Cidade do Vaticano
(RV) - O Papa Francisco não se cansa de chamar a atenção dos jovens, mas também
daqueles que são responsáveis pelo seu futuro. Nos dias passados, quando recebeu no
Vaticano os membros da Pontifícia Comissão para a América Latina, voltou a insistir
no cuidado das crianças e dos jovens. Recordamos que a América Latina, em sua grande
maioria é formada por jovens que vivem o presente com o olhar e esperança no futuro.
Nas suas palavras improvisadas, Francisco recordou um ensinamento básico que educar
não é somente transmitir conhecimento. E neste ensimamento colocou a transmissão da
fé. Sim porque se a mesma for feita unicamente através da passagem de conteúdos, será
superficial ou ideológica. A fé não terá raízes se não for acompanhada de comportamentos
e de valores.
Nesta transmissão é necessário criar o hábito de uma conduta
para favorecer a acolhida de valores. E o Papa citou então três pilares para essa
transmissão: utopia, memória e discernimento. Chama a atenção esses pilares, essa
visão do Papa que vai buscar no seu passado como pastor em Buenos Aires a inspiração
para chamar a nossa atenção para o que podemos e devemos fazer pelos nossos jovens.
A utopia, que para muitos pode parecer negativa, no sentido de algo irrealizável,
é evidenciada como um projeto, uma riqueza para o jovem, pois “um jovem sem utopia
é um velho precoce”. A utopia olha para o futuro.
No que diz respeito à memória
e ao discernimento o Papa afirma que a memória olha para o passado e o discernimento
é o presente. O jovem deve receber a memória e plantar as raízes da sua utopia nesta
memória; e assim discernir no presente a sua utopia. Discernir no presente, analisar
a situação, é já estar projetando o futuro.
O Papa Francisco traz o seu pensamento
para o momento em que vivemos, para a nossa sociedade que está se acostumando com
vários vícios e criando novas culturas, como a “cultura do descarte”. Em muitas ocasiões
falou da especificidade da sociedade moderna em deixar de lado, de cancelar, excluir
aqueles que não produzem, aqueles que “somente consomem”, que são vistos como empecilhos
para o desenvolvimento. Tudo sintetizado num pensamento econômico.
Mas nesta
cultura do descarte também o jovem é atingido, pois no centro “está o deus dinheiro
e não a pessoa humana”. Portanto, tudo aquilo que não entra nesta ordem, se descarta.
“Descartam-se as crianças que sofrem, que incomodam e que não convém que nasçam, descartam-se
os idosos. Hoje também os jovens fazem parte deste material de descarte. Assim, o
jovem que se encontra sem trabalho – mal dos nossos tempos - “anestesia a sua utopia”.
A utopia de um jovem cheio de entusiasmo está cada vez mais se transformando em desencanto.
E o convite do Papa: “é preciso dar fé e esperança aos jovens desencantados.Creio
que ninguém tem dúvida de que o Papa que veio “do fim do mundo” agrada aos jovens
do mundo inteiro, sejam eles católicos ou não. Isso pudemos constatar no Rio de Janeiro,
no ano passado, durante a JMJ. O coro foi uníssono: “ele é um de nós”.
A juventude
não vê no Santo Padre um Super-homem, uma estrela de cinema, alguém que está recitando
a sua parte como um ator, mas sim alguém que está como eles, e se sentem fascinados
pela sua simplicidade, pelos seus gestos e palavras. É alguém que apesar da idade,
como um avô, os compreende, mas ao mesmo tempo é exigente, chama a atenção para as
armadilhas do mundo, do provisório, exorta a buscar o que permanece, o que é essencial
para a vida.
Francisco insiste sempre com os jovens para que busquem a fé como
um antídoto para combater “o veneno do vazio”, da não utopia, do ter em detrimento
do ser, do consumismo. Os jovens são sensíveis aos apelos do Papa e aos seus chamados
a conservarem valores. O Santo Padre não se poupa em reafirmar que é absurdo basear
a própria felicidade nas coisas materiais, no ter. “A verdadeira riqueza, - diz -
é o amor de Deus partilhado com os nossos irmãos”. (Silvonei José)