2014-02-24 14:54:52

Congregação das Irmãs do Bom Pastor já tem uma casa para mulheres e meninas em dificuldades no Burkina Faso - Irmã Yvonne Bambara


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A Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor que já tem cerca de quatro séculos de história e está presente nos cinco continentes tem, desde 2011, um Centro em Bobo Dioulasso, segunda cidade do Burkina-Faso. Ali acolhem mulheres e meninas em dificuldades.
Das actividades que desenvolvem juntamente com elas e do espírito que as anima, nos falou há poucos dias a irmã Yvonne Bambara, que passou recentemente pela Rádio Vaticano juntamente com a irmã Rita Lourenço Luís, angolana. Com elas veio também Andrea Curreri, italiano, com vários anos de vida em África, e que as ajuda na angariação de fundos para as actividades da Congregação.

Oiças as suas palavras na rubrica "África.Vozes Femininas" e leia a seguir a entrevista com a irmã:


Irmã Yvonne, muito bem-vinda à rubrica “África.Vozes Femininas”. A irmã Rita Lourenço Luís, angolana, que representa a África na Casa generalícia da vossa Congregação já nos ilustrou a história da vossa congregação, o vosso carisma, que é o de cuidar de mulheres e crianças em dificuldades, e as actividades que tendes em várias partes do mundo, nomeadamente em Angola e Moçambique. Mas sabemos que a Congregação está agora presente também no seu país, o Burkina-Faso. Quer-nos falar disto?


O Burkina Faso é uma das novas fundações da Congregação. Fomos fundadas em 2011; trabalhamos a favor de mulheres e crianças em dificuldades, e no Burkina Faso temos um Centro de Acolhimento para Mulheres. Acolhemos mulheres que saem da prisão em regime de liberdade provisória e ficam no nosso centro até terminarem a pena; temos também mulheres e meninas que são excluídas das famílias devido à gravidez precoce. Em determinadas etnias do pai, quando uma menina fica grávida sem ser casada, não pode permanecer na própria família, é expulsa. Então, nós acolhemo-las até a criança nascer e, depois, fazemos a mediação para as integrar de novo nas próprias famílias. Temos também muitas meninas que vêm das aldeia porque foram obrigadas a casar-se com pessoas muito mais velhas do que elas; são, portanto, vitimas de casamentos precoces e forçados. Então, fogem da aldeia para escaparem a esses matrimónios e ficam desorientadas sem saber para onde ir. Antes, muitas meninas vagueavam pelas ruas e acabavam por cair na prostituição. Mas graças ao nosso Centro, as meninas que fogem do matrimónio precoce vêm para Bobo e são acolhidas no nosso Centro. Procuramos encontrar trabalho para elas e formá-las.
Há também as que são vitimas do tráfico humano, de abuso sexual, empregadas domésticas... acolhemo-las também e empreendemos acções a seu favor em parceria com o Ministério da Acção Social e quando há situações deste tipo, assinalam-no-las, e trabalhamos também em conjunto para procurar encontrar soluções para elas.”

Porque é que começaram por Bobo Dioulasso que é a segunda cidade do país e não pela capital, Ouagadougou, onde imagino haja muitas situações desta natureza?


Bem é preciso começar por algum lado. Houve vários pedidos à Congregação da parte dos bispos do Burkina-Faso, mas escolheu-se Bobo talvez porque o pedido era mais antigo e também pelo facto de, a nível de Ouagadougou, a Congregação achou que já havia outras estruturas que cuidavam das mulheres em dificuldades e em Bobo faltava isso.”

E quantas irmãs é que vocês são lá?


Ah, somos realmente poucas, somos três religiosas (uma indiana e duas do Burkina Faso mais duas candidatas. Na realidade somos cinco a trabalhar no terreno”.

Três anos de trabalho, que balanço já fazem deste longo caminho que contais fazer com as mulheres do pais?

Nestes três anos de presença temos trabalhado no sentido de dar uma certa visibilidade... temos trabalhado com organismos como o Ministério da Acção Social, de que falei antes, e que é um parceiro importante; trabalhamos também com “Terres de Homes”, e pudemos criar esse Centro de Acolhimento que é já muito conhecido a nível de Bobo Dioulasso e acho que isto é muito importante; um centro ao qual as pessoas se referem e começam a conhecer a nossa missão... e em três anos já acolhemos 26 meninas que vieram e que acharam realmente um novo impulso para a própria vida. Acho que isto é importante. Em três anos já formamos 65 mulheres em tecelagem, costura, tintura biológica, que no Burkina Faso é chamado “Borolan”, e estabelecemos dois grupos de micro-crédito (20 mulheres já beneficiaram disso) e já começamos a construção dum restaurante com uma ala de formação em cozinha e pastelaria... Portanto, os projectos estão lá, e creio que temos já um boa visibilidade a nível do Burkina Faso.

A irmã Rita falava do fenómeno das crianças acusadas de feitiçaria em Angola e sabemos que este fenómeno existe também no Burkina Faso. Tenho ouvido falar de mulheres acusadas de feitiçaria. Tendes contacto com este problema, tencionais enfrentá-lo também?

No Burkina-Faso a acusação de feitiçaria diz respeito sobretudo a mulheres idosas; geralmente, as crianças não são consideradas feiticeiras. E de qualquer maneira, a nível de Bobo Dioulasso este problema não existe. Diz respeito sobretudo ao plateau central, entre os mossi, no centro do país. Em Bobo não. Se estivéssemos em Ouagadougou ou mais ao centro do país, de certeza nos ocuparíamos disso. Mas de momento não, não estamos confrontados com o problema da feitiçaria”.

Os serviços que ofereceis já e que nos descreveu correspondem aos desejos das mulheres e das meninas, ou vos pedem alguma outra coisa?


Quando lá chegamos partimos das necessidades de meio ambiente. É verdade que estabelecemos um centro de acolhimento para mulheres e meninas em dificuldades, algo que faz parte do nosso carisma e da nossa missa. Mas, para além disso, tratava-se realmente duma necessidade do meio. Eu sou burkinabé, nasci em Bobo Dioulasso e conheço o meio. Vemos que estes projectos que empreendemos respondem realmente às necessidades da população, porque não havia nenhum centro semelhante em Bobo para acolher mulheres e crianças em dificuldades, meninas que estão na rua. Há centros para acolher rapazes à noite, mas as raparigas tinham de se encontrar em bares ou em casas de passagem para pernoitarem. Não havia estruturas para acolher meninas em dificuldades. Podemos, portant, dizer que é uma necessidade local. E a nível das outras necessidades também. Primeiro debatemos com as mulheres, ouvimos as suas preocupações e necessidades a nível de micro-crédito.... cada uma vinha com um pedido de ajuda e dizia: “emprestai-me dinheiro para iniciar um pequeno comercio”, ou então “quero reforçar o meu comercio”... então dissemos, “não podemos dar uma resposta individual”. E dissemos-lhes, “formai um grupo e nós vos ajudaremos segundo as nossas possibilidades.” Então formaram dois grupos e nós ajudamos esses dois grupos. Podemos, portanto, dizer que partimos das necessidades do meio.
A nível da tecelagem, tintura e costura, elas tinham realmente necessidade de formação, de satisfazer e melhorar o que já sabiam… Então, estabelecemos estes três tipos de formação para as capacitar nesses domínios. Posso, portanto, dizer que partimos das necessidades do meio e que colocamos a nossa pedra na edificação das necessidades da mulher”.

Então, de momento vão só reforçar esses projectos a que já deram inicio, ou vão dar vida a outros novos?


Sim, vamos continuar neste domínio, mas temos outros projectos sobretudo o estabelecimento dum jardim de infância, porque como sabemos o Burkina Faso tem muitas dificuldades a nível da educação, estamos muito atrasados em relação a outros países da África... então, é preciso dar aos país o gosto de pôr os filhos na escola e às crianças o gosto do estudo já desde pequenos. Esta é uma das nossas preocupações: estabelecer um jardim de infância”.

Há algo mais de que nos quer falar, irmã?

Não tenho nada de particular, apenas agradecer por me ter convidado a partilhar as nossas preocupações. Estamos abertos para quem quiser saber mais ... e convidamos a passar por Bobo Dioulasso e pela casa das irmãs do Bom Pastor. Estamos na paróquia da Catedral”.

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