Mannar (RV) – É urgente uma investigação internacional sobre as violações dos
direitos humanos e do direito humanitário, ocorridas durante a guerra civil e que
ainda se perpetuam em Sri Lanka: é o que escrevem os sacerdotes tâmeis residentes
no Norte e no Leste da ilha, em uma carta ao Conselho da Onu para direitos humanos.
A carta é assinada por 205 sacerdotes e religiosos, como os Oblatos de Maria Imaculada,
Jesuítas e outros religiosos, além de 100 religiosas. O primeira signatário é Dom
Rayappu Joseph, Bispo de Mannar, que se expôs ao pedir a intervenção da Onu.
O
Bispo, definido “Romero de Sri Lanka”, está recebendo pressões e ameaças de morte.
“Há quase cinco anos do fim da guerra, ainda não vimos alguma verdade e justiça emergir
de mecanismos nacionais”, afirma o texto, notando que “a população tâmil permanece
discriminada e atingida. Desaparecimentos, abusos sexuais, prisões, detenções e torturas
justificadas pela lei antiterrorismo, restrições à liberdade de reunião, expressão,
associação e movimento continuam ainda hoje”, denunciam os religiosos.
“Os
tâmeis não podem homenagear coletivamente mortos e desaparecidos. Quando criticam
políticas e práticas do governo e os defensores de direitos humanos, são vistos como
promotores do terrorismo ou traidores”, escrevem. Entre eles, há também vários sacerdotes
católicos que foram “interrogados, ameaçados e intimidados”. “O exército continua
a sua ingerência nas atividades civis e econômicas, especialmente no Norte e no Leste,
ameaçando a emancipação civil e econômica das populações locais”, prossegue.
Ao
mesmo tempo, afirmam, “estamos preocupados com o incremento dos esforços sistemáticos
e das medidas para destruir a identidade da comunidade tâmil. Centros e institutos
militares ocupam as terras dos tâmeis, enquanto projetos de desenvolvimento e a colonização
organizada de cingaleses prosseguem aceleradamente no Norte e no Leste da ilha, onde
os tâmeis são historicamente a maioria”.
O clero denuncia também “a imposição
da língua cingalesa e da religião budista no Norte e no Leste do país”. “Não houve
nenhum autêntico processo político para enfrentar pela raiz as causas do conflito,
que se agravam”, destaca a carta. Por isso, é urgente que a comunidade internacional,
por meio das Nações Unidas, encontre formas concretas de assistência para o povo tâmil.
Pede-se, portanto, que a Onu investigue sobre as acusações de violações dos direitos
humanos internacionais e do direito humanitário durante a guerra; identifique claramente
as unidades e os indivíduos responsáveis; monitore as violações de direitos humanos
em todo Sri Lanka com uma equipe de especialistas da Onu, providencie programas de
proteção para as vítimas e as testemunhas; e garanta aos especialistas o acesso ilimitado
a todos os lugares importantes, a pessoas e documentos. (SP)