Rio de Janeiro (RV) - Quando iniciamos a Quaresma, na Quarta-feira de Cinzas
recebendo-as sobre as nossas cabeças como sinal de reconhecimento do nosso pecado
e a necessidade de conversão, a Palavra de Deus nos lembrava do jejum, esmola e a
oração (Mt 6, 1-6.16-18). “Quando jejuares perfuma a cabeça e lava o rosto... e o
teu Pai que vê o que está escondido, te dará a recompensa. Encontramos também
Jesus lembrando que “quando o esposo for tirado, então jejuarão”, na clara alusão
tanto à Sexta-feira Santa, como também à nossa separação d’Ele pelo pecado.
Sim,
oração, jejum, esmola, lectio divina, confissão e tantas outras práticas quaresmais
se juntam ao tema da Campanha da Fraternidade, neste ano sobre o Tráfico Humano para
nos ajudar a vivenciar a nossa vida cristã e renová-la neste tempo favorável.
O
apelo de Cristo visa a nossa mudança interior, à transformação de nossas vidas, à
conversão do coração e à conversão e à penitência interior, reorientando nossa vida
para Deus e rompendo com o pecado. É a busca de acolher o coração novo! Para isso
as atitudes de reconciliação, cuidado dos necessitados, confissão de nossas faltas,
revisão de vida e outras atitudes nos ajudam, assim como algumas atitudes que fazem
o nosso corpo também participar dessa renovação espiritual.
Somos chamados
a sempre buscar uma vida de conversão, e, para isso, ao acolher a graça de Deus ter
também práticas de ascese que nos ajudem nessa caminhada. “O Cristão é, de modos e
formas diferentes, asceta e místico, virtuoso e espiritual ao mesmo tempo, operante
por capacidade própria e dirigido pelo influxo do Espírito do Ressuscitado. Com esse
princípio, a vida cristã propõe também uma ascese que se funda na caridade, em virtude
da qual o cristão renuncia a tudo o que impede de tender à perfeição evangélica.”
A
caminhada quaresmal conduz-nos a renovar a vida cristã, que no fundo é uma busca de
recolocar-nos no caminho da santidade, atitude que deve ser constante, mas que recebe
um incremento especial neste tempo favorável. “O aspecto mais sublime da dignidade
humana consiste em sua vocação para a comunhão com Deus. Desde o seu nascimento o
homem é convidado ao diálogo com Deus.” (GS, 19)
É nesse contexto que a Igreja
propõe como um dos seus mandamentos “Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a
Santa Mãe Igreja” (CIC 2043), contribuindo para nos ajudar a preparar para as festas
litúrgicas e a adquirir domínio sobre nossos instintos e a liberdade de coração.
A
Igreja convida-nos, durante o tempo da Quaresma e depois também todas as sextas-feiras
do ano (em memória da Sexta-feira Santa) a termos momentos fortes de prática penitencial.
O
Diretório Litúrgico da Igreja no Brasil resume a questão do Jejum e Abstinência lembrando
que estão obrigados à abstinência os maiores de quatorze anos de idade e ao jejum
os que estão entre os dezoito e os sessenta anos. E ainda aí nos recorda: dias de
penitência são todas as sextas-feiras do ano, que pode ser com abstinência de carne
ou outro alimento, ou ainda alguma outra forma, como obra de caridade ou exercício
de piedade.
Dias de Jejum e Abstinência são apenas a Quarta-feira de Cinzas
e a Sexta-feira Santa. E também aqui “a abstinência pode ser substituída pelos próprios
fiéis por outra prática de penitência, caridade ou piedade, particularmente pela participação
nesses dias na Sagrada Liturgia.”
Parece muito pouco o que a Igreja nos pede
para tão grandes resultados, mas a intenção é que, dentro de uma orientação bastante
aberta, possamos andar no caminho sincero de conversão, como, aliás, é o espírito
dessa norma, pois lembra, à luz dos documentos, que mesmo os que não estão sujeitos
a essas práticas, sejam formados no sentido genuíno da vida em conversão.
Somos
convidados a levar a sério este tempo que se abriu par anos refazendo o caminho do
Êxodo e estando unidos a Cristo viver esses abençoados 40 dias de renovação interior,
de vida de conversão para chegarmos purificado e renovados à Páscoa da Ressurreição,
quando, no sábado santo, iremos solenemente renovar os nossos compromissos batismais. Uma
Santa Quaresma para todos nós.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist. Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