Belo Horizonte (RV) - Juntos com Francisco, há um ano, estamos trilhando os
caminhos missionários da Igreja pelo mundo afora. Um ano de incontáveis novidades
e de muitos acontecimentos. Neste período, reacendeu uma chama que ilumina os cantos
mais diferentes do mundo, especialmente o coração das pessoas. Um fenômeno de presença
amorosa, simples, próxima e evangélica, que indica um percurso novo para a vida missionária
da Igreja. As palavras, gestos, atitudes e encaminhamentos, no exercício do ministério
de sucessor do Apóstolo Pedro, fazem do Papa Francisco um sinal que convoca todos
para um novo tempo. Sua presença faz crescer no mundo a coragem e o empenho desafiador
de resgatar o sempre novo tesouro da alegria do Evangelho da vida. Uma volta à fonte
e um banhar-se nela, saciando a sede e lavando-se, para recompor a força que devolve
serenidade misericordiosa aos olhares, alento para os pés cansados no caminhar, livra
semblantes da poeira de tudo o que já ficou obsoleto.
O que está acontecendo,
diante das necessidades urgentes - a recuperação de referências morais, religiosas,
culturais, políticas e todas as outras carências gritantes - produz perguntas, ainda
sem as respostas completas. Reacende esperanças, aguça curiosidades e prova que a
força maior vem de Deus, da fidelidade a Ele. Essa lealdade desdobra-se em serviço
à vida de todos, particularmente dos pobres e dos que estão nas periferias, especialmente
aquelas existenciais. Ao celebrar este primeiro ano de pontificado, a Igreja é desafiada
a trilhar as direções indicadas pelo Papa Francisco, conclamando todos para um projeto
novo, de Igreja e humanidade. Para se efetivar, esse projeto depende daqueles que
o testemunham, seguindo o exemplo do Papa, com vigor espiritual e simplicidade evangélica,
que capacita intuições corajosas e criativas. Percepções e discernimentos diferentes
das que viabilizam artimanhas políticas ou conchavos partidários. São, na verdade,
fundamentadas no amor que desconcerta e refaz, aprende e ensina, convence sobre o
bem, inspira o gosto pela justiça, deixa envergonhado quem não se faz solidário.
A
surpresa da escolha do nome, Francisco, inspirado pela lembrança, a mais forte, significativa
e sempre transformadora de não se esquecer dos pobres, é explicada pelos gestos e
palavras do Papa Bergoglio. O Santo Padre, durante peregrinação a Assis, sublinhou
que ser cristão é uma relação vital com a pessoa de Jesus, revestir-se Dele e a Ele
se assemelhar. No horizonte, o ensinamento inspirado em São Francisco de Assis que
se fez como os últimos, os pobres, não por um amor à pobreza em si mesma, mas porque
seguindo os pobres, e a eles amando, se segue e se ama a Cristo. Um princípio que
implica em novos ordenamentos, faz crescer a fé autêntica, aponta o horizonte de um
resgate humanitário e cultural. É, neste sentido, remédio indispensável para que a
humanidade seja curada de seus graves problemas existenciais, morais e políticos.
Um verdadeiro raio de luz que indica uma possibilidade aparentemente simples, até
por isso com o risco de ser desconsiderada pela soberba da racionalidade contemporânea.
O
Evangelho de Jesus é o ponto de partida, único e insubstituível, com sua luz simples
em meio a tantas luzes, argumento de amor entre tantos argumentos. Permite cultivar
um jeito de ser com validade universal no horizonte das mais diversificadas culturas
contemporâneas. O Papa Francisco, conforme sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho,
está sinalizando para a Igreja sua renovação e fortalecimento missionário, e ao mundo
contemporâneo um caminho novo para a cultura da vida e da paz, ao propor que a resposta
pode ser encontrada na busca e vivência de uma fraternidade mística. Trata-se de uma
fraternidade “contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe
descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se
ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade
dos outros como a procura o seu Pai bom”. O Papa alerta, com a força do Evangelho
e a leveza de seu testemunho, sobre a ferida gritante da desumanização, mostrando
um caminho para mudança dos cenários catastróficos que afligem a humanidade, onde
a Igreja deve estar sempre presente como servidora, casa de todos, cultivando a fidelidade
ao amor pelo qual cada um será julgado. Um ano de pontificado, Ação de Graças por
tudo, é motivo de alegria poder assumir o desafio de caminhar com o Papa Francisco.
Dom
Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte