Congregação das Irmãs do Bom Pastor já tem uma casa para mulheres e meninas em dificuldades
no Burkina Faso - Irmã Yvonne Bambara
A Congregação
das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor que já tem cerca de quatro séculos
de história e está presente nos cinco continentes tem, desde 2011, um Centro em Bobo
Dioulasso, segunda cidade do Burkina-Faso. Ali acolhem mulheres e meninas em dificuldades.
Das actividades que desenvolvem juntamente com elas e do espírito que as anima,
nos falou há poucos dias a irmã Yvonne Bambara, que passou recentemente pela
Rádio Vaticano juntamente com a irmã Rita Lourenço Luís, angolana. Com elas veio também
Andrea Curreri, italiano, com vários anos de vida em África, e que as ajuda
na angariação de fundos para as actividades da Congregação.
Oiças as suas
palavras na rubrica "África.Vozes Femininas" e leia a seguir a entrevista com a irmã:
Irmã Yvonne, muito bem-vinda à rubrica “África.Vozes Femininas”. A
irmã Rita Lourenço Luís, angolana, que representa a África na Casa generalícia da
vossa Congregação já nos ilustrou a história da vossa congregação, o vosso carisma,
que é o de cuidar de mulheres e crianças em dificuldades, e as actividades que tendes
em várias partes do mundo, nomeadamente em Angola e Moçambique. Mas sabemos que a
Congregação está agora presente também no seu país, o Burkina-Faso. Quer-nos falar
disto?
“O Burkina Faso é uma das novas fundações da
Congregação. Fomos fundadas em 2011; trabalhamos a favor de mulheres e crianças em
dificuldades, e no Burkina Faso temos um Centro de Acolhimento para Mulheres. Acolhemos
mulheres que saem da prisão em regime de liberdade provisória e ficam no nosso centro
até terminarem a pena; temos também mulheres e meninas que são excluídas das famílias
devido à gravidez precoce. Em determinadas etnias do pai, quando uma menina fica
grávida sem ser casada, não pode permanecer na própria família, é expulsa. Então,
nós acolhemo-las até a criança nascer e, depois, fazemos a mediação para as integrar
de novo nas próprias famílias. Temos também muitas meninas que vêm das aldeia porque
foram obrigadas a casar-se com pessoas muito mais velhas do que elas; são, portanto,
vitimas de casamentos precoces e forçados. Então, fogem da aldeia para escaparem a
esses matrimónios e ficam desorientadas sem saber para onde ir. Antes, muitas meninas
vagueavam pelas ruas e acabavam por cair na prostituição. Mas graças ao nosso Centro,
as meninas que fogem do matrimónio precoce vêm para Bobo e são acolhidas no nosso
Centro. Procuramos encontrar trabalho para elas e formá-las. Há
também as que são vitimas do tráfico humano, de abuso sexual, empregadas domésticas...
acolhemo-las também e empreendemos acções a seu favor em parceria com o Ministério
da Acção Social e quando há situações deste tipo, assinalam-no-las, e trabalhamos
também em conjunto para procurar encontrar soluções para elas.”
Porque
é que começaram por Bobo Dioulasso que é a segunda cidade do país e não pela capital,
Ouagadougou, onde imagino haja muitas situações desta natureza?
“Bem
é preciso começar por algum lado. Houve vários pedidos à Congregação da parte dos
bispos do Burkina-Faso, mas escolheu-se Bobo talvez porque o pedido era mais antigo
e também pelo facto de, a nível de Ouagadougou, a Congregação achou que já havia outras
estruturas que cuidavam das mulheres em dificuldades e em Bobo faltava isso.”
E
quantas irmãs é que vocês são lá?
“Ah, somos realmente
poucas, somos três religiosas (uma indiana e duas do Burkina Faso mais duas candidatas.
Na realidade somos cinco a trabalhar no terreno”.
Três anos de
trabalho, que balanço já fazem deste longo caminho que contais fazer com as mulheres
do pais?
“Nestes três anos de presença temos trabalhado no sentido
de dar uma certa visibilidade... temos trabalhado com organismos como o Ministério
da Acção Social, de que falei antes, e que é um parceiro importante; trabalhamos também
com “Terres de Homes”, e pudemos criar esse Centro de Acolhimento que é já muito conhecido
a nível de Bobo Dioulasso e acho que isto é muito importante; um centro ao qual as
pessoas se referem e começam a conhecer a nossa missão... e em três anos já acolhemos
26 meninas que vieram e que acharam realmente um novo impulso para a própria vida.
