Cidade do Vaticano
- (RV) - Neste domingo a liturgia se ocupa em nos mostrar que nossa vida deve
ser um eterno caminhar com Jesus, tendo como exemplo Abraão que tudo deixa para seguir
sua vida com Deus e deverá estar preparado para enfrentar, com ânimo, as dificuldades
que encontrará na caminhada.
O chamado feito a Abraão - sua vocação - pode
ser visto como o início do Povo de Deus. Nosso Patriarca vive bem em sua terra, possui
mulher, família e muitos bens. Deus, ao convidá-lo para estar com Ele, solicita que
deixe tudo e vá para onde Ele lhe indicar. Abraão obedece e parte com sua mulher e
com seu sobrinho, empregados e bens. Ele confia na promessa do Senhor de que terá
descendência e terra, de que será a origem de um grande povo.
O que aconteceu
com Abraão? Como ele deixa a segurança conquistada pelos seus e empreende uma aventura?
Qual a segurança que ele possui? Como tem certeza de que foi Deus quem lhe falou e
lhe pediu essa aparente loucura? Deus não apareceu a Abraão de um modo físico,
palpável, e pronunciou palavras dirigidas a ele, mas Abraão possuía uma visão espiritual
da realidade em que vivia. Ele sabia ler nos acontecimentos da vida a ação de Deus
e entendia, refletindo na oração, o que Deus lhe pedia.
Abraão teve coragem
de deixar o modelo de vida que lhe dava segurança e desacomodando-se seguiu em frente
naquilo que o Senhor lhe pedia através de sinais entendidos na oração. Todo aquele
que presta atenção nos acontecimentos da vida – que sabemos por jornal, rádio, televisão,
internet, e principalmente naqueles que se referem diretamente à nossa vida particular
– e apresenta tudo isso ao Senhor, para que à luz do Espírito Santo, possa refletir,
saberá quais os apelos de Deus para sua vida e poderá se considerar filho de Abraão,
membro desse Povo que é guiado pelo Senhor e não tem medo de desafios e de viver na
insegurança deste mundo. Sua proteção está no Senhor, que fez o céu e a terra. Por
isso sente-se livre para deixar o conforto, a segurança e, com sua família, após um
discernimento, partir para o desconhecido, mas indicado pelo Senhor.
No Evangelho,
Mateus, como sempre, quer mostrar a todos que Jesus é o verdadeiro Messias. Ele, desde
o início do trecho de hoje, usa terminologias conhecidas já no Antigo Testamento,
quando vamos ler o relato da Criação: “Seis dias depois”. Seis dias depois de quê?
Da Criação do Mundo, da Criação do Homem? Quando lemos o Êxodo: “uma alta montanha”.
Qual? A do Sinai? Em seguida, ele vai falar de uma “nuvem luminosa”. Também lemos
sobre ela no Êxodo. Como poderemos interpretar o recado de Mateus? Em seu Evangelho,
sempre que Jesus vai fazer algo muito importante, Ele sobe a montanha. Jesus repete
várias vezes o que Moisés fez. Moisés é envovido por uma luz, Cristo também. Após
o sexto dia Deus descansou, temos a conclusão da Criação. No Evangelho, o sexto dia
quer apresentar a plenificação daquilo que Deus preparou para o homem. Mateus nos
apresenta Jesus como o verdadeiro Moisés, aquele que dá ao novo Povo de Deus, a nova
lei, aquele que revela Deus definitivamente! Jesus nos revela o projeto do Pai.
Todo
aquele que possui uma afinidade, uma intimidade com Jesus Cristo, leva adiante essa
atenção reflexiva para perceber se, no seu dia a dia, o Senhor não lhe está pedindo
alguma coisa. Para essas pessoas, nada é por “acaso”. Para elas essa palavra não existe.
O que aparentemente surgiu sem muito haver, de modo espontâneo, gratuito, mas interferindo
em minha vida, deve ser olhado, refletido como uma mensagem de Deus para mim. Para
o três apóstolos: Pedro, Tiago e João, a trasfiguração de Jesus foi ocasião para crescerem
na atenção dada ao Mestre. Jesus não era mais um, mais um Profeta, mas o Filho amado
do Pai, no qual Ele colocou todo o Seu agrado e ao qual deveremos sempre escutar.