Pe. Spadaro: "O encontro é a categoria chave do magistério do Papa Francisco"
Cidade do Vaticano (RV) - "O encontro é a categoria chave do magistério do
Papa Francisco", foi o que disse Pe. Antonio Spadaro, diretor da Revista dos Jesuítas
"La Civiltà Cattolica".
Uma linguagem simples, direta. Um contato contínuo
com as pessoas. Esta é a Igreja do terceiro milênio que o Papa Francisco redesenhou
neste seu primeiro ano de pontificado?
Pe. Spadaro: "O Papa Francisco
tem uma visão missionária da Igreja. Ele está trabalhando e trabalhará em favor de
uma transformação missionária da Igreja. Isto significa que a Igreja, assim como ele
vê, é absolutamente voltada para o mundo, aberta ao mundo, porque o Papa quer que
o Evangelho seja anunciado a todos, em qualquer situação de vida. Assim, a linguagem
do Papa Francisco é uma linguagem natural, comum, eu diria normal. O seu objetivo
é chegar a todos."
A atenção à América Latina, a dimensão pastoral,
a reforma da Cúria, as relações com outras Igrejas: estas são umas das características
deste primeiro ano de pontificado. Em que outros âmbitos podemos prever mudanças nos
próximos meses?
Pe. Spadaro: "Não sei e talvez não saiba nem
mesmo o Papa, no sentido de que o pontífice não tem na mente ideias abstratas a serem
aplicadas na realidade, plasmando-a de acordo com própria visão. Na verdade, o Papa
prossegue passo a passo, fazendo discernimento sobre a história, acompanhando os processos
em andamento na Igreja, obviamente em relação à vida do mundo. Isto significa que
a coisa mais importante para ele é acompanhar o que está acontecendo e considerar
o processo de reforma como uma reforma a partir de dentro. Certamente, um fator evidente
é que hoje a Igreja está muito ligada, em seu desenvolvimento, às Igrejas mais jovens,
e está mudando a perspectiva, a visão. A profecia presente na vida das Igrejas mais
jovens está entrando plenamente na vida cotidiana da Igreja, através de seus representantes
das sedes mais centrais."
O que existe de Santo Inácio e São Francisco
no pontificado do Papa Bergoglio?
Pe. Spadaro: "O Papa Bergoglio
se formou radicalmente na espiritualidade inaciana desde a juventude. O seu modo de
agir, ver e considerar a realidade está absolutamente ligado a esta espiritualidade.
É uma espiritualidade obviamente evangélica, que aponta para a presença do Senhor
no mundo. Não é uma espiritualidade otimista, o Papa não gosta desse termo, mas certamente
muito cheia de esperança. Isto significa que, para o Papa, o Senhor age no mundo e
nós devemos reconhecer a sua presença. Este é o discernimento. Eu diria antes de tudo
um pontificado de discernimento sobre como o Senhor está se movendo no mundo. Neste
sentido, é profundamente inaciano e jesuíta, e também franciscano no sentido mais
inaciano do termo, porque a espiritualidade franciscana é vivida dentro da espiritualidade
inaciana. Isso leva o Papa a ter uma enorme atenção pela pobreza e essencialidade,
mas há também outra dimensão muito presente em São Francisco que é a da reconstrução.
Sabemos bem que o sonho que marcou profundamente a vida de São Francisco foi o da
reconstrução da Igreja, da presença, no mundo, de ruínas. Esta imagem de hospital
de campo, de situações em que é necessária a reconstrução, está muito presente no
pontificado de Francisco."
Em abril, haverá a canonização de João XXIII
e João Paulo II. Depois, em maio, a viagem apostólica à Terra Santa, e em agosto,
a visita apostólica à Coreia do Sul, por ocasião da sexta Jornada da Juventude Asiática.
O que liga, em sua opinião, esses três eventos aparentemente diferentes?
Pe.
Spadaro:"O encontro é a categoria chave do Pontificado de Francisco. Há o
encontro com a história, com as grandes figuras do passado recente. É interessante
esta combinação de dois pontífices, grandes de maneira muito diferentes entre eles.
Depois, há o encontro com a realidade do Oriente Médio, extremamente problemática,
e depois o grande encontro com a Coreia, que significa o encontro com a juventude
do continente asiático que hoje é um continente de grande energia, grande potencial
para a vida da Igreja."
O Papa Francisco encontrou alguma dificuldade,
a seu ver, neste primeiro ano de pontificado?
Pe. Spadaro: "Provavelmente,
as dificuldades foram muitas, mas o que me marcou e eu disse a ele durante a entrevista
que fiz em agosto, foi que o Papa está ciente dos problemas, mas vive serenamente.
Ele sente uma grande paz interior que o faz se sentir bem e lhe permite enfrentar
todas as dificuldades com muita simplicidade e com grande prontidão. Talvez a novidade
de seu estilo para alguns pode criar algumas dificuldades, mas ele ao invés quer
ser uma figura de vida evangélica."
Se o entrevistasse novamente, amanhã
cedo, o que pediria ao Papa?
Pe. Spadaro:"Não sei, porque estar
com ele, entrevistá-lo, foi uma grande experiência espiritual, completamente aberta.
Eu começaria a partir daquilo que ele quer dizer. Isso seria para mim a coisa mais
interessante." (MJ)