentos dos nossos irmãos que estavam na Seleka. Não assumimos as nossas responsabilidades. E eis que hoje temos as consequências que Deus nos mandou! Por isso é necessário examinar os nossos comportamentos e agir consequentemente, pedir perdão a Deus pelos nossos erros a fim de que Deus nos ajude, juntamente com os outros, a restabelecer a coesão social. Se neste momento perdemos a nossa fé, a nossa situação poderá não melhorar: corremos o risco de ter um desastre atrás do outro, não obstante os esforços da comunidade internacional. Somos nós, que perante a nossa consciência, devemos reunir-nos, reconciliar-nos, a fim de ajudar a comunidade internacional que se preocupa com a nossa situação.”








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