Rio de Janeiro - (RV) - Tenho experimentado em meu coração grande disposição
de continuar reconhecendo a ação de Deus em minha vida e com toda a minha vida poder
dar graças ao Senhor por tantos dons imerecidos. Convido a todos os amigos a se unirem
a mim nesses momentos de ação de graças. Neste final de semana iremos iniciar
o ano de preparação para a festa dos 450 anos da cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro, quando celebraremos também os 60 anos do único Congresso Eucarístico Internacional
no Brasil, até agora, ocorrido no Rio de Janeiro. Tempos comprometedores que nos conduzem
a oferecer à cidade o nosso grande presente, que é uma cidade mais justa e mais humana,
que leve seus habitantes a viverem o “amor ao próximo” como Cristo nos ensinou. Estamos
às vésperas de iniciar a Quaresma e a Campanha da Fraternidade. Já tivemos ocasião
de escrever sobre os dois assuntos e o faremos também nas semanas seguintes. Convido
a todos para iniciarmos bem esse belo tempo de conversão. A Arquidiocese (e toda
a Igreja no Brasil) se prepara para viver dias intensos de retiros espirituais espalhados
por todos os vicariatos, reunindo pessoas que aproveitam os dias feriados para um
tempo de oração, recolhimento e alegria sadia. Ao nosso redor os grupos se multiplicam,
procurando um tempo de divertimento e às vezes com exageros. Por toda a cidade encontramos
as diversas manifestações. Até o do ciclista solitário pelas ruas do centro, com cartazes
contra esse tempo da “despedida da carne”. Encontrarmos também as várias manifestações
de pessoas querendo mais direitos e dignidade e outros grupos ainda com finalidade
obscura, fazendo violências e justificando com a violência que sofrem a cada dia.
A Arquidiocese vive o Ano da Caridade e acreditamos que “só o amor constrói”.
E quando este se compromete com o próximo todas as situações, mesmo as mais complexas,
adquirem outra conotação, como vimos ocorrer durante a JMJ Rio 2013. O mundo continua
em ebulição e busca de sentidos para a vida do ser humano. As violências e as guerras
comprovam que o homem ainda não aprendeu a conviver um com o outro. A busca de outro
planeta habitável, que ainda não acharam, demonstra a necessidade de olhar para fora,
tentando encontrar caminhos de explicação para si mesmo. Por enquanto, este planeta
é o único que podemos habitar e somos chamados a viver uns com os outros, mas infelizmente
ainda não aprendemos a fazê-lo. Os progressos na comunicação, ciências, transportes,
medicina, pesquisas – tão importantes e que têm transformado a biosfera –, no entanto,
não transformaram o coração das pessoas. É dentro desse contexto que o Papa Francisco
me chamou para integrar o grupo restrito de cardeais, que tem o grave e importante
encargo de estar próximo do pastor de mais de um bilhão de católicos e líder mundial
com influência importantíssima no mundo de hoje. A participação no consistório
extraordinário e as celebrações no consistório público foram de uma experiência marcante,
seja pela espiritualidade, seja pela universalidade que se respira nesse ambiente.
