O que é o espírito mundano? Somos todos dominados por ele? Ouça
Cidade
do Vaticano (RV) – No primeiro ano de Pontificado, que celebramos nestes dias,
nós fiéis nos acostumamos com novos gestos, atitudes e termos do Papa Francisco, que
não cansa de nos surpreender com a sua vivacidade e senso de humor. Uma das expressões
mais utilizadas pelo Pontífice foi a “mundanidade espiritual”. “É uma tentação perigosa
porque amolece o coração com o egoísmo e insinua nos cristãos um complexo de inferioridade
que os leva a uniformizar-se com o mundo”. Na missa celebrada sexta-feira, 17 de janeiro,
na capela da Casa Santa Marta. O Papa fez um convite a viver a docilidade espiritual
sem vender a própria identidade cristã.
Em sua Exortação Apostólica “A Alegria
do Evangelho”, Papa Bergoglio foi ainda mais incisivo: “Em alguns, o próprio mundanismo
espiritual esconde-se por detrás do fascínio de poder mostrar conquistas sociais e
políticas, ou numa vanglória ligada à gestão de assuntos práticos, ou numa atração
pelas dinâmicas de auto-estima e de realização auto-referencial”.
Mas afinal,
o que é o espírito mundano? Responde o Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de
São Paulo. Para ouvir, clique acima.
“Olha, todos nós temos o espírito mundano.
É a tentação de todo o ser humano, de toda instituição, mesmo as mais santas. Jesus
teve esta tentação, no deserto, a da auto-referência. Tudo o que vemos no mundo dos
negócios, da política, e até no nosso mundinho, cada um no seu, estamos sempre tentados
a pensar em nós. Tentamos sempre em optar por nós. Isto é mundano. Acredito que isto,
em primeiro lugar, deve se dizer claramente, é a grande tentação de todo ser humano
e de toda instituição: de cuidar de si mesmo e quere prestígio, poder, riqueza...
é isto aí”.
Penso que a Igreja no Brasil também tem que fazer de novo
esta reflexão, deixar-se interpelar. A CNBB, por exemplo, é de fato uma instituição
que tem muito peso no Brasil, tem prestígio, e sabe que tem. Quando o Papa falou a
nós, bispos brasileiros, na JMJ, ele disse o seguinte (uma coisa que foi muito surpreendente):
“Seria importante descentralizá-la mais, dar mais espaço às Conferências regionais”.
Sabemos que além da Nacional, existem as regionais, que são dependentes, que são ‘braços’
da nacional. Isto já era mexer com a nossa auto-referência: é a CNBB, auto-referente,
que dirige tudo no Brasil. E agora, o Papa diz: “Olha, cuidado, você tem que pensar
também que nas regiões existem necessidades, existem bispos que devem pensar por si
mesmos também; deve haver muito mais participação”.
“A questão de
irmos aos pobres também. Tendemos a ficar em casa, a gente fala dos pobres, mas não
vamos a eles”. (CM)