Padre - homem de misericórdia e compaixão, como Jesus: Papa aos padres de Roma
“O padre é homem
de misericórdia e compaixão”, como o bom samaritano, como Jesus o bom pastor. “O padre
está chamado a ter um coração que se comove”. “Não ajudam a Igreja os padres assépticos”.
Palavras sentidas e vigorosas pronunciadas pelo Papa Francisco, nesta quinta-feira
de manhã, no tradicional encontro de início da Quaresma com os padres da sua diocese
de Roma. O Papa insistiu que “em toda a Igreja, este é o tempo da misericórdia.
E recordou a intuição do Beato João Paulo II, ao canonizar no ano 2000 a Irmã Faustina
Kowalska, instituindo também a festa da Divina Misericórdia. Mensagens que nos foram
deixadas e que vale a pena retomar. “Toca-nos, como ministros da Igreja – sublinhou
– manter viva esta mensagem, sobretudo na pregação e nos gestos, nos sinais, nas opções
pastorais”. Que significa “misericórdia”, para um padre? – interrogou-se o Papa,
que convidou a aprender de Jesus, que se comovia ao ver o povo disperso e desalentado. “Jesus
tem as vísceras de Deus: está cheio de ternura
para com as pessoas, especialmente para com os excluídos, os pecadores, os doentes…
Assim também, à imagem do Bom Pastor, o padre é homem de misericórdia
e de compaixão, próximo da sua gente e servidor de todos. Quem quer que se encontre
ferido na própria vida, de qualquer modo que seja, pode nele encontrar atenção e escuta…”
Esta
atitude há-de se ver especialmente no sacramento da Reconciliação, no modo de acolher,
escutar, aconselhar, absolver… Aliás, fez notar o Papa Francisco, isto depende do
modo como cada um vive por si mesmo este sacramento, o modo “como se deixa abraçar
por Deus na Confissão e permanece dentro deste abraço. Quem vive isto no seu coração,
pode também dá-lo aos outros no ministério.
“O padre está chamado a aprender
isto, a ter um coração que se comove. Os padres assépticos,
os padres de laboratório, não ajudam a Igreja”.
A
Igreja pode ser pensada como um “hospital de campanha”. É preciso curar as feridas.
“Há
tanta gente ferida, por problemas materiais, pelos escândalos, mesmo dentro da Igreja…
Gente ferida pelas ilusões do mundo… Nós padres temos que estar ali, junto das pessoas.
Misericórdia significa antes de mais curar as feridas.”
O Padre interpelou
directamente os seus padres de Roma, perguntando-lhes se conhecem mesmo as feridas
dos seus paroquianos, se estão perto deles.
E concluiu voltando à questão do
exercício do Sacramento da Reconciliação. Não se trata de ser laxista ou rigorista.
“A verdadeira misericórdia toma a seu cargo a pessoa, escuta-a atentamente, aborda
com respeito e com verdade a situação, acompanha-a no caminho de reconciliação. Comporta-se
como o Bom Samaritano. O seu coração é capaz de compaixão, como o de Cristo.
Neste
contexto, o Papa referiu o “sofrimento pastoral, que é uma forma de misericórdia”.
Significa “sofrer por e com as pessoas, como um pai e uma mãe sofrem pelos filhos”.
E dirigiu aos padres de Roma algumas perguntas interpeladoras:
“Choras
pelo teu povo? Fazes oração de intercessão diante do Santíssimo? Lutas com o Senhor
a favor do teu povo, como fez Abraão?”
Aludindo uma vez mais ao Bom
Samaritano, o Papa concluiu exortando os padres de Roma a “não terem vergonha da carne
do irmão”. “No final dos tempos, será admitido a contemplar a carne glorificada
de Cristo só quem não tiver tido vergonha da carne do seu irmão ferido e excluído”.