Entrevista do Papa ao "Corriere della Sera": alguns temas e aspetos mais salientes
do primeiro ano de pontificado
A um ano do início do pontificado, o Papa Francisco evoca estes doze meses, numa entrevista
hoje publicada pelo quotidiano “Il Corriere della Sera”, em que sublinha aspetos salientes
do seu magistério e da vida da Igreja, assim como decisões que tomou sobre a Cúria
Romana e as suas relações com o Papa emérito. Precisamente sobre Bento XVI, Papa
Francisco observa que “não é uma peça de museu, é uma instituição”, “não estávamos
habituados e porventura virá a haver outros”. “Conjuntamente decidimos que participasse
na vida Igreja” – declara Papa Francisco. “A sua sabedoria é um dom de Deus”. No
que diz respeito à sua maneira pessoal de agir, o Papa confessa que “gosta de estar
no meio das pessoas”, “não me agradam interpretações ideológicas”. Considerar o Papa
como “uma espécie de super-homem” parece–lhe ofensivo: o Papa é um “homem normal”.
À pergunta “o Papa é um homem só?”, responde: “Sim e não. No seus trabalho, recebe
o apoio e conselho de muitas pessoas, mas há um momento, quando se trata de decidir,
em que está só com o seu sentido de responsabilidade”. Na entrevista são abordados
alguns temas fortes, a começar pelos abusos de menores. “Feridas profundíssimas” –
diz o Papa. “A Igreja percorreu um longo caminho, na via aberta por Bento XVI, mais
do que outros. “É porventura a única instituição pública a ter agido com transparência
e responsabilidade” e contudo – sublinha – “é a única a ser atacada”. Relativamente
aos divorciados, o pontífice reafirma que qualquer decisão que venha a ser tomada
será fruto de uma profunda reflexão. O matrimónio é entre um homem e uma mulher e
as uniões civis são pactos de convivência de diversa natureza. “Há que ver os casos
concretos e avaliá-los na sua variedade”. Sobre o lugar da mulher na Igreja e
a sua promoção, o Papa reafirma que não só “pode e deve estar mais presente nos lugares
de decisão”, mas acrescenta que há que pensar que a Igreja “é feminina desde as suas
origens”, guiada pelo princípio mariano lado a lado com o princípio petrino. Está
em curso na Igreja o aprofundamento teológico sobre a questão. Interpelado sobre o
controlo dos nascimentos, observa que a doutrina da igreja não muda, mas há que ver
as coisas de modo aprofundado. Sobre os chamados “valores não negociáveis”, declara
não compreender que sentido tenha a expressão: “os valores são valores, e basta”.
Finalmente, algumas referências ecuménicas e internacionais. Com a China, há relações
– declara Papa Bergoglio, referindo uma troca de cartas com o presidente Xi Jinping.
Sobre a hipótese de que, na próxima viagem à Terra Santa, em maio, se pudesse chegar
a um acordo de inter-comunhão com os Ortodoxos, o Papa afirma: “Estamos todos impacientes
de obter resultados, mas o caminho da unidade quer dizer sobretudo caminhar e trabalhar
conjuntamente”.