Foi um grande dom poder participar desses momentos. O primeiro grupo de cardeais criados
pelo Papa Francisco nos compromete ainda mais em seus trabalhos de renovação da estrutura
da Igreja, no diálogo com a sociedade, com a busca da paz e fraternidade, com o final
da fome no mundo, com a preocupação com os refugiados e com a busca do essencial na
procura da conversão que nos leve à santidade. A data escolhida – Cátedra de São
Pedro – demonstra a necessidade de unidade com aquele que nos confirma na fé e, ao
mesmo tempo, nos convida a ser testemunhas do grande anúncio que é a pedra que Pedro
pronunciou: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. As celebrações do Te Deum
no Colégio Pio Brasileiro, da missa nas catacumbas de São Sebastião, a de acolhida
aqui na Catedral do Rio de Janeiro e as visitas à Paróquia que me foi dada como título
de Cardeal Presbítero de Nossa Senhora, mãe da Providência em Roma, à casa das Irmãs
da Madre Tereza em Bonsucesso à chegada ao RJ, assim como a acolhida dos cumprimentos
tanto na Sala Paulo VI em Roma, como aqui dos funcionários do Edifício João Paulo
II, das pessoas que espontaneamente vieram ao São Joaquim, das autoridades convidadas
para o São Joaquim ou no Palácio das Laranjeiras foram oportunidades de agradecer
a todos pelo carinho e pelas orações. Sei que uma grande missão como essa que recebo
só terei capacidade de realizá-la se for com a intercessão de todos. Saliento a
oportunidade de me sentir unido e agraciado com as presenças nessas várias ocasiões,
tanto em Roma como no Rio de Janeiro, de comunidades cristãs diversas e outras religiões
que enviaram seus representantes. Assim como a abertura das pessoas de boa vontade
que querem a transformação da sociedade. Agora, nos próximos meses, terei oportunidade
de visitar obras sociais específicas em cada vicariato, sinalizando que, neste Ano
da Caridade, esta missão precisa ser intensificada em nossa Arquidiocese. Para isso,
entreguei a carta pastoral “Amar, unir, servir”, a qual peço a todos para que reflitam
e divulguem. O trabalho, agora aumentado, também continua. E, é claro, necessito da
compreensão de todos para poder acolher todas as necessidades que existem em nossa
Arquidiocese. E, assim, levar as pessoas a acolherem a salvação em Cristo Jesus. A
cada um dos que enviaram cumprimentos, seja pelos meios eletrônicos (internet, e-mail,
torpedos, aplicativos), por carta, cartões, telegramas ou mensagem de voz por telefone
– meus agradecimentos sinceros e meu pedido de orações. A todos os que espontaneamente
foram até Roma participar dessa peregrinação o meu afeto sincero, assim como os que
estiveram presentes nas várias celebrações aqui no Rio de Janeiro. Pessoas de tantos
lugares diferentes e mesmo dos vários grupos italianos que foram manifestar sua fraternidade
e compromisso de orações. Terei também a oportunidade de celebrar em alguns locais
aqui no Brasil que fazem parte de minha vida e minha história e rever pessoas que
partilharam dessa caminhada. Esses momentos têm sido oportunidades de gratidão
e louvor a Deus. Penso que tudo isso deve ser para a maior glória de Deus e a um compromisso
ainda mais com o “sentir com a Igreja”. Sei da grande responsabilidade que pesa sobre
os meus ombros, mas, como disse na celebração em nossa catedral: essa dimensão universal
deve ser vivida por todos nós. Ao mesmo tempo, de certa forma, todos que se sentiram
nomeados junto comigo estarão espiritualmente em nossas viagens e decisões a serem
tomadas ou aconselhadas. Diante de um mundo complexo e que nos influencia localmente,
a missão universal a que fui chamado me compromete ainda mais na busca da santidade,
e pedindo ao Senhor perdão dos meus pecados e o dom da sabedoria para poder levar
adiante essa missão. O acolhimento e a alegria de todos que me cumprimentam comovem-me
e me fazem ainda mais comprometer-me no caminhar com todo o povo de Deus! Não é à
toa que o Papa Francisco me falou que “somos todos ladrões porque roubamos o seu coração”!
Essa característica do nosso povo é linda e, por isso, peço a Deus que possa ser mais
difundida e contagiar ainda mais a todos na procura de viver “amando-nos uns aos outros”,
como Jesus nos pede no Evangelho. Com estas palavras simples, profundas e comprometedoras
do “amor ao próximo”, olho com esperança para o horizonte vasto e, em unidade com
o Papa Francisco, caminhamos à procura de um mundo mais justo e fraterno. †
Orani João Cardeal Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião
do Rio de Janeiro, RJEM TUDO DAI GRAÇAS