Acho que isto é importante. Em três anos já formamos 65 mulheres em tecelagem, costura,
tintura biológica, que no Burkina Faso é chamado “Borolan”, e estabelecemos dois
grupos de micro-crédito (20 mulheres já beneficiaram disso) e já começamos a construção
dum restaurante com uma ala de formação em cozinha e pastelaria... Portanto, os projectos
estão lá, e creio que temos já um boa visibilidade a nível do Burkina Faso.”
A irmã Rita falava do fenómeno das crianças acusadas de feitiçaria em Angola
e sabemos que este fenómeno existe também noBurkina Faso. Tenho ouvido falar
de mulheres acusadas de feitiçaria. Tendes contacto com este problema, tencionais
enfrentá-lo também?
“No Burkina-Faso a acusação de feitiçaria diz
respeito sobretudo a mulheres idosas; geralmente, as crianças não são consideradas
feiticeiras. E de qualquer maneira, a nível de Bobo Dioulasso este problema não existe.
Diz respeito sobretudo ao plateau central, entre os mossi, no centro do país. Em Bobo
não. Se estivéssemos em Ouagadougou ou mais ao centro do país, de certeza nos ocuparíamos
disso. Mas de momento não, não estamos confrontados com o problema da feitiçaria”.
Os serviços que ofereceis já e que nos descreveu correspondem aos desejos
das mulheres e das meninas, ou vos pedem alguma outra coisa?
“Quando
lá chegamos partimos das necessidades de meio ambiente. É verdade que estabelecemos
um centro de acolhimento para mulheres e meninas em dificuldades, algo que faz parte
do nosso carisma e da nossa missa. Mas, para além disso, tratava-se realmente duma
necessidade do meio. Eu sou burkinabé, nasci em Bobo Dioulasso e conheço o meio. Vemos
que estes projectos que empreendemos respondem realmente às necessidades da população,
porque não havia nenhum centro semelhante em Bobo para acolher mulheres e crianças
em dificuldades, meninas que estão na rua. Há centros para acolher rapazes à noite,
mas as raparigas tinham de se encontrar em bares ou em casas de passagem para pernoitarem.
Não havia estruturas para acolher meninas em dificuldades. Podemos, portant, dizer
que é uma necessidade local. E a nível das outras necessidades também. Primeiro debatemos
com as mulheres, ouvimos as suas preocupações e necessidades a nível de micro-crédito....
cada uma vinha com um pedido de ajuda e dizia: “emprestai-me dinheiro para iniciar
um pequeno comercio”, ou então “quero reforçar o meu comercio”... então dissemos,
“não podemos dar uma resposta individual”. E dissemos-lhes, “formai um grupo e nós
vos ajudaremos segundo as nossas possibilidades.” Então formaram dois grupos e nós
ajudamos esses dois grupos. Podemos, portanto, dizer que partimos das necessidades
do meio. A nível da tecelagem, tintura e costura, elas tinham realmente
necessidade de formação, de satisfazer e melhorar o que já sabiam… Então, estabelecemos
estes três tipos de formação para as capacitar nesses domínios. Posso, portanto, dizer
que partimos das necessidades do meio e que colocamos a nossa pedra na edificação
das necessidades da mulher”.
Então, de momento vão só reforçar
esses projectos a que já deram inicio, ou vão dar vida a outros novos?
“Sim,
vamos continuar neste domínio, mas temos outros projectos sobretudo o estabelecimento
dum jardim de infância, porque como sabemos o Burkina Faso tem muitas dificuldades
a nível da educação, estamos muito atrasados em relação a outros países da África...
então, é preciso dar aos país o gosto de pôr os filhos na escola e às crianças o
gosto do estudo já desde pequenos. Esta é uma das nossas preocupações: estabelecer
um jardim de infância”.
Há algo mais de que nos quer falar, irmã? “Não
tenho nada de particular, apenas agradecer por me ter convidado a partilhar as nossas
preocupações. Estamos abertos para quem quiser saber mais ... e convidamos a passar
por Bobo Dioulasso e pela casa das irmãs do Bom Pastor. Estamos na paróquia da Catedral”.