Exercícios espirituais do Papa e da Cúria Romana - 3º dia de pregação
Prosseguem na Casa do Divino Mestre, em Arricia, arredores de Roma, os exercícios
espirituais do Santo Padre e dos membros da Cúria Romana. Na sua pregação de ontem,
o Padre Ângelo De Donatis retomando o tema da relação entre as obras do ser humano
e a graça de Deus, disse que a pessoa humana é como uma romã, no seio da qual estão
juntas muitas pequenas sementes carnosas, tantos quantos são os elementos da criação.
Deus pô-las juntas numa amalgama, sobre a qual difundiu depois o sopro da vida. Com
esta imagem do fruto maduro e compacto, o pregador quis transmitir a ideia da beleza
da criatura humana, uma beleza que – disse – está, porém, destinada a desfazer-se
se se impedir artificiosamente ao sopro de Deus (isto é ao seu amor misericordioso
que ele nos dá) de penetrar em profundidade no nosso ser. Acontece, então, que cada
uma daquelas pequenas sementes, levada pela vontade de auto-afirmação, procure expandir-se
num confronto despótico com as outras, até provocar a explosão e, portanto, a desintegração
do fruto. Uma metáfora que o P. Donatis usou para explicar o efeito do mal que
se apodera da pessoa humana. E referindo-se ao duelo entre Jesus e Satanás, narrado
no Evangelho de São Marcos, disse que Jesus afastou o demónio e libertou o homem a
fim de que ele pudesse chegar ao amor misericordioso de Deus. Mas para chegar
a este amor – advertiu – precisamos da ajuda do Espírito Santo. Sem ele seria uma
empresa impossível. Não são as nossas obras que nos levam a Deus, mas o amor em Cristo.
Devemos reconhecer que somos simplesmente “pecadores perdoados”, salvos pela graça
de Deus. É preciso, portanto libertar-nos da tentação de ter sempre que fazer algo,
esquecendo que fomos salvos gratuitamente. Hoje – prossegui o pregador – é muito difusa
esta sede de aparência mediante as nossas obras. Mas a “verdadeira boa obra” é Cristo. Uma
boa parte da pastoral – frisou – está hoje centrado “num esforço pelo fazer, quando
na realidade deveria ser fruto do Espírito. Estamos demasiado habituados a fazer projectos
e a pedir ao Senhor para fazer com que a missão não corra mal. É indispensável mudar
esta perspectiva – insistiu o P. De Donatis dizendo que devemos cavar, deitar a semente,
regar, e por fim virá o grão. Desta forma, concluiu, os frutos da fé nascerão realmente
do encontro com Deus.
Fotos: momentos do retiro em Arriccia - o Papa sentado
no meio dos outros participantes no retiro