2014-03-12 20:40:17

Pe. Spadaro: "O encontro é a categoria chave do magistério do Papa Francisco"



Cidade do Vaticano (RV) - "O encontro é a categoria chave do magistério do Papa Francisco", foi o que disse Pe. Antonio Spadaro, diretor da Revista dos Jesuítas "La Civiltà Cattolica".

Uma linguagem simples, direta. Um contato contínuo com as pessoas. Esta é a Igreja do terceiro milênio que o Papa Francisco redesenhou neste seu primeiro ano de pontificado?

Pe. Spadaro: "O Papa Francisco tem uma visão missionária da Igreja. Ele está trabalhando e trabalhará em favor de uma transformação missionária da Igreja. Isto significa que a Igreja, assim como ele vê, é absolutamente voltada para o mundo, aberta ao mundo, porque o Papa quer que o Evangelho seja anunciado a todos, em qualquer situação de vida. Assim, a linguagem do Papa Francisco é uma linguagem natural, comum, eu diria normal. O seu objetivo é chegar a todos."

A atenção à América Latina, a dimensão pastoral, a reforma da Cúria, as relações com outras Igrejas: estas são umas das características deste primeiro ano de pontificado. Em que outros âmbitos podemos prever mudanças nos próximos meses?

Pe. Spadaro: "Não sei e talvez não saiba nem mesmo o Papa, no sentido de que o pontífice não tem na mente ideias abstratas a serem aplicadas na realidade, plasmando-a de acordo com própria visão. Na verdade, o Papa prossegue passo a passo, fazendo discernimento sobre a história, acompanhando os processos em andamento na Igreja, obviamente em relação à vida do mundo. Isto significa que a coisa mais importante para ele é acompanhar o que está acontecendo e considerar o processo de reforma como uma reforma a partir de dentro. Certamente, um fator evidente é que hoje a Igreja está muito ligada, em seu desenvolvimento, às Igrejas mais jovens, e está mudando a perspectiva, a visão. A profecia presente na vida das Igrejas mais jovens está entrando plenamente na vida cotidiana da Igreja, através de seus representantes das sedes mais centrais."

O que existe de Santo Inácio e São Francisco no pontificado do Papa Bergoglio?

Pe. Spadaro: "O Papa Bergoglio se formou radicalmente na espiritualidade inaciana desde a juventude. O seu modo de agir, ver e considerar a realidade está absolutamente ligado a esta espiritualidade. É uma espiritualidade obviamente evangélica, que aponta para a presença do Senhor no mundo. Não é uma espiritualidade otimista, o Papa não gosta desse termo, mas certamente muito cheia de esperança. Isto significa que, para o Papa, o Senhor age no mundo e nós devemos reconhecer a sua presença. Este é o discernimento. Eu diria antes de tudo um pontificado de discernimento sobre como o Senhor está se movendo no mundo. Neste sentido, é profundamente inaciano e jesuíta, e também franciscano no sentido mais inaciano do termo, porque a espiritualidade franciscana é vivida dentro da espiritualidade inaciana. Isso leva o Papa a ter uma enorme atenção pela pobreza e essencialidade, mas há também outra dimensão muito presente em São Francisco que é a da reconstrução. Sabemos bem que o sonho que marcou profundamente a vida de São Francisco foi o da reconstrução da Igreja, da presença, no mundo, de ruínas. Esta imagem de hospital de campo, de situações em que é necessária a reconstrução, está muito presente no pontificado de Francisco."

Em abril, haverá a canonização de João XXIII e João Paulo II. Depois, em maio, a viagem apostólica à Terra Santa, e em agosto, a visita apostólica à Coreia do Sul, por ocasião da sexta Jornada da Juventude Asiática. O que liga, em sua opinião, esses três eventos aparentemente diferentes?

Pe. Spadaro: "O encontro é a categoria chave do Pontificado de Francisco. Há o encontro com a história, com as grandes figuras do passado recente. É interessante esta combinação de dois pontífices, grandes de maneira muito diferentes entre eles. Depois, há o encontro com a realidade do Oriente Médio, extremamente problemática, e depois o grande encontro com a Coreia, que significa o encontro com a juventude do continente asiático que hoje é um continente de grande energia, grande potencial para a vida da Igreja."

O Papa Francisco encontrou alguma dificuldade, a seu ver, neste primeiro ano de pontificado?

Pe. Spadaro: "Provavelmente, as dificuldades foram muitas, mas o que me marcou e eu disse a ele durante a entrevista que fiz em agosto, foi que o Papa está ciente dos problemas, mas vive serenamente. Ele sente uma grande paz interior que o faz se sentir bem e lhe permite enfrentar todas as dificuldades com muita simplicidade e com grande prontidão. Talvez a novidade de seu estilo para alguns pode criar algumas dificuldades, mas ele ao invés quer ser uma figura de vida evangélica."

Se o entrevistasse novamente, amanhã cedo, o que pediria ao Papa?

Pe. Spadaro: "Não sei, porque estar com ele, entrevistá-lo, foi uma grande experiência espiritual, completamente aberta. Eu começaria a partir daquilo que ele quer dizer. Isso seria para mim a coisa mais interessante." (MJ)







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